Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar avançou frente ao real nesta segunda-feira, com novas tensões entre governo e Banco Central e mais acenos da administração Luiz Inácio Lula da Silva à expansão fiscal afastando investidores do risco, em meio ainda a temores sobre a trajetória de aperto monetário do Federal Reserve.

A moeda norte-americana à vista fechou em alta de 0,57%, a 5,1749 reais na venda, nível de encerramento mais alto desde 23 de janeiro (5,1993).

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Segundo Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora, investidores se mostraram desconfortáveis com novas críticas do governo ao Banco Central, depois que Lula classificou nesta segunda-feira de “vergonha” a explicação do Comitê de Política Monetária (Copom) para o atual patamar da taxa de juros e pediu que a classe empresarial e a sociedade reclamem do nível da taxa Selic.

Lula e membros de sua administração têm criticado de forma recorrente a taxa de juros elevada, atualmente em 13,75%, e a independência do BC. Uma Selic alta beneficia o real ao torná-lo atraente para estratégias de investimento que lucram com diferenciais de juros entre economias, mas tende a restringir a atividade econômica, o que joga contra a agenda desenvolvimentista do governo.

O mercado, por outro lado, teme uma postura mais leniente do governo com a inflação, com a avaliação de que a escalada de preços também é um obstáculo ao crescimento da economia.

A pauta fiscal também colaborou para a cautela no mercado doméstico nesta segunda-feira, depois de duas fontes terem dito no sábado que o governo Lula estuda aumentar a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos este ano.

Uma isenção mais ampla representaria uma renúncia de receita muito maior em um momento em que a equipe econômica busca reduzir o forte déficit primário esperado para 2023 e sinalizar disciplina fiscal.

A valorização do dólar frente ao real também veio em linha com o fortalecimento da divisa no exterior frente à maioria de seus pares, diante da redução de esperanças de que o banco central dos Estados Unidos poderia encerrar seu atual ciclo de aperto monetário com juros abaixo de 5% na esteira de dados de sexta-feira que mostraram forte abertura de vagas de trabalho no país.

Após a divulgação do relatório de emprego norte-americano, o Citi disse em relatório que cortou sua exposição a risco no mercado de câmbio da América Latina.

“Neste estágio, a narrativa dominante do ano de um pico iminente do Fed provavelmente está em risco… Apostas vendidas em dólar têm sido uma estratégia de consenso maior do que o retorno de taxas (dos EUA)… Com a virada da narrativa do mercado, as posições existentes estão em risco”, disse o banco norte-americano.

No entanto, ainda há algum otimismo em relação à performance do real, depois de na semana passada o dólar ter chegado a ir abaixo de 5,00 pela primeira vez desde junho do ano passado.

“Embora muito disso reflita o ambiente de risco mais amplo e o aumento do apetite por carrego no câmbio de mercados emergentes em geral, também reflete a manutenção da postura dura do Copom”, disse o Goldman Sachs em relatório recente sobre o breve tombo da divisa norte-americana para abaixo de 5.

“O Brasil apresenta um ‘ciclo virtuoso’ no qual o real provavelmente se beneficiará do aumento das taxas reais (uma vez que a inflação continua caindo enquanto os juros nominais são mantidos elevados) e no qual as taxas locais provavelmente se beneficiarão de um real resiliente”, acrescentou o banco no documento.

Por outro lado, o Goldman Sachs alertou que “riscos permanecem na frente fiscal, é claro, e um passo em falso significativo da política fiscal ainda pode ofuscar o ambiente macro, num geral, favorável ao câmbio no Brasil”.

O credor privado melhorou suas projeções para o patamar da moeda brasileira dentro de três, seis e doze meses para 4,90, 4,85 e 4,80 por dólar, respectivamente. Sob cenário anterior, o Goldman Sachs esperava taxas de câmbio de 5,20, 5,20 e 5,00 para cada período.

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