18/07/2024 - 17:41
O dólar emplacou nesta quinta-feira,18, a segunda sessão consecutiva de forte alta no Brasil, de 10 centavos de real, com as cotações impactadas pelo receio de que o governo Lula não cumpra a meta fiscal e pelo avanço firme da moeda norte-americana também no exterior, em um dia de pressão para os países emergentes.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,5887 na venda, em alta de 1,89%. Em dois dias a divisa saltou 2,94%, ou o equivalente a 16 centavos de real.
Às 17h07, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,77%, a R$ 5,5955 na venda.
O Ibovespa caiu mais de 1% nesta quinta-feira, em meio a uma conjuntura de fatores que costumam refletir negativamente no índice, incluindo queda nas ações em Nova York, declínio dos futuros do petróleo e minério de ferro, além de preocupações em relação ao quadro fiscal doméstico.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa fechou em queda de 1,39%, a 127.652,06 pontos, perto da mínima da sessão, de 127.522,81 pontos. Na máxima, chegou a 129.453,81 pontos. O volume financeiro somava R$ 20,59 bilhões.
O dólar no dia
O mercado de câmbio brasileiro recebeu novamente um estímulo duplo para a alta do dólar.
Em primeiro lugar, a moeda norte-americana também tinha fortes ganhos ante outras divisas de emergentes e exportadores no exterior, com real, peso chileno, peso mexicano e peso colombiano liderando a lista de maiores perdas globais.
Em segundo lugar, os investidores se mantinham cautelosos com a aproximação do dia 22 de julho, quando o governo apresentará seu Relatório Bimestral de Receitas e Despesas com a definição sobre quanto será preciso contingenciar no Orçamento para cumprir a meta de resultado primário zero deste ano.
Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que o mercado teme que o governo anuncie um contingenciamento abaixo do necessário para cumprir o arcabouço fiscal — cifra estimada por especialistas em pelo menos R$ 10 bilhões, com alguns cálculos apontando para ajustes maiores.
Além do contingenciamento, o mercado aguarda os detalhes sobre como se darão os cortes de 25,9 bilhões de reais em despesas do Orçamento para 2025, anunciados pelo governo há algumas semanas. Como parte destes cortes pode recair já sobre as contas de 2024, algum detalhamento pode surgir no dia 22.
“A alta do dólar ante o real se deve um pouco ao que a gente vê lá fora e muito ao que vemos aqui dentro”, comentou durante a tarde Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.
“A preocupação de que o governo não segure os gastos faz o mercado empurrar o dólar antes do dia 22. Assim, dependendo do que for anunciado (no dia 22), o dólar pode devolver (os ganhos dos últimos dias) ou subir ainda mais”, acrescentou.
A Junta de Execução Orçamentária, que inclui Haddad e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, iniciou sua reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perto de 16h15. No mercado, não se descartava a possibilidade de que algo concreto pudesse ser anunciado após as discussões, que miram justamente a divulgação do relatório e do contingenciamento no dia 22.
Sem novidades concretas por ora, ainda reverberavam nas mesas as declarações mais recentes de Lula sobre o fiscal, na terça-feira, quando afirmou que o governo não é obrigado a cumprir a meta fiscal “se você tiver coisas mais importantes para fazer”.
Neste cenário, o dólar à vista subiu de forma relativamente contínua ao longo do dia, da mínima de R$ 5,4803 (-0,09%) às 9h01, pouco depois da abertura, à máxima de R$ 5,5903 (+1,92%) às 16h56, pouco antes do fechamento.
No fim da tarde o dólar subia de forma generalizada no exterior, sendo que o real e suas divisas pares eram as mais pressionadas.
Às 17h25 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,49%, a 104,180.
O dia do Ibovespa
“Não tem ‘trigger’ positivo, esse é o ponto”, observou o analista Matheus Nascimento, da Levante Inside Corp. “O (ambiente) interno já está desafiador o suficiente, com o principal ponto sendo o fiscal, e lá fora hoje foi um dia também de realização.”
O governo manteve em 2,5% a projeção para o crescimento econômico do Brasil em 2024, mas piorou a expectativa para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 de 2,8% para 2,6%, conforme boletim divulgado nesta quinta-feira.
O documento também apontou uma deterioração na visão do governo para a inflação, com a projeção para o IPCA indo a 3,9% para 2024, ante previsão de 3,7% feita em maio. Para 2025, houve ajuste de 3,2% para 3,3%, mostrando afastamento da meta de 3%.
Para o head de research Régis Chinchila, da Terra Investimentos, “o mercado permanece cético em relação à situação fiscal, especialmente à espera do relatório de receitas e despesas, com preocupações adicionais devido ao ambiente desfavorável para moedas emergentes no exterior”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participava nesta quinta-feira de reunião da Junta de Execução Orçamentária (JEO) com integrantes de sua equipe econômica para avaliar possíveis bloqueios nas despesas no ano, a fim de cumprir a meta fiscal.
Nos Estados Unidos, as bolsas reverteram ganhos de mais cedo e encerraram em queda, com investidores se afastando de ações de crescimento de megacaps de alto preço, enquanto a temporada de balanços do segundo trimestre ganha força naquele país. O S&P, índice de referência, caiu 0,78%.
No mercado de dívida, o rendimento do título de 10 anos do Tesouro norte-americano marcava 4,196% no final da tarde, de 4,146% na véspera.
DESTAQUES
– VALE ON desvalorizou-se 0,94%, em mais um dia de fraqueza nos futuros do minério de ferro, com o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) encerrando as negociações do dia com queda de 0,9%, a 811,5 iuans (111,86 dólares) a tonelada.
– PETROBRAS PN caiu 0,18%, leve recuperação em relação à mínima da sessão, quando chegou a cair mais de 0,6%, em meio à tendência de queda nos preços do petróleo no exterior ao longo do pregão. No final da tarde, os futuros do Brent e do petróleo West Texas Intermediate (WTI) dos EUA fecharam estáveis.
– EMBRAER ON subiu 1,48%, uma das poucas ações positivas no índice, após queda nos dois pregões anteriores. No mês, o papel acumula alta de mais de 13%. Na próxima semana começa o Farnborough Airshow, onde os fabricantes de aviões costumam anunciar grandes pedidos. A Embraer prevê entregar 72 a 80 aeronaves comerciais este ano, acima das 64 entregues no ano passado, e 125 a 135 jatos executivos, contra 115 em 2023.
– WEG ON avançou 0,74%, sexto pregão seguido de alta. Analistas do Itaú BBA destacaram em relatório perspectiva de manutenção de margens elevadas para a companhia no resultado do segundo trimestre. “Também notamos a reavaliação da valorização da WEG e de seus pares, que acreditamos ser em grande parte atribuível à sua exposição à inteligência artificial. Além disso, o sentimento atual dos investidores de adicionar nomes defensivos ao portfólio também beneficia a ação”, acrescentaram.
– AZUL PN despencou 7,87%, conforme setores sensíveis à economia, sucumbiam ao avanço das taxas futuras de juros em meio aos receios de que o governo Lula não alcance o contingenciamento de despesas necessário para atingir a meta fiscal de 2024. No caso da aérea, o avanço do dólar ante o real foi mais um componente desfavorável.
– MARFRIG ON afundou 9,08%, JBS ON perdeu 2,45%, BRF ON perdeu 7,88% e MINERVA ON recuou 4,49%, em meio a notícias do primeiro caso de doença de Newcastle em ave no Brasil desde 2006. O governo federal confirmou na noite de quarta-feira que uma amostra testou positivo para a doença viral, dizendo que veio de uma granja de aves comerciais em Anta Gorda, município no Rio Grande do Sul.
– BRADESCO PN caiu 1,88%, enquanto ITAÚ UNIBANCO PN fechou com variação negativa de 0,47%. BANCO DO BRASIL ON recuou 0,44% e BTG PACTUAL UNIT, que anunciou mais cedo a compra da empresa de comércio exterior Sertrading, teve declínio de 2,46%.
– SABESP ON perdeu 1,42%, a 82,02 reais, em dia de precificação da oferta de ações da companhia de saneamento do Estado de São Paulo. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, deu 24 horas para que o governo estadual e órgãos vinculados à gestão paulista deem explicações sobre o processo de privatização da Sabesp, além de determinar que a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Procuradoria-Geral da República se posicionem sobre o tema no mesmo prazo.