06/06/2024 - 14:36
O dólar bateu R$ 5,30 durante a manhã desta quarta-feira, 6. Analistas apontam que fatores geopolíticos, o cenário econômico dos Estados Unidos e o risco fiscal brasileiro foram os principais motivos para a alta.
“Israel, a questão Rússia e Ucrânia, que ninguém mais comenta, mas tem uma escalada, incertezas entre China e Taiwan”, enumera Enrico Cozzolino, head de Análise na Levante, sobre a tensão internacional.
+Dólar chega a superar marca de R$ 5,30, mas muda de direção e passa a cair
Estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz lembra que no começo do ano o mercado esperava sete cortes de juros nos EUA. Agora, espera um ou dois. “Essa mudança fortaleceu o dólar não só contra o real, como frente a várias moedas do mundo.”
Com os juros mais altos nos Estados Unidos, muitos investidores preferem investir no país norte-americano do que apostar em outras moedas mais arriscadas. “É recurso de país emergente indo para lá”, explica o head de Banking e Câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto.
Já no cenário interno, Alexandre Viotto aponta que o principal fator de deterioração do real é uma questão fiscal. “O mercado tem dúvidas de que a meta será alcançada, de que tenha superávit primário neste ano ou no ano que vem.”
Cruz aponta que a regra fiscal passou por mudanças menos de um ano após sua aprovação. Além disso, a divisão na diretoria do Banco Central registrada na última ata do Copom e a aproximação da mudança de seu presidente, abre a possibilidade de que o órgão, a partir de 2025, seria um pouco mais leniente com a inflação, buscando mais o topo do que o centro da meta.”
Enrico Cozzolino, da Levante, chama atenção para o modo como o crescimento do PIB apresentado recentemente foi acompanhado pela alta da dívida. “É uma adição de riqueza, mas talvez não sustentável no longo prazo, e no segundo trimestre será pior por conta da tragédia ambiental no Rio Grande do Sul.”
O dólar vai voltar a cair?
O último Boletim Focus, relatório semanal do Banco Central que reúne projeções do mercado financeiro, aponta para o dólar a R$ 5,05 em dezembro. Contudo, o economista Alexandre Viott avalia que esse patamar possa ser difícil de alcançar.
Viotto aponta que as eleições nos EUA deste ano podem mexer com o valor das commodities e com o próprio dólar. Ele destaca que também há dúvidas sobre se a inflação naquele país vai cair para que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, passe então a cortar os juros.
Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), julga que a projoeção do Focus está acertada. “Acredito que em torno de setembro já comece a ficar abaixo de R$ 5,25”, afirma.
“A gente tem que acompanhar como vai ser a decisão de juros aqui no brasil e no exterior”, destaca Gustavo Cruz. O analista lembra que em agosto serão divulgados dados dos EUA que darão sinais sobre o futuro dos juros. “Se eles colocarem dois cortes talvez o dólar perca força e o real se fortaleça, ou eles coloquem só um [corte], e aí o dólar se fortaleça”, diz Cruz.
E quem vai viajar ao exterior?
Os economistas consultados pela reportagem de IstoÉ Dinheiro concordam que a moeda dos EUA deve passar por um momento de alta, para então estabilizar, antes da possibilidade de começar a cair de novo.
Por isso, para quem vai viajar ao exterior em breve e ainda não comprou dólares, pode ser um pouco tarde para fugir da alta. Quem for comprar a moeda agora, vai arcar com o valor mais alto.
Mas os especialistas dizem que é possível reduzir o impacto da alta com uma estratégia de “preço médio”. Como o valor gasto é registrado na fatura do cartão de crédito com a cotação do dia da compra, a ideia é que o montante previsto para ser gasto durante a viagem seja diluído em várias compras realizadas ao longo dos dias. “Assim não fica suscetível a uma semana mais valorizada”, diz Cruz.
Para viagens no final do ano, a estratégia é ainda mais recomendada pois pode ser feita ao longo de vários meses, como aponta Alexandre Viotto. “É praticamente impossível você acertar a cotação do dólar lá na frente, então a melhor alternativa é fazer preço médio a partir do momento em que a pessoa fechou a viagem.”