O dólar ampliava as perdas do dia nesta quinta-feira, 5, depois que um relato de um telefonema entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder da China, Xi Jinping, fomentou o apetite por moedas de país emergentes, na esteira do avanço dos preços do petróleo no exterior.

Os investidores também avaliavam dados da maior economia do mundo, que reforçaram a percepção de desaceleração no mercado de trabalho.

Às 13h48, o dólar à vista caía 0,91%, a R$ 5,587 na venda. Veja cotações.

A agência de notícias estatal chinesa Xinhua informou mais cedo que Xi e Trump conversaram nesta quinta a pedido do presidente dos EUA, o que elevava a expectativa de que as duas maiores economias do mundo possam chegar a um entendimento para resolver o impasse comercial.

A ligação ocorre após uma troca de acusações nos últimos dias entre Washington e Pequim sobre o suposto descumprimento de uma trégua comercial acordada em Genebra no mês passado. A Casa Branca vinha sinalizando que uma conversa entre os líderes poderia ocorrer nesta semana.

A notícia foi bem recebida em mercados emergentes, que têm relações comerciais profundas com a China e são sensíveis ao desempenho da economia chinesa, impulsionando divisas como o real, o rand sul-africano e o peso chileno.

Os preços do petróleo, importante produto da pauta exportadora de muitos emergentes, também disparavam diante da expectativa de que o telefonema possa ajudar a arrefecer as tensões comerciais.

“(A conversa) ajuda no otimismo de investidores de que os dois países vão manter uma trégua comercial e não vão voltar a aplicar níveis proibitivos de tarifas… isso está favorecendo o desempenho de commodities e de moedas de países exportadores de produtos primários mais ligados à China”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

O dólar atingiu a mínima da sessão, a R$ 5,5898 (-0,98%), às 10h41, conforme investidores digeriam a notícia sobre a ligação.

A semana tem sido marcada ainda pela percepção de que a política comercial errática dos EUA está começando a prejudicar a economia norte-americana, com uma série de dados econômicos para o mês de maio apresentando resultados mais fracos do que o esperado, acirrando as preocupações de investidores.

Na véspera, um relatório da ADP sobre o setor privado mostrou que foram criados muito menos vagas de emprego do que o esperado em maio, enquanto uma pesquisa do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) revelou que o setor de serviços teve contração no mês passado.

Com isso, as atenções se voltavam novamente nesta sessão para dados dos EUA, com o governo informando mais cedo que os pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram para 247.000 na última semana, acima dos 235.000 pedidos projetados em pesquisa da Reuters.

Os temores de que os EUA serão os principais prejudicados da guerra comercial de Trump têm gerado a fraqueza do dólar no exterior, com a moeda norte-americana rondando os menores patamares em vários anos e impulsionando divisas de países emergentes.

O foco dos mercados estará agora em torno da divulgação do relatório de emprego do governo, na sexta-feira.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,31%, a 98,490.

Também estava no radar a mais recente decisão de política monetário do Banco Central Europeu, que voltou a reduzir a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 2,0%.

Cena local

No Brasil, entretanto, os ganhos potenciais do real têm sido contidos com novas preocupações sobre o cenário fiscal brasileiro, conforme governo e Congresso discutem alternativas para o decreto do Executivo que elevou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que propostas serão apresentadas para lideranças partidárias em reunião no domingo.

Pesquisas recentes que reforçam a tendência de aumento da desaprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda têm levantado temores de que o governo possa apostar em medidas de impulso fiscal para melhorar a imagem do governante.

“A queda na aprovação cria um pequeno temor no mercado de que isso possa ser acompanhado com medidas que aumentam os gastos”, disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos. “Mas hoje o dia tende a ser mais tranquilo.”