Por Andre Romani

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar recuou nesta terça-feira ante o real, em movimento ajudado por sinalizações do governo a uma reforma tributária e notícias sobre a pauta fiscal, bem como suporte do cenário externo.

O dólar à vista caiu 0,85%, a 5,1048 reais na venda. Na mínima do dia, cedeu 1,01% (5,0963) e, na máxima, subiu 0,20% (5,1590).

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Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, foram bem recebidas pelos agentes financeiros e ajudaram no fortalecimento do real nesta sessão.

Haddad disse pela manhã que o governo busca aprovar a reforma de tributos que incidem sobre o consumo ainda neste semestre. Na segunda metade do ano, a ideia é votar a reforma do Imposto de Renda, segundo ele.

O ministro também afirmou, segundo relatos da imprensa, que um novo arcabouço fiscal será apresentado no máximo até abril.

Para Maurício Nakahodo, economista sênior do Banco MUFG Brasil, as falas mostram “forte intenção em promover algum ajuste fiscal, algum ajuste nas contas públicas”. No que tange à aprovação de uma reforma tributária, Nakahodo disse que a pauta “vem amadurecendo ao longo do tempo e há uma expectativa favorável”.

Agentes do mercado ponderaram, entretanto, que, apesar da reação positiva às falas de Haddad, trata-se ainda apenas de discursos, sendo necessário esperar por avanços mais práticos.

Além disso, questionam se há falta de alinhamento interno no governo em relação às medidas econômicas, em especial fiscais. Isso porque, na véspera, o dólar avançou 0,80% frente ao real, influenciado por notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia elevar o salário mínimo acima dos 1.320 reais prometidos. À Reuters, o Ministério da Fazenda manteve posição de que o valor ficará em 1.302 reais, como proposto pelo governo anterior e que já está em vigor.

“Precisamos acompanhar esse movimento entre essas duas alas (econômica e política)”, disse Nakahodo, observando que divergências entre esses grupos ocorreram em outros governos, inclusive no último.

Operadores também seguem apontando para entrada de recursos vindos do exterior, diante do diferencial de juros do Brasil em relação a outros mercados, –o que tende a tornar o país mais atrativo–, sinalizações de menor inflação nos Estados Unidos e alta de preços de commodities.

“Estamos tendo algum fluxo aqui para a bolsa”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

O desempenho do dólar localmente foi na mesma direção de perdas da moeda norte-americana frente a outros pares emergentes, como o peso mexicano, e a algumas divisas fortes, incluindo a libra.

A terça-feira foi de reabertura dos mercados norte-americanos após feriado que havia limitado a liquidez dos negócios na véspera.

Ainda assim, o dólar operava próximo da estabilidade ante uma cesta de moedas fortes no exterior.

O destaque no cenário externo ficou por conta da China, que divulgou Produto Interno Bruto (PIB), vendas no varejo e produção industrial acima do esperado pelo mercado, ainda que os dados tenham escancarado a desaceleração econômica no país em meio a incertezas, incluindo sobre a Covid-19.

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