O dólar recuava ante o real nesta quarta-feira, 20, um dia após disparar mais de 1%, conforme os investidores continuam monitorando o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos, enquanto no exterior cresce a expectativa pelo simpósio econômico do Federal Reserve (Fed) em Jackson Hole.

Às 10h38, o dólar à vista caía 0,46%, a R$ 5,474 na venda. Já o Ibovespa operava em alta de 0,08%, aos 134.536,34 pontos, após cair mais de 2% na véspera. Veja cotações.

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Os movimentos do real nesta sessão variavam em uma faixa estreita, com a maior parte do forte ganho da moeda norte-americana na véspera sendo mantida, uma vez que o mercado segue receoso com a percepção de agravamento nas tensões diplomáticas e comerciais entre Brasil e EUA.

Na visão da equipe da Ágora Investimentos, ainda que o Ibovespa já tenha caído bastante na véspera, o cenário externo “não sugere que hoje será um dia de ajustes positivos por aqui, especialmente se considerarmos as incertezas e indefinições que rondam o cenário político e diplomático (no Brasil)”.

Decisão de Flávio Dino

Em particular, os agentes financeiros ficaram preocupados com uma decisão judicial do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou na segunda-feira que cidadãos brasileiros não podem ser afetados em território nacional por leis estrangeiras relacionadas a atos cometidos no Brasil.

A decisão de Dino não dizia respeito diretamente à disputa entre Brasil e EUA, mas, na prática, indicou que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, não pode sofrer as consequências da imposição por Washington de sanções econômicas com base na Lei Magnitsky.

O governo norte-americano tem mirado Moraes por acusá-lo de autorizar prisões arbitrárias e suprimir a liberdade de expressão. O ministro é o relator do julgamento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado.

Quando anunciou a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros no mês passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, vinculou a ameaça, entre outros pontos, justamente à suposta “caça às bruxas” de que Bolsonaro seria vítima.

Enquanto o governo brasileiro tenta negociar com os EUA, o mercado viu a decisão de Dino como um novo entrave às conversas, assim como uma possível razão para uma resposta mais dura do lado norte-americano. Investidores temem que a reação possa impactar bancos que não cumprirem as determinações das sanções.

“O dia vai ser pautado novamente pela decisão do ministro Flávio Dino, que repercutiu negativamente. Já havia incerteza fiscal e monetária no país, agora há uma incerteza jurídica, o que é muito negativo”, disse Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

“O investidor acaba redobrando a cautela com essas incertezas e (a situação) acaba escalando a tensão entre o Brasil e o governo Trump”, completou.

Simpósio do Fed

No cenário externo, o sentimento de cautela tem prevalecido durante toda a semana, à medida que os agentes financeiros aguardam o discurso do chair do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira, no simpósio de Jackson Hole, organizado pelo próprio banco central dos EUA.

Operadores têm precificado uma alta chance de o Fed retomar os cortes na taxa de juros no próximo mês, segundo dados da LSEG. Uma fala de Powell mais agressiva no combate à inflação, entretanto, poderia alterar as projeções.

Dados econômicos recentes, com destaque para um relatório de inflação ao produtor, indicaram que as tarifas comerciais de Trump podem estar começando a impactar a economia dos EUA, podendo provocar tanto preços mais altos como uma desaceleração econômica.

Para divisas emergentes, havia um apoio neste pregão dos preços mais altos do petróleo, que têm demonstrado enorme volatilidade na esteira das discussões pelo fim da guerra na Ucrânia.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,19%, a 98,137.