Na abertura de mercado desta quinta-feira, 8, o dólar recua e o Ibovespa sobe após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na véspera, que elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual (p.p.).

+Após decisão do Copom, mercado debate se ciclo de altas da Selic chegou ao fim

Por volta das 14h30, o Ibovespa avançava 2,81% aos 137.143 pontos enquanto o dólar recuava 1,22% a R$ 5,67.

Os movimentos do real nesta sessão refletiam um cenário de maior apetite por risco no exterior, após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que anunciará mais tarde um acordo tarifário com o Reino Unido, o primeiro desde que embarcou em uma série de negociações comerciais com seus parceiros.

Trump, que concederá coletiva de imprensa sobre o assunto às 11h (horário de Brasília), disse nesta quinta que o acordo com o Reino Unido será “completo e abrangente” e que “consolidará o relacionamento entre os EUA e o Reino Unido por muitos anos”.

A notícia reforçava o otimismo cauteloso dos mercados em relação à política tarifária norte-americana ao longo desta semana. Na terça-feira, EUA e China relataram que suas autoridades se reunirão neste fim de semana na Suíça a fim de reduzir as tensões comerciais.

“Real está… refletindo o ambiente de maior otimismo e apetite por riscos no mercado internacional, principalmente porque a Casa Branca fará uma coletiva de imprensa para divulgar um acordo comercial com o Reino Unido”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Isso tem favorecido as esperanças dos investidores de que talvez as tensões comerciais possam começar a ser reduzidas daqui para frente, com a possibilidade de acordos”, completou.

Já a bolsa de valores sobe com forte influência das ações do Bradesco, que saltam 13,6% após a divulgação de resultados do banco. A companhia anotou um lucro líquido recorrente de R$ 5,86 bilhões no período, superando com folga as expectativas do consenso, que mirava R$ 5,3 bilhões de lucro.

“O principal fator por trás da melhoria da lucratividade foi o NII de clientes, que cresceu 15% na base anual, refletindo uma originação de empréstimos mais forte com um mix mais saudável e custos de financiamento mais baixos. As receitas de fees e de seguros também tiveram um bom desempenho, aumentando 10% e 30% na base anual, respectivamente”, avaliam os analistas da XP, Matheus Guimarães e Bernardo Guttmann.

A casa ainda destaca que a qualidade dos ativos permaneceu sob controle, com um ligeiro aumento de 10p.p. na base trimestral nos NPLs acima de 90 dias, para 4,1% – o que ocorreu principalmente em razão das grandes empresas, enquanto as carteiras de PMEs e de varejo apresentaram melhora e estabilidade.

Decisão do Copom não surpreendeu, mas postura sobre o futuro ‘mudou significativamente’

Acerca da decisão do Copom, a decisão de elevação da Selic para 14,75% veio em linha com as projeções da maioria dos analistas.

Segundo Thomas Gibertoni , sócio e gestor de patrimônio da Portofino Multi Family Office, a decisão do comitê reflete um cenário de elevada incerteza, tanto no cenário externo – com destaque para as políticas comerciais dos Estados Unidos – quanto no doméstico, especialmente em relação aos rumos da política fiscal.

“Diante desse contexto, o Copom adotou um tom cauteloso, optando por aguardar os efeitos cumulativos do atual ciclo de alta de juros, a divulgação de novos indicadores econômicos e os desdobramentos das medidas comerciais internacionais antes de definir os próximos passos”, observa.

O especialista frisa que o Copom não descarta novas altas de juros, todavia também não assume compromisso com elevações imediatas.

“Se novos ajustes forem necessários, a próxima reunião (em maio) deve ser pulada, com eventuais movimentos ficando para julho em diante, dependendo da evolução dos dados.”

Mayara Rodrigues, Analista de Renda Fixa da XP, avalia que a decisão do Copom em si não surpreendeu, mas o que ‘mudou significativamente’ foi o posicionamento do comitê daqui em diante. A visão da casa é de que o Copom adotou um tom mais cauteloso e uma postura de ‘esperar para ver’, sem sinalizar claramente qual será a próxima decisão.

“O Copom não deixou explícito como enxerga o balanço de riscos – normalmente indica se está assimétrico ou não, sugerindo maior risco que o comum – demonstrando maior cautela em suas sinalizações. Por outro lado, o comitê foi enfático ao reafirmar a necessidade de manutenção de uma política monetária contracionista por período prolongado, o que se traduz em taxa Selic elevada por bastante tempo, porém provavelmente com ritmos de alta menores nas próximas reuniões”, avalia.

“Com base nessa nova sinalização, consideramos que pode ficar algo um pouco abaixo disso, mais próximo de 15%. Estamos refazendo nossas análises internas para definir o número com maior precisão”, completa.