Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou em forte queda nesta quinta-feira, pressionado por algum otimismo externo na esteira de balanços empresariais fortes nos Estados Unidos e da renúncia da primeira-ministra do Reino Unido, enquanto, no Brasil, o acirramento da disputa eleitoral forneceu impulso adicional ao real.

A divisa norte-americana à vista perdeu 1,11%, a 5,2168 reais na venda, maior depreciação diária desde o tombo de 4,025% registrado no último dia 3 e menor cotação para encerramento desde segunda-feira da semana passada (5,1921).

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Na B3, às 17:01 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,01%, a 5,2285 reais.

Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, disse que o anúncio da saída da premiê britânica Liz Truss foi responsável, em parte, pelo enfraquecimento do dólar no Brasil e no mundo nesta sessão.

Truss, líder já sem credibilidade aos olhos dos mercados financeiros, renunciou nesta quinta-feira depois de apenas seis semanas no poder. Ela foi derrubada por seu programa econômico de corte de impostos, que abalou os mercados e dividiu seu Partido Conservador.

“Com o fim desse período turbulento, os mercados respiram um pouco aliviados, embora não seja possível definir ainda o que ocorrerá no Reino Unido. Assim, o real se beneficia desse movimento de otimismo”, disse Mattos.

No noticiário externo, investidores também apontaram balanços melhores do que o esperado de algumas empresas norte-americanas como fator de sustentação para movimentos de procura por risco.

Já na cena doméstica, pesquisa Datafolha publicada na quarta-feira mostrou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 49% das intenções de voto –mesmo patamar da sondagem anterior– e Jair Bolsonaro (PL) com 45% –variação positiva de 1 ponto. Como a margem de erro do levantamento é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, o petista e o candidato à reeleição estão em empate técnico.

“Não apenas o Datafolha, como a esmagadora maioria de outros institutos captaram um leve acréscimo nas intenções de voto de Jair Bolsonaro, indicando uma clara tendência de acirramento na disputa presidencial”, avaliou a Levante Investimentos em relatório. “O clima deve trazer algum otimismo para os mercados no curto prazo, que descartam, a princípio, um descolamento de Lula frente ao seu adversário.”

Investidores acreditam que uma eleição mais disputada poderia forçar tanto Lula quanto Bolsonaro a moderar seus discursos e buscar alianças mais ao centro, o que é visto com bons olhos pela maioria dos mercados.

Ao mesmo tempo, o cenário econômico doméstico continua sendo apontado como um grande suporte para o real.

“O Brasil está na contramão do mundo: tem uma inflação que está desacelerando, chegou no final do ciclo de alta de juros e tem uma atividade econômica que tem trazido bons resultados, surpreendido positivamente”, disse à Reuters Rafael Perez, economista da Suno Research.

Ainda assim, ele alertou para a manutenção de temores internacionais, conforme a inflação elevada nas principais economias segue forçando os bancos centrais a apertar suas respectivas políticas monetárias, mesmo em meio a temores de recessão.

Segundo o economista, frente aos cenários externo e interno conflitantes, a tendência é de que os catalisadores do mercado de câmbio local se alternem entre a cautela global e o relativo otimismo em relação à economia brasileira, com o dólar devendo encerrar este ano não muito distante dos níveis atuais, entre 5,20 e 5,30 reais.