22/01/2025 - 12:34
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar despencava mais de 1,5% frente ao real nesta quarta-feira, recuando abaixo dos 5,95 reais, à medida que os investidores desfaziam posições defensivas no mercado e digeriam a possibidade de uma política comercial mais branda do que a esperado anteriormente pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Às 12h20, o dólar à vista caía 1,54%, a 5,9386 reais na venda, apenas a segunda vez no ano em que a moeda norte-americana recuou abaixo de 6,00 reais.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía -1,41%, a 5,951.5 reais na venda.
Por mais uma sessão, os investidores continuam concentrados em notícias vindas da maior economia do mundo, onde Trump iniciou seu novo governo com a assinatura de uma série de decretos e o anúncio de planos para as próximas semanas.
Os mercados têm voltado suas atenções para qualquer indício sobre como será a abordagem do novo governo dos EUA para a política comercial, uma vez que a promessa de imposição de tarifas de importação esteve no centro da campanha presidencial do republicano.
Apesar de renovar suas ameaças tarifárias nos primeiros dias do cargo, Trump apenas orientou até agora as agências federais a investigarem os déficits comerciais dos EUA e as práticas comerciais injustas de parceiros.
Na véspera, por exemplo, Trump prometeu atingir a União Europeia com tarifas e disse que seu governo está discutindo uma taxa de 10% sobre as importações chinesas, mas as ameaças pareciam gerar pouco efeito nos mercados diante da falta de medidas mais concretas.
“A despeito das bravatas e factoides, Trump parece que vai seguir a linha do primeiro mandato. E isso é bom para o mercado”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
“Sobre as tarifas, até agora parece que Brasil está de fora desse movimento de endurecimento”, completou.
Para além das ameaças à China e à UE, Trump também já sinalizou a possibilidade de impor tarifas sobre México e Canadá, mas outros países, como o Brasil, têm ficado fora da mira do presidente por enquanto. Ele já sugeriu, entretanto, a implementação de tarifas universais.
Nas semanas anteriores à posse de Trump, a divisa norte-americana havia disparado globalmente devido à percepção de que as tarifas prometidas pelo presidente seriam inflacionárias, o que forçaria o Federal Reserve a manter a taxa de juros em patamar elevado.
Com isso, em meio a uma abordagem mais moderada do que o esperado anteriormente, investidores têm retirado um pouco do preço do dólar.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía apenas 0,01%, a 108,130, mas rondava seus menores valores em três semanas.
Na cena doméstica, o início do ano segue sendo marcado por falta de impulsos, além de uma grande sobreposição das notícias que chegam dos EUA.
Analistas apontam que o principal receio do mercado ainda é o cenário fiscal, uma vez que os agentes financeiros duvidam do compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, o que só aumentou desde o fim do ano passado.
No entanto, alguns participantes do mercado já vinham apontando que a disparada do dólar em 2024 em meio aos temores fiscais era um movimento exagerado, com a divisa dos EUA se aproximando de 6,30 na sessão que atingiu sua máxima histórica, em dezembro, a 6,2679 reais.
No início deste ano, esse exagero na precificação estaria abrindo espaço para uma correção acentuada.
“É um movimento natural, que em algum momento iria acontecer. A situação fiscal é ruim, mas não o suficiente para a demanda defensiva que tivemos”, disse Bergallo.
Sobre a questão fiscal, o secretário do Tesouro Nacional apontou mais cedo que o governo pode apresentar novas medidas fiscais, após a aprovação pelo Congresso de propostas de contenção de gastos no mês passado, caso julgue serem necessárias para o cumprimento das metas fiscais deste ano.
Falando em entrevista à Rádio Gaúcha, ele afirmou que o governo neste momento está justamente fazendo um balanço do que foi aprovado em 2024 para já avaliar se há a necessidade de apresentação de medidas adicionais.