Após abrir em alta de mais de 1,5% ante o real nesta quinta-feira, 10, tocando os R$5,60, o dólar inverteu o sinal e passou a cair. Já a bolsa paulista abria com viés negativo. Agentes financeiros avaliam os potenciais efeitos da tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para produtos do Brasil.

Às 13h26, o dólar à vista subia 0,49%, a R$ 5,5307 na venda, depois de atingir R$ 5,6212 mais cedo. O Ibovespa, por sua vez, recuava 0,33​%, a 137.027,88 pontos, tendo caído anteriormente a 136.014,47 pontos.

Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgada após o fechamento dos mercados, Trump disse que imporá uma tarifa de 50% sobre todas as exportações do Brasil para o país, vinculando a decisão ao tratamento recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

A carta de Trump diz que a tarifa entrará em vigor em 1º de agosto e será separada das tarifas setoriais. Também acrescentou que o presidente instruiu o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, a iniciar uma investigação sobre o que ele chamou de práticas comerciais injustas do Brasil.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China, e as tarifas representam um grande aumento em relação aos 10% que haviam sido anunciados em abril.

Em resposta a Trump, Lula afirmou ainda na quarta que qualquer medida unilateral de elevação de tarifas será respondida com reciprocidade, destacando que o Brasil é um “país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”.

Com a notícia, os investidores vendiam a divisa brasileira de forma acentuada, demonstrando receios pelo impacto que a nova tarifa pode ter sobre a economia do país.

“Na prática, o maior custo dessa nova rodada de tarifas está menos no potencial impacto direto sobre os fluxos de comércio e mais na piora do ambiente econômico, na deterioração da relação de parceria histórica entre os dois países e na incerteza gerada”, disseram analistas do BTG Pactual em relatório.

Na quarta-feira, o mercado nacional já havia reagido parcialmente à perspectiva de tarifa dos EUA sobre o Brasil, após Trump sinalizar no meio da tarde que anunciaria uma taxa tarifária sobre os produtos brasileiros, mas sem antecipar qual seria o número.

O dólar à vista fechou a sessão anterior com alta de 1,05%, a R$5,50359.

Nos mercados globais, o foco também estava em torno da política comercial dos EUA, mas o sentimento era mais otimista, uma vez que, para além do Brasil, Trump tem direcionado as cartas tarifárias para parceiros menores.

Ele emitiu na quarta-feira uma nova bateria de cartas sobre tarifas para sete países, incluindo Argélia, Iraque, Líbia, Sri Lanka e Filipinas.

Notícias de avanço nas negociações tarifárias com parceiros importantes também fomentavam expectativas de que uma guerra comercial total possa ser evitada antes de 1º de agosto, quando Trump prometeu implementar suas tarifas abrangentes anunciadas em 2 de abril.

O chefe de comércio da União Europeia, Maros Sefcovic, disse na véspera que espera fechar um acordo comercial com os EUA nos “próximos dias”.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,27%, a 97,645.

Na frente de dados, o IPCA teve alta de 0,24% em junho, depois de subir 0,26% em maio, mostraram os resultados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com isso, a taxa acumulada em 12 meses passou a subir 5,35%, de 5,32% em maio, permanecendo acima da meta contínua — 3,0% medida pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos — em todos os meses de 2025.

O Brasil adotou a meta contínua de inflação a partir deste ano, prevendo que o Banco Central deverá se explicar ao governo se o alvo for descumprido por seis meses consecutivos.