O dólar disparou nesta sexta-feira no Brasil e fechou na maior cotação em quase 4 anos e meio, com investidores procurando a proteção da moeda norte-americana em um cenário de desconfiança na política fiscal do governo Lula e de receios com a eventual vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA.

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O dólar à vista fechou o dia em alta de 1,53%, cotado a 5,8699 reais. Este é o maior valor de fechamento desde 13 de maio de 2020, quando encerrou em 5,9012 reais na esteira da escalada da pandemia de Covid-19. Veja cotações.

Na semana, a divisa dos EUA acumulou elevação de 2,86%.

Às 17h09, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,37%, a 5,8880 reais na venda.

O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira, minado pelo avanço nas taxas dos DIs e do dólar ante o real, em meio ao ceticismo sobre um pacote de medidas fiscais considerável e confiável para reduzir estruturalmente as despesas e alguma aversão a risco diante da eleição presidencial nos EUA na próxima semana.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,23%, a 128,120,75 pontos, tendo marcado 128.069,79 pontos na mínima e 129.902,2 pontos na máxima da sessão. Na semana, perdeu 1,23%. O volume financeiro no primeiro pregão de novembro somou 21,758 bilhões de reais.

O dólar no dia

Pela manhã, o dólar chegou a ceder ante o real, após a divulgação de dados fracos do relatório de empregos payroll dos Estados Unidos. O Departamento do Trabalho informou que a economia norte-americana abriu 12.000 postos de trabalho fora do setor agrícola em outubro, após 223.000 em setembro, em dado revisado para baixo. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 113.000 vagas.

A discrepância se deu, aparentemente, pela dificuldade das instituições em fazer projeções no período por conta dos efeitos de furacões e greves em fábricas aeroespaciais durante o mês passado.

Logo após os dados, às 9h55, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de 5,7629 reais (-0,32%), acompanhando a perda de força da divisa norte-americana também no exterior, mas o movimento não se sustentou.

Como em sessões anteriores, a expectativa de que o republicano Donald Trump derrotará a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira e a falta de medidas fiscais do governo Lula fizeram o dólar subir ante o real e renovar patamares recordes dos últimos anos.

“Temos o dólar forte também lá fora, em função das eleições norte-americanas, porque a moeda é um porto seguro para os investidores — e isso apesar do payroll fraco”, comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.

“No Brasil o governo prometeu para depois das eleições municipais diretrizes sobre o que cortar (das despesas), mas até agora não cortou nada, o que deixa o mercado impaciente”, acrescentou.

Como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará em viagem à Europa da próxima segunda-feira a sábado, as medidas fiscais também não devem sair na próxima semana, pontuaram profissionais ouvidos pelo Reuters.

“A expectativa de um atraso na divulgação do pacote fiscal gera um clima de insegurança, especialmente com a viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o que aumenta a desconfiança no mercado”, afirmou Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, em comentário enviado a clientes.

A leitura de que a solução para a área fiscal está longe de surgir acelerou a alta do dólar ante o real durante a tarde, com investidores buscando a proteção da moeda norte-americana antes do fim de semana e antes da bateria de eventos dos próximos dias: eleição dos EUA na terça-feira, reunião do Banco Central do Brasil sobre juros na quarta e decisão do Federal Reserve sobre juros na quinta.

Às 16h48, pouco antes do fechamento, o dólar à vista atingiu a máxima de 5,8759 reais (+1,63%).

A curva de juros brasileira também traduziu nesta sexta-feira o incômodo do mercado com a falta de soluções para a área fiscal e a possível vitória de Trump sobre Kamala, com alguns profissionais avaliando que os preços dos ativos no Brasil perderam os parâmetros.

Alguns profissionais chegaram a citar a expectativa de que o Banco Central pudesse entrar no mercado durante a tarde, por meio de leilões, para segurar as cotações do dólar ou pelo menos reduzir a volatilidade — o que não ocorreu.

No fim da manhã o BC vendeu 14.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão, mas neste caso apenas para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024, como vem fazendo diariamente.

No exterior, a moeda norte-americana também seguia em alta firme no fim da tarde, sob influência do “Trump trade” — como vêm sendo chamadas as negociações de ativos tendo como horizonte a vitória do republicano. Às 17h36 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,42%, a 104,320.

O dia do Ibovespa

“É mais do mesmo: ausência de decisões fiscais, do aguardado pacote de redução de despesas pós eleição que não saiu”, afirmou o gestor de uma empresa de previdência complementar, referindo-se à promessa da equipe econômica de medidas fiscais após as eleições municipais, que tiveram o segundo turno no dia 27 de outubro.

Ele destacou também o movimento dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que vêm avançando desde o mês passado, reflexo de cautela com o desfecho da disputa presidencial e de dados mostrando um quadro ainda de solidez da maior economia do mundo.

“Houve um otimismo exagerado na precificação de cortes de juros pelo Federal Reserve que está sendo ajustado para uma realidade de economia mais forte, enquanto a eleição entrou na conta mais recentemente”, acrescentou.

Nesta sexta-feira, dados divulgados pelo Departamento de Trabalho norte-americano mostraram uma forte desaceleração na criação de vagas em outubro, mas agentes no mercado ponderaram eles não retratam a situação do mercado de trabalho naquele país, uma vez foram afetados por furacões e greves.

Foram abertos 12.000 postos de trabalho fora do setor agrícola no mês passado, após 223.000 em setembro em dado revisado para baixo. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 113.000 vagas, com as estimativas variando de nenhum emprego adicionado a 200.000 posições criadas.

“O fraquíssimo número do payroll (criação de vagas) não deve ser tomado ao valor de face por conta dos eventos climáticos e greves”, afirmou o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, acrescentando que a estabilidade na taxa de desemprego apoia a tese de que a atividade econômica permanece robusta.

A perspectiva que prevalece é de que o Federal Reserve reduzirá os juros em 0,25 ponto percentual na próxima semana.

Nesta sessão, o rendimento do Treasury de 10 anos chegou a ceder a 4,222% pela manhã, mas no final do dia marcava 4,3836%, de 4,284% na véspera. Mas o S&P 500, uma das referências do mercado acionário dos EUA, avançou, tendo ainda no radar os balanços de Amazon e Apple.

Para economistas do Bradesco, a eleição norte-americana será o principal evento da próxima semana. “A disputa está acirrada e ainda não está claro quem será o vencedor”, afirmaram, citando que participantes do mercado estarão atentos ao resultado do pleito e à incerteza que pode surgir de um anúncio tardio.

DESTAQUES

– PETROBRAS PN caiu 1,36% e PETROBRAS ON recuou 1,95%, apesar da alta do petróleo no exterior, onde o barril do Brent fechou com acréscimo de 0,4%. A estatal divulgou nesta sexta-feira que o seu Plano Estratégico 2025-2029 está em elaboração, e que qualquer informação acerca do volume de investimento ou distribuição de dividendos “é meramente especulativa”.

– BRADESCO PN perdeu 1,81%, com agentes ainda ajustando posições após a divulgação do balanço do terceiro trimestre na véspera, quando o papel fechou em queda de mais de 4%, apesar do aumento do lucro e rentabilidade. ITAÚ UNIBANCO PN, que divulga resultado na segunda-feira, sucumbiu à piora do mercado e caiu 0,56%. BANCO DO BRASIL ON cedeu 0,91% e SANTANDER BRASIL UNIT perdeu 1,47%.

– MAGAZINE LUIZA ON terminou em baixa de 6,34%, com setores sensíveis a juros pressionados pela alta nas taxas dos DIs. Investidores também se preparam para a decisão do Banco Central no Brasil na próxima semana, com expectativa de que a autoridade monetária acelere o ritmo de alta da Selic para 0,50 ponto percentual. O índice do setor de consumo caiu 1,76% e o do imobiliário recuou 2,06%.

– AZUL PN caiu 6,51%, pressionada ainda pela forte valorização do dólar ante o real, que fechou o dia cotado a 5,8699 reais, na maior cotação em quase 4 anos e meio.

– EZTEC ON disparou 6,51%, após mais do que triplicar o lucro líquido do terceiro trimestre em relação à mesma etapa do ano passado, para 132,6 milhões de reais, ajudada por receita trimestral recorde, com o resultado da construtora, divulgado na quinta-feira, superando projeções de analistas. O conselho de administração também aprovou a distribuição de dividendos extras no montante de 150 milhões de reais.

– CCR ON encerrou em baixa de 3,27%, mesmo após lucro líquido ajustado de 560 milhões de reais no terceiro trimestre, alta de 11,7% sobre um ano antes, uma vez que o resultado operacional medido pelo Ebitda ajustado cresceu apenas 3,2%, para 2,19 bilhões de reais, abaixo das previsões de analistas. O CEO afirmou que a CCR vai disputar novos leilões nos próximos seis meses.

– CARREFOUR BRASIL ON valorizou-se 0,67%, tendo como pano de fundo balanço divulgado na noite da véspera, que mostrou lucro líquido de 221 milhões de reais no terceiro trimestre, avanço de 67,4% na comparação com o mesmo período do ano passado, com apoio de crescimento na bandeira Atacadão, em performance que ficou acima de previsões no mercado. No setor, GPA ON caiu 2,33% e ASSAÍ ON recuou 2,14%.

– VALE ON perdeu 0,05%, em dia de queda dos contratos futuros de minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange (DCE) encerrou as negociações diurnas em baixa de 1,47%, a 770,5 iuanes (108,17 dólares) a tonelada. Mais cedo, o contrato caiu para 764,5 iuanes, seu nível mais fraco desde 25 de outubro. Na semana, contudo, acumulou um ganho de 0,65%.