Mesmo companhias que exportam uma fatia substancial do seu produto sofrem com o dólar em patamares recordes, segundo o CEO da ArcelorMittal, Jefferson De Paula.

+Dólar a R$ 6,26: BC faz nesta quinta leilão de US$ 3 bilhões à vista para segurar cotação

Em entrevista a IstoÉ Dinheiro, o executivo relatou que o dólar mais estressado gera um efeito em cadeia que diminui o crescimento econômico e por ventura o consumo de uma série de produtos – incluindo o aço, material o qual a ArcelorMittal é a maior produtora no Brasil.

“Essa desvalorização do real….quando a empresa exporta muito, logicamente é bom, mas eu vejo que globalmente é algo ruim para o Brasil, e logicamente para as empresas”, comenta.

“A indústria do aço, o foco principal é mercado interno, e não exportação, e segundo que com a desvalorização do real, a tendência é aumentar inflação, obrigando o Banco Central a aumentar Selic, e isso segura o crescimento econômico do país”, completa.

De Paula cita que uma empresa que exporta 90% ou 100% tem um incremento de rentabilidade, como é o caso de algumas produtoras de papel e celulose, por exemplo.

Todavia, empresas cuja fatia de exportação destoam disso sofrem com esse efeito, dado que o mercado interno é mais relevante.

O CEO aponta que atualmente a empresa direciona 60% da sua produção brasileira para o mercado interno e exporta os demais 40%. Contudo, desses 40%, metade são exportações de semiacabados que são revendidos em países como Canadá e Estados Unidos.

Em termos de rentabilidade, o mercado interno possui uma fatia ainda maior, na casa dos 80%.

Dólar em patamar recorde

cotação do dólar fechou em novo recorde durante o pregão desta quarta-feira,18, chegando a R$ 6,26. Nesta quinta, 19, a moeda americana bateu R$ 6,30 na toada de um pessimismo com o fiscal e pela recente decisão da autoridade monetária dos EUA.

Por lá, o Federal Reserve (Fed), liderado por Jerome Powell, decidiu pelo terceiro corte consecutivo na taxa básica de juros – os Fed Funds – de 0,25 ponto percentual (p.p.).

Com isso, os juros nos EUA ficaram em uma banda de 4,25% a 4,5% ao ano.

Plínio Zanini, diretor de Risco da Ciano Investimentos, explica que no geral essa decisão do Fed deveria reduzir a cotação do dólar, contudo no contexto de incertezas fiscais acaba tendo um efeito reverso.

“Para o mercado brasileiro, a redução da taxa de juros americana, em geral, significa menor retorno na renda fixa americana, abrindo espaço para o fluxo de capital estrangeiro buscar melhores retornos em mercados emergentes, como o nosso, possivelmente reduzindo a cotação do dólar e favorecendo estes mercados”, aponta.

“Porém, na atual situação, em meio às incertezas fiscais do Brasil e pelo fato do corte ser em linha com o esperado pelo mercado, não devem haver grandes mudanças. Possivelmente, o fato das projeções terem aumentado pode, na verdade, reverter este efeito de maior atratividade de mercados emergentes”, completa.