O dólar encerrou a quinta-feira praticamente estável no Brasil, influenciado por dois fatores divergentes: a queda firme da moeda norte-americana no exterior, após dados confirmarem o arrefecimento da inflação nos EUA, e o mal-estar em relação ao cenário fiscal brasileiro, na esteira das medidas adotadas na véspera pelo governo.

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O dólar à vista fechou em leve alta de 0,08%, aos R$5,5437. No ano a divisa acumula queda de 10,28%.

Às 17h36 na B3 o dólar para julho – atualmente o mais líquido no Brasil – estava estável, aos R$5,5580.

No início do dia a moeda norte-americana chegou a oscilar em baixa ante o real, tentando acompanhar o viés vindo do exterior, em meio a sinais de que a inflação nos EUA está, de fato, cedendo.

O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) avançou 0,1% em maio nos EUA, abaixo da alta de 0,2% projetada pelos economistas, enquanto os pedidos iniciais de auxílio-desemprego ficaram em 248.000, em dado com ajuste sazonal, na semana passada, acima dos 240.000 esperados.

Às 9h57, já após a divulgação dos números nos EUA, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de R$5,5253 (-0,25%).

No entanto, o recuo não se sustentou no Brasil em função do desconforto do mercado com as medidas fiscais da véspera.

“Se fosse só pelo exterior, teríamos dólar para baixo hoje. Mas aqui os agentes não gostaram das medidas que vão substituir o aumento do IOF”, comentou durante a tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “Não houve cortes de despesas, e mesmo os aumentos de impostos serão difíceis de passar no Congresso”, acrescentou.

Na noite de quarta-feira o governo publicou, em edição extra do Diário Oficial da União, um decreto calibrando para baixo parte dos aumentos do IOF anunciados no fim de maio.

Além disso, publicou uma medida provisória que, visando compensar a redução da arrecadação com IOF, eleva a taxação sobre bets, tributa ganhos com títulos atualmente isentos e altera o imposto de outras aplicações financeiras.

Entre as medidas estão a cobrança de 17,5% de Imposto de Renda sobre os rendimentos de aplicações financeiras, independentemente do prazo, e a tributação de 5% sobre títulos hoje isentos – como LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas.

Dólar ganhou força com comentários de Hugo Motta

Algumas medidas de contenção de despesas, que abarcam itens como o programa Pé de Meia (de apoio a estudantes) e o Seguro Defeso também foram anunciadas — embora nem mesmo o governo tenha divulgado ainda o impacto fiscal destas ações, consideradas de pouco alcance pelo mercado.

“Entendemos que o governo perde, mais uma vez, a chance de discutir a sustentabilidade da dívida pública. Opta por um caminho mais fácil: o aumento de arrecadação via mais tributação. Perde, portanto, outra oportunidade de enfrentar problemas estruturais para melhorar a eficiência dos gastos públicos”, avaliou Guilherme Almeida, head de Renda Fixa da Suno Research, em análise enviada a clientes.

Além da crítica às medidas em si, o mercado demonstrou ceticismo sobre a tramitação no Congresso. No fim da manhã o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse em publicação em uma rede social que “o clima na Câmara não é favorável para o aumento de impostos com objetivo arrecadatório para resolver nossos problemas fiscais”.

O dólar ganhou força após os comentários de Motta e atingiu a cotação máxima de R$5,5604 (+0,38%) às 13h47. Durante a tarde, a divisa retornou para perto da estabilidade ante o real.

No exterior, o dólar seguia em baixa ante a maior parte das divisas, com investidores também atentos às negociações comerciais dos EUA e às tensões geopolíticas no Oriente Médio. Às 17h31 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,55%, a 97,913.

Pela manhã o Banco Central vendeu toda a oferta de 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de julho de 2025.