O dólar fechou a segunda-feira, 21, em baixa, acompanhando o recuo quase generalizado da moeda norte-americana no exterior, ainda que os investidores sigam atentos aos impactos das tarifas comerciais do governo Trump e à possibilidade de mais ações específicas contra o Brasil.

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A moeda norte-americana à vista fechou com queda de 0,40%, aos R$5,5651. No ano, a divisa acumula baixa de 9,94%.

Na B3, o dólar para agosto — atualmente o mais líquido no Brasil — cedia 0,27%, aos R$5,5775, às 17h07.

O dólar à vista chegou a oscilar em alta na abertura da sessão, dando continuidade ao movimento de sexta-feira — quando o receio de retaliação dos EUA contra o Brasil deu força às cotações, após o ex-presidente Jair Bolsonaro ser alvo de operação da Polícia Federal.

Às 9h03 desta segunda-feira, logo após a abertura, o dólar à vista atingiu a cotação máxima de R$5,6122 (+0,44%).

Mas a moeda norte-americana perdeu força ainda na primeira hora da sessão e migrou para o território negativo, acompanhando o recuo do dólar também no exterior, onde os agentes reagiam a fatores como o resultado da eleição japonesa e as dúvidas sobre a guerra tarifária desencadeada pelos EUA.

Ainda sem acordos com uma série de parceiros comerciais — entre eles a União Europeia e a China — os EUA também seguem sem abrir brechas para negociação com o Brasil.

Em entrevista à CBN pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que insistirá na negociação comercial com Washington, mas não descartou a possibilidade de os produtos brasileiros começarem a ser taxados em 50% em 1º de agosto, como anunciado pelos EUA, sem que o Brasil tenha recebido uma resposta das autoridades norte-americanas.

Haddad afirmou ainda que o governo avalia implementar instrumentos de apoio a setores da economia impactados pela tarifa dos Estados Unidos, acrescentando que não necessariamente haverá impacto fiscal com as medidas.

“Pode ser que nós tenhamos que recorrer a instrumentos de apoio a setores que injustamente estão sendo afetados”, disse.

A dificuldade do Brasil em negociar passa pelo fato de o presidente dos EUA, Donald Trump, estar exigindo como contrapartida o fim do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado — uma questão do campo jurídico, e não comercial.

Na sexta-feira, na mais recente medida contra o Brasil, os EUA restringiram vistos para autoridades do Judiciário brasileiro e seus familiares imediatos, citando novamente objeções aos processos legais contra Bolsonaro.

Incertezas aumentam a volatilidade do dólar

Além das medidas já tomadas, investidores estarão atentos nesta semana a possíveis novas ações dos EUA contra o Brasil, que podem impactar o câmbio.

“Há promessa de novas sanções contra o Brasil, que seriam anunciadas ao longo da semana. A imprensa cogita aumento das tarifas para 100%, imposição da Lei Magnitsky para algumas autoridades, proibição de aviões brasileiros sobrevoarem os EUA e até mesmo o desligamento do GPS e descredenciamento do sistema Swift”, citou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, em relatório enviado a clientes.

“Não é possível saber o que acontecerá. Mas o cenário piorou muito e escala rapidamente. Observamos que alguns bancos estrangeiros retiraram recomendações de venda de dólar e aplicações em taxa prefixada”, acrescentou.

Ainda assim, as cotações do dólar demonstraram certa acomodação ante o real nesta segunda-feira, acompanhando o viés de baixa vindo do exterior. Às 17h10, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,52%, a 97,889.