Após ultrapassar a barreira dos R$ 5,70 durante o dia, o dólar à vista desacelerou os ganhos na tarde desta terça-feira, 2, em meio a rumores nas mesas de operação de que o Banco Central estaria consultando Tesourarias de bancos sobre eventual intervenção no mercado de câmbio.

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Ainda assim, a moeda norte-americana à vista terminou a sessão em alta de 0,22%, cotada a R$ 5,6665 na venda. Este é o maior valor de fechamento desde 10 de janeiro de 2022, quando terminou em R$ 5,6723. Em 2024, a divisa já acumula elevação de 16,8%.

Fala de Lula

Antes da abertura do mercado nesta terça-feira, em entrevista à rádio Sociedade, de Salvador, Lula disse que fará “alguma coisa” em relação à alta do dólar ante o real, mas evitou detalhar qual medida será tomada “porque senão estarei alertando meus adversários”.

Lula afirmou que há atualmente um ataque especulativo ao real, acrescentando que voltará a Brasília na quarta-feira e discutirá o que fazer em relação à alta do dólar. Ele também voltou a criticar o Banco Central, dizendo que a autarquia não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado.

Os comentários de Lula em relação ao BC nesta terça-feira somam-se às falas do presidente nos últimos dias, que vêm sendo apontadas como um dos principais motivos para que o dólar tenha disparado ante o real e para que a curva de juros esteja em forte alta no Brasil. Em 2024, a moeda norte-americana acumula elevação próxima de 17%.

“Quem intervém no câmbio é o BC, não o ministério da Fazenda”, comentou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora. “O que o presidente Lula pode fazer no câmbio é tranquilizar o mercado, dizendo que vai cortar gastos. Quando o mercado acredita que o problema é de credibilidade, ações como alterar o IOF são momentâneas”, acrescentou.

Nos últimos dias, profissionais ouvidos pela Reuters têm afirmado que a acomodação do dólar ante o real passa justamente pelo fim dos ataques recorrentes de Lula ao BC e por medidas que equilibrem as contas públicas.

Após o dólar abrir em baixa, a fala de Lula passou a pesar sobre os negócios ao longo da manhã e as cotações da moeda norte-americana ganharam força. Profissionais do mercado afirmaram que a possível intervenção do governo no câmbio gerava receios.

Uma das possibilidades levantadas é a de que o governo possa mexer no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações cambiais, para segurar a escalada da moeda norte-americana.

Fala de Haddad

Em Brasília, porém, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou no fim da manhã que não há possibilidade de o governo mexer no IOF. Segundo ele, a melhor maneira de conter a desvalorização do real é melhorar a comunicação sobre o arcabouço fiscal e a autonomia do BC.

Fala de Campos Neto

Alvo de Lula em suas declarações, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou durante a manhã que a autarquia tem que ficar fora da “arena política” e argumentou que o tempo mostrará que o trabalho da autoridade monetária é técnico.

“Há um prêmio de risco na curva (de juros), e ele tem sido elevado nas últimas semanas com a incerteza sobre o que acontecerá quando a próxima liderança, o próximo time (do BC) assumir”, acrescentou Campos Neto, que deixará o comando da instituição no fim de dezembro. Ele participou de evento do Banco Central Europeu (BCE) em Sintra, Portugal.

Ibovespa

Já o Ibovespa fechou com um acréscimo discreto nesta terça-feira, favorecido pelo avanço nos pregões em Wall Street e queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, enquanto preocupações com as políticas fiscal e monetária no Brasil voltaram a minar o sentimento dos agentes financeiros.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou em alta de 0,06%, a 124.787,08 pontos, após chegar a 125.490,73 pontos no melhor momento e a 124.310,24 pontos na mínima do dia. O desempenho também foi ajudado pelo avanço de exportadoras. O volume financeiro somava R$ 20 bilhões.