Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar registrou a maior queda percentual e o menor patamar em mais de uma semana, após a divulgação de indicadores econômicos norte-americanos mais fracos, que na leitura de investidores podem servir de argumento para o banco central dos Estados Unidos amenizar o tom duro nas comunicações sobre inflação e alta de juros.

A moeda negociada no mercado interbancário caiu 1,26%, a 5,0988 reais na venda. O declínio percentual é o mais intenso desde 12 de agosto (-1,66%), e a cotação é a mais baixa para um encerramento desde o último dia 15 (5,0926 reais).

O real esteve entre as moedas de melhor desempenho nesta sessão, junto com pares também correlacionados às perspectivas para as commodities, que vêm melhorando por expectativa de maior demanda chinesa em meio à seca e à onda de calor que têm afligido lavouras no país.

Lá fora, o índice do dólar afundou 0,85% na mínima do dia, contra queda de cerca de 0,2% imediatamente antes da divulgação dos números nos EUA. O euro chegou a superar a paridade, antes de voltar a ficar abaixo de 1 dólar.

A atividade de negócios no setor privado dos EUA contraiu pelo segundo mês consecutivo em agosto e no ritmo mais intenso em 18 meses, com particular piora no setor de serviços, à medida que a demanda enfraqueceu diante da inflação e das condições financeiras mais apertadas. [nL1N2ZZ0Z1]

O dado causou uma primeira pernada de baixa no dólar, que saiu de quase 5,13 reais para 5,1099 reais abruptamente. Na sequência, a cotação afundou mais até tocar 5,0704 reais, queda de 1,81%, depois de as vendas de moradias unifamiliares nos EUA em julho caírem ao menor patamar em seis anos e meio, impactadas pelas taxas mais altas das hipotecas –reflexo direto do aumento de juros pelo Fed.

O lote de indicadores nos EUA veio poucos dias antes da aguardada fala do chair do banco central dos EUA, Jerome Powell, em Jackson Hole, evento no qual se espera que Powell emita sinalizações sobre a política monetária.

“Os dados estão indicando que Powell talvez vá nessa direção de desaceleração na alta de juros, menos alta de juros”, disse Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital. “Estava todo mundo assustado com o que poderia vir de Jackson Hole, um discurso mais duro, mas agora podemos ter algum fôlego até lá”, acrescentou. Powell falará no simpósio na sexta-feira.

O mercado está há tempos operando sob a batuta das sinalizações de política monetária de integrantes do banco central norte-americano, num cenário de ampla volatilidade.

Mais recentemente, falas de dirigentes do Fed vieram na linha mais dura, o que empurrou o dólar para cima no mundo, mas a perspectiva de uma desaceleração econômica tem estimulado apostas numa amenização de tom por parte do Fed –e os dados desta terça endossaram de forma explícita essa tese.

O governo dos EUA informa também na sexta dados de inflação de julho pela medida preferida do Fed, o PCE.

“A inflação (nos EUA) confirmando uma desaceleração não teria porquê de o Fed acelerar mais os juros. (…) Com isso, acho que o cenário é de dólar para baixo”, disse Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.

“Com um fluxo potencial de capital para emergentes você já começa a retirar cenários de dólar a 5,20 reais para em torno de 5 reais”, completou.

A última vez que o dólar operou abaixo de 5 reais foi em 13 de junho, quando marcou uma mínima de 4,9893 reais.

Na cena interna, o economista Victor Beyruti, da Guide, citou em nota matinal a entrevista do presidente e candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro, ao Jornal Nacional, da TV Globo. “O assunto economia foi pouco tratado na entrevista, mas o atual presidente sinalizou que seguirá com a agenda de reformas em um eventual segundo mandato”, disse o profissional.

A campanha do presidente viu como positiva a participação do candidato à reeleição na entrevista, sem ter cometido nenhum grande escorregão, disseram duas fontes da equipe na noite de segunda-feira. Bolsonaro afirmou ao JN que irá reconhecer o resultado das eleições de outubro “desde que sejam limpas e transparentes”.

(Por José de Castro; edição de Isabel Versiani)

tagreuters.com2022binary_LYNXMPEI7M0J1-BASEIMAGE