O dólar à vista fechou a quinta-feira em alta no Brasil, com profissionais do mercado citando, para justificar o movimento, certo esgotamento da queda mais recente das cotações e alguns efeitos técnicos sobre o real do forte avanço do iene no exterior.

+ Veja cotações

A alta do dólar ante o real ficou na contramão da queda da moeda norte-americana ante a maior parte das demais divisas nas outras praças, onde as cotações reagiram aos dados mais favoráveis da inflação dos Estados Unidos.

A moeda norte-americana à vista encerrou cotada a R$ 5,4419 na venda, em alta de 0,53%. Em 2024, a divisa acumula elevação de 12,17%.

Às 17h11, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,48%, a R$ 5,4560 na venda.

O Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira pelo nono pregão seguido, completando a maior série de ganhos desde fevereiro de 2018, após dados de inflação nos Estados Unidos divulgados pela manhã reforçarem as apostas de um corte na taxa de juros norte-americana em setembro.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,85%, a  128.293,61 pontos, marcando 128.326,23 pontos na máxima e 127.220,95 pontos na mínima. O volume financeiro somava R$ 19,8 bilhões, mais uma vez abaixo da média diária do ano, de R$ 23,5 bilhões.

O dólar no dia

No início do dia, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) caiu 0,1% no mês passado, depois de permanecer inalterado em maio. Nos 12 meses até junho, o índice subiu 3,0%, após um avanço de 3,3% em maio. Economistas consultados pela Reuters previam altas de 0,1% no mês e de 3,1% na base anual.

O CPI mais fraco que o esperado pesou sobre os rendimentos dos Treasuries e fez o dólar ceder ante boa parte das demais divisas. No Brasil, a moeda norte-americana à vista atingiu a mínima de R$ 5,3705 (-0,79%) às 9h33, pouco depois da divulgação dos números. Ainda pela manhã, no entanto, o dólar recuperou sua força ante o real e migrou para o território positivo.

No mercado, alguns profissionais avaliavam que o fato de o iene estar subindo mais de 2% ante o dólar, após ter atingido na véspera o menor valor em 38 anos, estava afetando operações de carry trade feitas com a moeda japonesa e o real brasileiro.

No carry trade, investidores tomam recursos no exterior, a taxas de juros baixas, e reinvestem em países como o Brasil, onde a taxa de juros é maior.

De acordo com um profissional ouvido pela Reuters, atualmente muitas operações de carry trade envolvendo o Brasil são financiadas em iene — e não em dólar. Assim, quando a cotação do iene sobe de forma abrupta, investidores tendem a desmontar essas posições de carry, o que acaba por pressionar as cotações do real. Um dos efeitos é a alta da taxa de câmbio.

Além desta questão técnica envolvendo o iene, alguns profissionais pontuaram que a baixa recente do dólar ante o real limitava a possibilidade de maiores perdas para a moeda norte-americana nesta quinta-feira.

“Houve uma corrigida bem grande, com o dólar saindo dos R$ 5,70 (na semana passada) para R$ 5,40. Então, não faz tanto sentido cair muito mais”, pontuou Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos.

Segundo o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, existe de fato uma barreira técnica para o dólar nos R$ 5,40 e, abaixo disso, nos R$ 5,30.

“Se tivermos boas notícias na área fiscal e a continuidade de boas notícias no exterior, o dólar até pode cair mais. Não duvido disso”, comentou. “Vai depender muito do dia 22 de julho”, acrescentou, em referência à data marcada para o Ministério da Fazenda apresentar relatório com possíveis cortes de gastos para cumprimento da meta fiscal.

No exterior, no fim da tarde o dólar seguia em alta firme ante a maior parte das divisas. Às 17h34, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,49%, a 104,460.

Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 2 de setembro de 2024.

O dia do Ibovespa

A sequência de altas no Ibovespa, que representou um ganho acumulado de 3,5% no período, foi acompanhada de uma melhora do fluxo de capital externo para a bolsa paulista, com saldo no mês até o dia 9 positivo em 2,7 bilhões de reais. No ano, as vendas por estrangeiros superam as compras em 37,4 bilhões de reais.

Nesta quarta-feira, o Departamento do Trabalho dos EUA divulgou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) caiu 0,1% em junho, com o resultado em 12 meses mostrando acréscimo de 3%, enquanto economistas consultados pela Reuters previam altas de 0,1% e 3,1%, respectivamente.

Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o núcleo do CPI aumentou 0,1% em junho, após subir 0,2% em maio. Nos 12 meses até junho, avançou 3,3%, de 3,4% em maio.

Na visão de economistas do Bank of America, são dados que ajudam na construção da confiança do Federal Reserve. “Depois de um início de ano preocupante, a trajetória para uma inflação de 2% está na direção certa”, afirmaram em relatório enviado a clientes nesta quinta-feira.

Após os dados, as apostas no mercado passaram a precificar chance de 85% de um corte da taxa de juros dos EUA em setembro, de 70% antes da divulgação. Os contratos futuros de juros nos EUA também passaram a embutir uma possibilidade maior de um segundo corte na taxa em dezembro pelo Federal Reserve.

“No geral, o dado fraco do CPI aumenta as chances de um corte antecipado do Fed em setembro, o que levaria a dois cortes este ano”, afirmaram os economistas Bernardo Dutra e Nathan Teixeira, do Itaú.

No Brasil, o noticiário destacou o crescimento de 1,2% nas vendas no varejo em maio, contra previsão no mercado de queda de 0,9%, assim como a aprovação pela Câmara dos Deputados da regulamentação da reforma tributária, incluindo a carne entre os itens na cesta básica com isenção tributária.

DESTAQUES

– TIM BRASIL ON avançou 4,1%, enquanto TELEFÔNICA BRASIL ON subiu 3,27%, mesmo após o texto que regulamenta a reforma tributária não incluir pleitos do setor. O UBS BB chamou a atenção em relatório para as recompras de ações pela Telefônica Brasil no primeiro semestre como um fator positivo, enquanto o Morgan Stanley elevou a recomendação dos papéis da empresa que opera sob a marca Vivo para “overweight”.

– JBS ON avançou 3,18%, enquanto MARFRIG ON subiu 1,01% e MINERVA ON ganhou 2,4%, após a Câmara dos Deputados aprovar o projeto de lei com o eixo central da regulamentação da reforma tributária sobre o consumo incluindo proteínas animais à lista de itens da cesta básica isentos de tributação. BRF ON fechou com variação positiva de apenas 0,14%.

– CARREFOUR ON subiu 3,17%, tendo como pano de fundo dados melhores do que o esperado sobre as vendas no varejo brasileiro, puxadas pelo desempenho de supermercados e itens de uso pessoal. Analistas do Bradesco BBI também publicaram relatório na noite da véspera mudando preferência relativa para Carrefour Brasil versus Assaí. ASSAÍ ON terminou com decréscimo de 0,44% e GPA ON avançou 2,48%.

– LOJAS RENNER ON fechou em alta de 3,08%, embalada pelo alívio na parte longa da curva de juros. Na véspera, analistas do Citi também haviam reiterado recomendação de “compra” para as ações da varejista de vestuário e elevado o preço-alvo de 18 para 18,60 reais, após melhora na projeção para a margem Ebitda, bem como para o lucro líquido de 2024 e 2025. O índice do setor de consumo registrou elevação de 1,4%.

– MRV&CO ON valorizou-se 2,83%, em dia positivo para o setor como um todo dado o movimento na curva de DI, mas com agentes financeiros também repercutindo prévia operacional do segundo trimestre e anúncio de programa de recompra de ações da companhia. O índice do setor imobiliário na B3 encerrou com acréscimo de 1,57%.

– ALPARGATAS PN caiu 1,48%, revertendo a alta da abertura, quando chegou a subir mais de 1%. Analistas da XP afirmaram que a dona da marca Havaianas deve apresentar outro resultado misto no segundo trimestre, com uma dinâmica melhor no Brasil, mas com a operação internacional ainda fraca e efeitos não recorrentes.

– VALE ON cedeu 0,26%, mesmo com os futuros do minério de ferro se recuperando na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com alta de 0,8%. A mineradora também assinou um acordo com a Komatsu para desenvolver e testar, em parceria com a Cummins, caminhões fora de estrada movidos a uma mistura de etanol e diesel.

– PETROBRAS PN fechou em alta de 0,68%, acompanhando o movimento do petróleo no exterior, onde o barril de Brent, usado como referência pela estatal, encerrou o dia com acréscimo de 0,38%, a 85,40 dólares.

– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,6%, com o destaque positivo no setor novamente sendo SANTANDER BRASIL UNIT, que se valorizou 3,25%, ampliando os ganhos da véspera, após anunciar na quarta-feira, após o fechamento, que seu conselho de administração aprovou a distribuição de 1,5 bilhão de reais em juros sobre capital próprio.