O dólar à vista fechou nesta quinta-feira, 7, praticamente estável ante o real, em um dia de ajustes técnicos às cotações do mercado futuro e de ruídos em relação ao pacote fiscal do governo Lula, enquanto no exterior a sessão foi de baixa generalizada para a moeda norte-americana, passada a eleição presidencial nos EUA.

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O dólar à vista fechou o dia com variação positiva de 0,03%, cotado a R$ 5,6759. No ano, porém, a divisa acumula elevação de 16,99%.

Às 17h03, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,62%, a 5,6915 reais na venda.

O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, em dia marcado pela repercussão de uma bateria de resultados corporativos e ruídos envolvendo um aguardado pacote fiscal prometido pelo governo federal, bem como de decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,51%, a 129.681,7 pontos, com a alta de Vale representando um contrapeso relevante no viés negativo. O volume financeiro somou 24,9 bilhões de reais.

O dólar no dia

No início da noite de quarta-feira, com o mercado à vista já fechado, o dólar para dezembro — o mais líquido atualmente no Brasil — ganhou força, com investidores reagindo negativamente a críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao mercado financeiro. Segundo Lula, o pacote de medidas fiscais ainda não estava fechado.

“Estou em um processo de discussão muito, muito sério com o governo, porque conheço bem o discurso do mercado, a gana especulativa do mercado”, disse Lula em entrevista à Rede TV, que teve trecho veiculado no portal UOL antes da publicação na íntegra mais tarde.

Nesta quinta-feira as cotações do mercado à vista se ajustaram ao avanço da véspera da moeda para dezembro. Isso fazia o dólar à vista sustentar ganhos pela manhã, enquanto o dólar para dezembro cedia.

O mercado ponderava também a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na véspera, que elevou a taxa Selic em 50 pontos-base, para 11,25% ao ano.

Mais do que a decisão em si, que era largamente esperada, profissionais destacaram o compromisso do colegiado com o atingimento do centro da meta de inflação, de 3%, o que ajudava a sustentar as taxas de curto prazo dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).

No exterior, o dólar cedia ante as demais moedas, com investidores ajustando posições passado o primeiro impacto da vitória do republicano Trump sobre a democrata Kamala Harris.

Isso acabou pesando sobre as negociações no Brasil e o dólar à vista marcou a cotação mínima de 5,6338 reais (-0,77%) às 11h05.

Depois disso a moeda se reaproximou da estabilidade, até que durante a tarde a CNN Brasil noticiou que o corte de gastos do governo Lula poderia ficar entre 10 bilhões e 15 bilhões de reais. Como o mercado tem citado a necessidade de um esforço maior, em torno de 50 bilhões de reais, a reação foi negativa e o dólar atingiu a máxima de 5,7247 reais (+0,83%) às 14h51.

O desmentido oficial do governo, divulgado logo depois, fez o dólar à vista perder força e se reaproximar da estabilidade. O Ministério da Fazenda informou que não procediam as informações veiculadas na mídia sobre a suposta análise das duas propostas para a área fiscal.

“É importante ressaltar que tal informação não corresponde ao que vem sendo debatido entre a equipe econômica, demais ministérios e a Presidência da República”, disse a pasta em nota.

Também durante a tarde, o Federal Reserve cortou sua taxa de juros em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,50% e 4,75%, como era largamente esperado pelo mercado. A instituição disse que a atividade econômica norte-americana continuou a se expandir em um ritmo sólido e que os riscos para inflação e emprego estão “mais ou menos equilibrados”.

O anúncio do Fed, no entanto, não impactou de forma decisiva as cotações no Brasil.

No exterior, às 17h16 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,79%, a 104,280.

No fim da manhã, o BC vendeu 14.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.

O dia do Ibovespa

O Ibovespa chegou a 131.319,41 pontos pela manhã, apoiado principalmente nos papéis da Vale, mas o humor azedou após reportagem da CNN Brasil afirmar que o governo estaria estudando duas propostas de corte de gastos: uma de 15 bilhões de reais e outra de 10 bilhões de reais.

O Ministério da Fazenda publicou nota na sequência afirmando que “a informação não corresponde ao que vem sendo debatido entre a equipe econômica, demais ministérios e a Presidência da República”, sem fornecer detalhes adicionais.

Diante de expectativas no mercado de um pacote fiscal entre 30 bilhões e 50 bilhões de reais, o Ibovespa reverteu o sinal positivo e chegou a 129.406,39 pontos no pior momento após a notícia inicial.

De acordo com o analista de investimentos Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, um montante nesse patamar (10 bilhões a 15 bilhões de reais) deixaria o mercado “bem decepcionado” e reforçaria as preocupações com o risco fiscal no país.

O dólar, que também havia acelerado a alta ante o real com a reportagem, terminou no zero a zero, enquanto as taxas dos DI, que marcaram máximas em alguns vencimentos, também arrefeceram. O Ibovespa se afastou da mínima, mas ainda fechou em queda.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na noite de quarta-feira que o governo teria nesta quinta-feira uma reunião para fechar o pacote de medidas fiscais, ressaltando que ainda havia dois “detalhes” a serem discutidos.

Haddad, que sinalizou na segunda-feira a possibilidade de que as medidas fossem anunciadas nesta semana, cancelou viagem a São Paullo nesta quinta à noite para permanecer em Brasília, onde uma nova reunião será realizada na sexta-feira.

Na véspera, o Banco Central acelerou o ritmo de aperto monetário ao elevar a Selic em 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano, defendendo que o governo adote medidas fiscais estruturais que gerem impactos para a política monetária.

Ainda no Brasil, agentes encerraram as negociações à espera de uma nova bateria de resultados corporativos após o fechamento do mercado, entre eles o de Petrobras, Magazine Luiza, Cogna, Yduqs, Rumo e CPFL Energia, entre outros.

O penúltimo pregão da semana ainda teve decisão de política monetária nos Estados Unidos, com o Federal Reseve confirmando as expectativas e cortando a taxa de juros em 0,25 ponto, pra a faixa de 4,50% a 4,75%, em decisão unânime.

DESTAQUES

– VALE ON saltou 3,48%, acompanhando os futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) encerrou as negociações do dia com alta de 2,11%, a 799,5 iuanes (111,56 dólares) a tonelada, o maior valor desde 16 de outubro.

– PETROBRAS PN fechou em alta de 0,31% antes da divulgação do balanço do terceiro trimestre. No exterior, o barril de petróleo do tipo Brent reagiu e encerrou acréscmo 0,95%, a 75,63 dólares.

– PETZ ON desabou 14,53%, mesmo após anunciar um lucro líquido ajustado no terceiro trimestre 76,5% maior do que o apurado no mesmo período do ano passado, de 26 milhões de reais, em seu primeiro balanço trimestral desde o anúncio de combinação de negócios com a Cobasi. A ação vinha de quatro altas seguidas, tendo fechado na véspera com salto de 7,7%.

– TOTVS ON tombou 8,44%, um dia após reportar resultado do terceiro trimestre com lucro líquido consolidado de 295,8 milhões de reais queda de 32% em relação ao mesmo período do ano passado. Em termos ajustados, o lucro somou 226 milhões, alta de 55%. Foi o segundo dia de queda após cinco pregões seguidos de alta, quando acumulou uma valorização de quase 18%.

– COGNA ON recuou 7,19%, tendo no radar balanço divulgado nesta quinta-feira, após o fechamento do pregão, que mostrou prejuízo menor no terceiro trimestre, enquanto o Ebitda recorrente saltou 25,9%, para quase 385 milhões de reais, com melhora na margem para 30%. Projeções compiladas pela LSEG apontavam Ebitda de 363 milhões de reais.