O dólar à vista fechou a terça-feira, 16, em forte alta no Brasil, na quinta sessão consecutiva de valorização, e atingiu o maior valor visto em mais de um ano, em meio ao avanço generalizado da moeda norte-americana no exterior, com investidores reagindo à perspectiva de juros altos nos EUA por mais tempo e às tensões no Oriente Médio, além de, localmente, às preocupações com as contas públicas.

O dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,2686 na venda, em alta de 1,64%. Este é o maior valor de fechamento para a moeda norte-americana desde 23 de março de 2023, quando encerrou em R$ 5,2898. Em cinco dias úteis, a divisa acumulou elevação de 5,23% ante o real. Apesar do forte movimento, o Banco Central do Brasil se manteve novamente fora do mercado. Veja a cotação do dólar hoje.

Enquanto isso, Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,75%, a 124.388,62 pontos. Na máxima do dia, chegou a 125.315,63 pontos. Na mínima, a 123.756,08 pontos, menor patamar intradia desde novembro passado. O patamar de fechamento também foi o menor em pouco mais de cinco meses.

De olho nos juros dos EUA

Assim como em sessões anteriores, a moeda norte-americana se firmou em alta logo no início da sessão, em meio ao movimento global de reprecificação dos cortes de juros pelo Federal Reserve após a divulgação de dados fortes sobre a economia norte-americana.

Com o avanço firme das taxas dos Treasuries, o dólar também subia ante as demais moedas, incluindo o real.

“Haverá ou não dois cortes de juros este ano nos EUA? Esta é a grande pergunta”, comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, ao justificar o forte movimento de alta para o dólar em todo o mundo.

“Chama a atenção o grande movimento de ‘stop’ na posição dos bancos norte-americanos em juros, com eles mudando para setembro ou dezembro o início dos cortes”, acrescentou.

Também contribuíam para o avanço do dólar os receios em torno dos conflitos no Oriente Médio, após o Irã atacar Israel no fim de semana, e localmente as preocupações com o equilíbrio fiscal brasileiro, após o governo anunciar a redução da meta fiscal para 2025.

BC não interfere no câmbio

Apesar da disparada do dólar durante a sessão, o Banco Central novamente apenas observou os negócios, sem realizar leilões extras de swap cambial ou de venda de dólares com compromisso de recompra – ações que, em outros anos, a instituição adotou para reduzir a volatilidade.

Para alguns profissionais, a forte alta do dólar ante o real já justificava a atuação do BC.

“Acho que era o momento sim de fazer algo para conter a volatilidade, principalmente porque não vejo fundamentos claros para o dólar estar no atual patamar”, comentou Matheus Massote, especialista de câmbio da One Investimentos. “Mas a gestão do Roberto Campos Neto no BC nunca foi intervencionista e sempre demonstrou cautela ante de atuar no câmbio”, acrescentou.

Para Cleber Alessie Machado, gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, o fato de o dólar estar subindo em todo mundo – e não apenas no Brasil – desestimula a intervenção do BC. Na prática, a venda de dólares por parte da autarquia seria como “enxugar gelo”, já que o movimento de alta é global.

“O mercado vem se adequando a uma leitura de que não apenas o Fed deve retardar o início do corte de juros, como também o tamanho do ciclo deve ser menor”, avaliou Machado. “Com isso, há um reajuste muito profundo das carteiras globais, que leva não apenas a curva de juros norte-americana para cima como também o dólar.”

Perspectivas

No mercado brasileiro de juros futuros, os efeitos desta reprecificação dos cortes pelo Fed também são perceptíveis.

Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram ainda que, em função do ambiente nebuloso, hoje é difícil saber em quais níveis o dólar vai se estabilizar. Um cenário de cotações mais próximas de 5 reais, no entanto, parece improvável neste momento, segundo eles.

Em conversa com jornalistas em Washington nesta terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu a maior parte da alta do dólar ao cenário externo.

“Tem muita coisa que está fazendo com que o mundo esteja atento ao que está acontecendo nos EUA, e o dólar está se valorizando frente às demais moedas. Eu diria que isso não explica o que está acontecendo no Brasil, mas explica dois terços do que está acontecendo no Brasil”, defendeu.