O receio de que o Banco Central possa se tornar mais brando no combate à inflação a partir de 2025, quando os dirigentes indicados pelo governo Lula se tornarão maioria na instituição, fez o dólar à vista subir mais de 1% nesta quinta-feira, 9, com as cotações refletindo uma percepção de aumento do risco no Brasil, após a decisão do BC na véspera sobre a Selic.

O dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,1432 na venda, em alta de 1,02%. Em maio, porém, a divisa ainda acumula baixa de 0,95%. Já o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, caiu 1%, a 128.188 pontos. O volume financeiro somou R$ 25,67 bilhões. Veja cotações.

Na véspera, o BC decidiu reduzir o ritmo de corte da taxa básica de juros, promovendo um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, para 10,50% ao ano, em decisão dividida (placar de 5×4), além de abandonar sua indicação sobre o futuro dos juros básicos.

O corte de 0,25 ponto foi apoiado pelo presidente Roberto Campos Neto e os diretores Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Gomes. Indicados por Lula, Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira votaram por uma redução maior, de 0,50 ponto percentual.

Repercussão

“Duas hipóteses são suscitadas após a decisão: a primeira diz respeito a uma transição precoce entre os governos, que deveríamos assistir mais para o final do ano; já o segundo é o mais grave e levanta questionamentos sobre o quão técnica é a decisão do Copom, um órgão que deveria ser estritamente técnico”, avaliou, em nota a clientes, Étore Sanchez, da Ativa Investimentos.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o mercado deve passar a precificar juros menores para 2025 e 2026, pois já está claro que outros diretores indicados pelo presidente Lula têm uma visão de que a taxa deveria estar em níveis mais baixos.

“A  decisão do Copom reflete uma balança entre prudência e reatividade, buscando navegar por um ambiente econômico incerto sem comprometer os objetivos de longo prazo de estabilidade de preços e crescimento sustentável. A trajetória futura da política monetária brasileira dependerá de como essas variáveis globais e domésticas evoluem, e se o Banco Central conseguirá ajustar a taxa Selic para níveis que promovam a recuperação econômica sem alimentar pressões inflacionárias”, avaliou.

Mesmo com o novo corte, o Brasil se mantém na 2ª colocação no ranking mundial de juros reais, abaixo somente da Rússia, segundo levantamento da Infinity Asset Management com os 40 países mais relevantes do mercado de renda fixa mundial.

Em termos nominais, o país está na 6ª colocação, abaixo da Argentina, Turquia, Rússia, Colômbia e México e acima de África do Sul, Hungria e Chile.