Por José de Castro

(Reuters) – O dólar fechou perto da estabilidade nesta sexta-feira, zerando queda de mais de 1% vista no meio da tarde depois de ter subido pouco antes, com um mercado bastante sensível a notícias sobre o futuro da política fiscal do novo governo na última sessão antes do primeiro turno das eleições no Brasil.

O dólar à vista mostrou variação positiva de 0,01%, a 5,3941 reais.

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Na mínima, a moeda caiu a 5,329 reais, baixa de 1,20%, quando a divisa brasileira ocupou o topo da lista de ganhos nos mercados globais de câmbio.

Foi o ápice de um declínio iniciado logo depois das 14h (de Brasília), quando operadores começaram a vender dólares em repercussão a notícias de que o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles seria nomeado nas próximas semanas, independentemente do resultado do primeiro turno eleitoral, como chefe da economia num eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme site da revista Veja.

Mas fontes próximas ao petista contradisseram à Reuters a informação, com um dos interlocutores afirmando que Lula tem dado sinais claros de que sua escolha para o comando da Fazenda “está na direção contrária”.

Nesse sentido, o alívio na taxa de câmbio não se sustentou, uma vez que o próprio Meirelles negou, em entrevista nesta tarde à TC Rádio, do Traders Club, uma plataforma de investidores, ter recebido convite direto para participar do governo Lula.

“O mercado tem aquela dinâmica de ser meio exagerado também. Eu já achava que com a eleição chegando os preços deveriam estar melhores, porque de toda forma de quem vencer não se espera uma guinada no fiscal”, disse Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital.

“(Meirelles) daria para o Lula a credibilidade de que ele precisa para gastar mais ano que vem”, disse um gestor de uma grande asset em São Paulo. O petista está à frente nas pesquisas eleitorais e tem chances de levar a vitória já no primeiro turno.

O rumo da política fiscal no próximo ano é um dos pontos que mais centralizam os debates entre investidores, cuja confiança já foi abalada por sucessivas flexibilizações do teto de gastos –instrumento tido como âncora fiscal e de autoria do próprio Meirelles durante o governo Temer–, pelo aumento de despesas sociais e, sobretudo, pela perspectiva de que esses gastos adicionais, previstos para serem temporários, se tornem permanentes.

“O fiscal vai piorar independentemente de quem vencer, mas não drasticamente”, disseram profissionais do Morgan Stanley em relatório de estratégia para Brasil no pós-eleição. Eles avaliam que a “discrepância” está em questões macro, “com mais riscos sob Lula”.

Os estrategistas dizem gostar da compra de títulos do Brasil em dólar para 2050 contra o papel com vencimento em 2031, além de posição vendida em DI janeiro 2025 e exposição comprada em real versus o rand sul-africano

Kokudai, gestor na JPP Capital, disse que um segundo turno poderia dar fôlego ao mercado, uma vez que investidores poderiam esperar mais chances de o atual presidente, Jair Bolsonaro, tomar a dianteira.

Pesquisa da BGC feita entre 28 e 29 de setembro com 212 investidores institucionais mostrou expectativa de valorização do dólar e queda do Ibovespa em caso de vitória de Lula no primeiro turno. Com um segundo turno, mas o petista à frente na etapa inicial, a mediana das respostas apontou variação praticamente nula dos ativos.

Mas em caso de ida ao segundo turno com Bolsonaro tomando a frente nos resultados deste domingo, o dólar poderia cair 2% e a bolsa subir 5%.

No acumulado de uma semana iniciada sob forte aversão a risco nas praças internacionais, o dólar avançou 2,78%, maior alta desde meados de junho.

Em setembro, a divisa saltou 3,72%, maior elevação também desde junho. No trimestre, apreciou 3,12%, reduzindo o declínio em 2022 para 3,22%.

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