O Ibovespa renovou máximas históricas nesta terça-feira, 2, ultrapassando os 161 mil pontos pela primeira vez, em pregão endossado pelo cenário externo, principalmente expectativas relacionadas aos próximos passos do banco central dos Estados Unidos. Já o dólar fechou em queda ante o real, após uma sessão em que a moeda norte-americana registrou perdas contra a maioria das principais divisas globais, ao mesmo tempo em que as perspectivas eleitorais domésticas chamaram atenção do mercado. 

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O principal índice fechou em alta de 1,56%, a 161.092,25 pontos, renovando recordes de fechamento e intradia. Na mínima do pregão, marcou 158.611,50 pontos. O volume financeiro somou R$ 24,55 bilhões. A moeda norte-americana à vista fechou em queda de 0,57%, aos R$ 5,3303 na venda.  +Veja cotações

Na visão do sócio e advisor da Blue3 Investimentos Willian Queiroz, a performance do Ibovespa está relacionada a expectativas de novo corte da taxa de juros norte-americana na próxima semana, e o rali mais recente não finaliza um possível ciclo de alta para os próximos meses do Ibovespa.

“Se analisarmos o comportamento médio do Ibovespa após a pandemia, percebemos que a bolsa ficou por muito tempo lateralizada… Esse ‘sprint’ de alta que nós temos agora, basicamente poderíamos considerar como um movimento de correção do Ibovespa”, acrescentou.

Em 2020, o Ibovespa fechou o ano a 119.017,24 pontos. Em 2024, a 120.283,40 pontos. Em 2025, até o momento, registrou perdas no acumulado mensal apenas em fevereiro e julho, contabilizando no ano até o momento uma valorização de 33,9%.

“O Ibovespa está andando tudo aquilo que não andou nos outros anos depois do pós-pandemia”, afirmou.

O dólar no dia 

Às 17h04, o contrato de dólar futuro para janeiro — atualmente o mais negociado no Brasil — caía 0,43% na B3, aos R$ 5,3640.

“O dólar recuou no pregão de hoje em meio a um ambiente mais construtivo no mercado doméstico, com o cenário eleitoral em pauta, após divulgação de pesquisas mostrando crescimento do candidato da oposição nas intenções de votos do primeiro e segundo turno”, apontou Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

No campo externo, a perspectiva de que o Federal Reserve cortará juros na próxima semana continuou influenciando o desempenho dos ativos. O mercado de títulos norte-americano precificava no fim da tarde 89,2% de probabilidade de corte de 25 pontos-base da taxa de juros, contra 10,8% de chance de manutenção na faixa de 3,75% a 4,00%, conforme a Ferramenta CME FedWatch.

Esse cenário reduziu a atratividade do dólar, fazendo a moeda norte-americana registrar perdas diante da maioria das moedas globais. Às 17h35, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,07%, a 99,362. O real figurou entre as três moedas com maiores ganhos ao longo do pregão.

Localmente, a divulgação de uma pesquisa eleitoral pela AtlasIntel mostrando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reduzindo a diferença para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um eventual segundo turno da disputa presidencial, agradou os mercados.

“Em dia de queda do DXY e pesquisa eleitoral favorável, o mercado melhorou geral. Temos questões externas e internas para motivar uma queda do câmbio aqui”, disse José Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos.

Ainda na cena política, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou o projeto de lei que aumenta a tributação sobre apostas online e fintechs, passando a incluir uma elevação gradual das alíquotas.

Já no front macroeconômico, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a produção industrial brasileira registrou alta de 0,1% em outubro na comparação com o mês anterior. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a produção caiu 0,5%. As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de alta de 0,4% na variação mensal e de 0,2% na base anual.

O Banco Central vendeu todos os 40.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em rolagem no fim da manhã.

O dia do Ibovespa

De acordo com o estrategista de investimentos Bruno Perri, economista-chefe e sócio da Forum Investimentos, o silêncio do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, sobre política monetária em evento na véspera bastou para a manutenção das apostas de novo afrouxamento da taxa básica de juros nos EUA.

No final da tarde, conforme a ferramenta FedWatch, da CME, os contratos futuros de juros nos EUA precificavam perto de 90% de probabilidade de o Fed cortar juros em 0,25 ponto percentual na próxima semana.

Em paralelo, acrescentou Perri, a produção industrial no Brasil em outubro teve desempenho bem aquém do esperado e reforçou percepção de desaceleração da atividade econômica, colaborando para o fechamento das curvas de juros doméstica e impulsionando o Ibovespa.

A sessão ainda contou com telefonema entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, no qual trataram sobre tarifas comerciais e combate ao crime organizado, em uma conversa que durou cerca de 40 minutos e que foi “muito produtiva”, segundo nota do Palácio do Planalto.

DESTAQUES

– ITAÚ UNIBANCO PN avançou 2,23%, em pregão positivo entre os bancos do Ibovespa, com BRADESCO PN fechando em alta de 1,07%, BANCO DO BRASIL ON subindo 1,63%, SANTANDER BRASIL UNIT ganhando 2,62% e BTG PACTUAL UNIT valorizando-se 2,81%.

– VALE ON subiu 0,82%, em pregão com evento da mineradora e investidores em Londres, bem como a divulgação de previsões de produção para os próximos anos. A Vale também anunciou acordo entre sua subsidiária Vale Base Metals e a Glencore para potencial desenvolvimento de cobre no Canadá.

– PETROBRAS PN encerrou com acréscimo de 0,69%, mesmo em meio ao declínio do petróleo no exterior, onde o barril do Brent cedeu 1,14%. PETROBRAS ON terminou com elevação de 0,54%.

– GRUPO ULTRA ON avançou 3,33%, após o conselho de administração da companhia aprovar distribuição de dividendos intermediários no valor de R$1,08 bilhão.

– SABESP ON subiu 2,97%, tendo no radar autorização da agência reguladora Arsesp para a companhia de saneamento aplicar reajuste médio de 6,5% nas tarifas vigentes aos usuários, a partir de 1 de janeiro de 2026.

– TIM ON caiu 0,74%, no segundo pregão seguido de queda. Analistas do Itaú BBA chamaram a atenção para dados da Anatel, conhecidos na segunda-feira, que consideraram negativos para a TIM, uma vez que mostraram desaceleração das adições líquidas no pós-pago e aceleração nas desconexões do pré-pago. TELEFÔNICA BRASIL ON subiu 0,78%.

– VAMOS ON fechou em alta de 6,46%, endossada pelo alívio na curva de DI, assim como LOCALIZA ON, que subiu 4,74%. No mesmo contexto, CVC BRASIL ON valorizou-se 6,63%, apoiada ainda pelo declínio do dólar em relação ao real.