Comentários mais amenos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação ao comando do Federal Reserve dispararam a busca por ativos de maior risco ao redor do mundo, fazendo o dólar fechar em baixa ante o real nesta quarta-feira, 23.

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Ainda que o movimento tenha desacelerado durante a tarde, o dólar à vista fechou em leve baixa de 0,17%, aos R$5,7177 — menor cotação desde 4 de abril, quando encerrou em R$ 5,6651. Em abril, no entanto, a divisa ainda acumula elevação de 0,19%. Veja cotações.

Às 17h04 na B3 o dólar para maio — atualmente o mais líquido no Brasil – cedia 0,05%, aos R$ 5,7245.

Já o Ibovespa fechou em, superando os 133 mil pontos no melhor momento, beneficiado pelo apetite a risco no exterior, em meio a esperanças de alívio na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e recuo do presidente Donald Trump quanto às ameaças de demitir o titular do Federal Reserve.

Na cena corporativa, o destaque ficou para JBS, que disparou, renovando máximas históricas, após obter aprovação do regulador norte-americano para dupla listagem de suas ações e convocar assembleia para votar o plano, que analistas avaliam ser capaz de destravar valor significativo para o papel.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa avançou 1,53%, a 132.459,19 pontos, de acordo com dados preliminares, tendo marcado 133.318,04 pontos na máxima e 130.467,91 pontos na mínima do dia. O volume financeiro somava R$ 21,9 bilhões antes dos ajustes finais.

O dólar no dia

Na noite de terça-feira, Trump afirmou que não tem planos de demitir o chair do Fed, Jerome Powell, mas disse querer taxas de juros mais baixas nos EUA.

“Não tenho intenção de demiti-lo”, disse Trump a repórteres no Salão Oval. “Gostaria que ele fosse um pouco mais ativo em termos de sua ideia de reduzir as taxas de juros”, acrescentou.

A fala trouxe alívio aos mercados nesta quarta-feira, que haviam reagido de forma negativa a comentários anteriores de Trump, ameaçando demitir Powell.

O otimismo cresceu quando uma fonte disse à Reuters que a Casa Branca analisa a possibilidade de reduzir as tarifas sobre as importações chinesas enquanto aguarda as negociações com Pequim.

“Vimos uma menor aversão ao risco, com as falas de Trump um pouco mais positivas. Este mercado um pouco menos avesso ao risco também beneficia o câmbio”, comentou durante a tarde Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Às 10h47, o dólar à vista atingiu a cotação mínima do dia de R$5,6563 (-1,24%).

A baixa do dólar começou a desacelerar em sintonia com a recuperação dos rendimentos dos Treasuries no exterior, após a divulgação de novos números sobre a economia norte-americana.

O Índice dos Gerentes de Compras (PMI) Composto, que acompanha os setores industrial e de serviços, caiu para 51,2 neste mês, nível mais baixo desde dezembro de 2023 e após leitura de 53,5 em março. Uma leitura acima de 50 indica expansão no setor privado. O PMI preliminar de manufatura subiu para 50,7, de 50,2 em março, enquanto o PMI preliminar de serviços recuou para 51,4, de 54,4 no mês passado.

“Tivemos um PMI industrial acima do esperado, o que mexeu na curva de juros dos EUA”, pontuou Gomes, ao justificar a recuperação do dólar ante o real. Às 16h38, o dólar à vista chegou a oscilar em alta, cotado na máxima de R$5,7296 (+0,04%).

Ainda assim, a moeda norte-americana voltou para o território negativo e encerrou o dia em leve baixa ante o real, em um dia de modo geral positivo para os ativos brasileiros, com avanço firme do Ibovespa e queda das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).

No exterior, o dólar tinha sinais mistos ante as moedas de emergentes no fim da tarde, mas sustentava ganhos ante divisas de proteção como o iene, o euro e a libra, em um claro sinal de que as declarações mais recentes de Trump sobre Powell foram bem recebidas.

Às 17h22 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas fortes — subia 0,35%, a 99,914.

No Brasil, pela manhã o Banco Central vendeu toda a oferta de 10.346 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de maio de 2025.

O dia do Ibovespa

A perspectiva de melhora nas negociações entre Washington e Pequim envolvendo as tarifas e retaliações entre ambos os países teve como suporte uma reportagem do Wall Street Journal, citando um alto funcionário da Casa Branca que disse que as tarifas dos EUA sobre a China provavelmente cairiam para algo entre 50% e 60%.

Na sequência, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse acreditar que as tarifas excessivamente altas entre os EUA e a China terão que ser reduzidas para que as negociações comerciais possam avançar. Ele, porém, disse que não há previsão para o início das conversas com a China.

Na véspera, Trump já havia afirmado que seria muito simpático nas negociações com Pequim e que as tarifas sobre as importações do país cairiam significativamente após um acordo.

O noticiário envolvendo a tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo reforçou o tom otimista já presente nos mercados após Trump declarar na terça-feira que não tem intenção de demitir o chair do Fed, um recuo após dias de críticas a Jerome Powell por não ter reduzido os juros.

De acordo com o analista de investimentos Alison Correia, sócio-fundador da Dom Investimentos, o imbróglio envolvendo as críticas e ameaças de Trump a Powell estressou os mercados. “Quando ele começa a ceder, com discurso mais calmo, a temperatura muda”, afirmou.

Correia ponderou que “ainda tem chão para Trump aprontar”, que não se sabe qual vai ser o próximo passo dele. “Mas esse Trump mais soft…está acalmando os mercados.”

DESTAQUES

– JBS ON avançou 6,38%, renovando máximas históricas, após a SEC, que regula o mercado de capitais norte-americano, aprovar o pedido de dupla listagem das ações da maior produtora de carnes do mundo. A operação, que busca listar os papéis nos EUA e no Brasil, também depende da aprovação da contraparte brasileira, a CVM. A companhia convocou para 23 de maio assembleia extraordinária de acionistas sobre o plano. Se aprovado, a companhia estima o início da oferta das ações no mercado norte-americano a partir de junho.

– EMBRAER ON valorizou-se 3,53%, com agentes financeiros analisando dados divulgados na noite da véspera pela fabricante de aviões mostrando que a sua carteira de pedidos somou US$26,4 bilhões ao final do primeiro trimestre, crescimento de 25% sobre o valor apurado um ano antes e praticamente estável ante o final de 2024. A carteira de aviação comercial, principal segmento de negócios da Embraer, porém, somou US$10 bilhões, 10% abaixo do primeiro trimestre de 2024 e 2% menor que no quarto trimestre do ano passado.

– BRADESCO PN subiu 3,3%, puxando o desempenho positivo dos bancos no Ibovespa, seguido por BTG PACTUAL UNIT, que fechou em alta de 2,2%, ITAÚ UNIBANCO PN, que terminou com valorização de 2,1%, BANCO DO BRASIL ON, que encerrou com acréscimo de 0,94%, e SANTANDER BRASIL UNIT, que apurou variação positiva de 0,52%. A unidade do banco espanhol Santander abre a temporada de balanços desses bancos na próxima semana.

– VALE ON fechou com elevação de 1,19%, beneficiada pelo movimento dos futuros do minério de ferro na China. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian subiu 2,11%, terminando as negociações do dia em 727,5 iuanes (US$99,73) a tonelada. No setor USIMINAS PNA, que divulga balanço do primeiro trimestre de 2025 antes da abertura da bolsa na quinta-feira, subiu 6,3%, CSN MINERAÇÃO ON ganhou 5,75%, CSN ON avançou 3,16% e GERDAU PN valorizou-se 1,14%.

– HYPERA ON terminou com alta de 2,24% antes da divulgação do balanço do primeiro trimestre de 2025, após o fechamento do mercado. Analistas do JPMorgan afirmaram nessa semana que, embora não vejam o resultado do primeiro trimestre como um catalisador para as ações, a fala da administração em torno da potencial conclusão do plano de otimização do capital de giro e uma perspectiva melhor podem ser um gatilho positivo. A equipe do JPMorgan estima Ebitda ajustado negativo de R$143 milhões no primeiro trimestre para a Hypera.

– PETROBRAS PN recuou 1,13%, sucumbindo à fraqueza dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent fechou com declínio de 1,96%. Na máxima, mais cedo, as ações ON da estatal chegaram a R$31,78 (+2,78%). No setor de óleo e gás, PRIO ON caiu 3,26%, PETRORECONCAVO ON cedeu 2,6% e BRAVA ENERGIA ON encerrou em baixa de 0,64%.

– COGNA ON perdeu 8,08% e YDUQS ON caiu 5,5%, em sessão de ajustes, após forte valorização recente. No mês, até a véspera, Cogna acumulava valorização de 24,4% e Yduqs contabilizava alta de 27,73%.