O dólar fechou nesta terça-feira, 3, em queda ante o real, pela segunda sessão consecutiva e na contramão do exterior, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçar a intenção do governo de apresentar novas medidas na área fiscal, revendo o decreto de aumento do IOF.

+ Medidas fiscais só serão anunciadas após reunião com líderes parlamentares, diz Haddad

A moeda norte-americana à vista fechou em baixa de 0,65%, aos R$ 5,6373. No ano, a divisa dos EUA acumula perdas de 8,77% ante o real. Veja cotações.

Às 17h03 na B3 o dólar para julho — atualmente o mais líquido no Brasil — cedia 0,77%, aos R$ 5,6695.

O Ibovespa fechou em alta nesta terça-feira, após quatro quedas seguidas, endossado pelo avanço de Wall Street, com ações de consumo como Magazine Luiza e Natura&Co entre os destaques positivos, enquanto Rede D’Or caiu 3,23% após cortar plano de expansão de leitos hospitalares para o período de 2025 a 2028.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,56%, a 137.546,26 pontos, após marcar 136.174,84 pontos na mínima e alcançar 137.672,31 pontos na máxima do dia. O O volume financeiro somou R$21,81 bilhões.

O dólar no dia

No início do dia, em meio a preocupações com a guerra tarifária iniciada pelos EUA e a dados fracos da indústria chinesa, o dólar avançava no exterior e no Brasil.

O cenário começou a mudar perto das 11h00, quando Lula iniciou uma entrevista coletiva a jornalistas em Brasília e seus comentários sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foram bem-recebidos.

Segundo Lula, Haddad não teve problemas em rediscutir o decreto que elevou as alíquotas do imposto e novas propostas estão em negociação.

O governo anunciou em 22 de maio as elevações no IOF sobre uma série de operações cambiais, de crédito e de previdência privada, para cumprir sua meta fiscal. As medidas geraram forte reação política e foram parcialmente revertidas, mas as que permaneceram em vigor ainda enfrentam resistência.

“A apresentação do IOF foi o que eles pensaram naquele instante. Aí se aparece alguém com ideia melhor e ele (Haddad) topa discutir, vamos discutir”, disse Lula.

Assim, após atingir a cotação máxima de R$5,7110 (+0,65%) às 9h59, antes da fala de Lula, o dólar à vista cedeu à mínima de R$5,6252 (-0,86%) às 15h10, já após os comentários e com o mercado na expectativa pelo resultado de reunião entre o presidente e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“A entrevista do Lula pela manhã sinalizando que vai apresentar um pacote de medidas e que existe consenso entre Congresso e Fazenda fez preço e derrubou o dólar”, comentou durante a tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.

Perto das 15h40, após reunião com Lula, Haddad e os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), falaram à imprensa.

Haddad afirmou que as medidas fiscais estruturais em discussão pelo governo não serão anunciadas antes de uma reunião com lideranças partidárias do Congresso Nacional. Segundo ele, deve haver uma reunião já no próximo domingo com os líderes, e a partir da semana que vem o governo vai encaminhar as propostas.

Ao mesmo tempo, Haddad afirmou que o governo precisa que pelo menos parte das medidas fiscais a serem propostas avancem para que o decreto que elevou o IOF possa ser revisto.

Sem o anúncio de medidas concretas por Haddad e sem a garantia de que o decreto do IOF será totalmente revogado, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) desaceleraram as perdas, com o mercado reagindo negativamente.

No câmbio, o dólar à vista recuperou um pouco de força ante o real, mas ainda assim fechou em baixa e na contramão do exterior, onde a moeda norte-americana sustentava ganhos ante a maior parte das demais divisas.

Às 17h24, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,70%, a 99,268.

Pela manhã, o Banco Central vendeu toda a oferta de 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de julho de 2025.

O do dia Ibovespa

Em Wall Street, o S&P 500 avançou 0,58%, impulsionado pelas ações da Nvidia e de outros fabricantes de chips, com agentes aguardando possíveis negociações entre Estados Unidos e parceiros comerciais, em busca de mais clareza sobre os planos tarifários de Washington.

Investidores acompanharam coletiva à imprensa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final da manhã, na qual ele afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não teve problema em rediscutir o decreto que elevou alíquotas do IOF, acrescentando que uma nova proposta seria discutida nesta terça-feira.

À tarde, Haddad disse que há espaço para calibragem do decreto que elevou IOF se medidas fiscais estruturais em discussão pelo governo avançarem, ponderando que as iniciativas não serão anunciadas antes de uma reunião com lideranças partidárias do Congresso Nacional prevista para o domingo.

De acordo com Willian Queiroz, sócio e advisor da Blue3 Investimentos, repercutiu bem a sinalização do governo de que está tentando encontrar novas medidas fiscais após a recepção negativa com o decreto sobre o IOF. “Isso traz uma possibilidade de negociação ou de flexibilização”, afirmou.

DESTAQUES

– MAGAZINE LUIZA ON fechou em alta de 7,44%, no terceiro pregão seguido de valorização, em meio à possibilidade de mudanças no decreto que elevou alíquotas do IOF. CVC BRASIL ON avançou 4,86%.

– B3 ON subiu 3,43%, entre os principais suportes do Ibovespa, em dia de recuperação após quatro quedas seguidas, período em que acumulou uma perda de 4,66%.

– BRADESCO PN avançou 1,7%, com analistas do Itaú BBA elevando a recomendação para as ações a “outperform” e o preço-alvo a R$20. BANCO DO BRASIL ON subiu 0,27% e SANTANDER BRASIL UNIT valorizou-se 0,75%. Na contramão, ITAÚ UNIBANCO PN caiu 0,32%.

– PETZ ON avançou 0,93%, após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar na véspera a fusão da varejista de produtos e serviços para animais de estimação com a rival Cobasi, sem restrições, o que cria uma gigante do setor no país.

– REDE D’OR ON recuou 3,04%, após o grupo de saúde revisar seu plano de crescimento orgânico para o período de 2025 a 2028, quando prevê abrir um total de 3.203 leitos hospitalares, conforme o mais recente formulário de referência.

– VALE ON encerrou com variação negativa de 0,06%, em dia de fraqueza dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com queda de 1,14%, a 695,5 iuanes (US$96,69) a tonelada.

– PETROBRAS PN cedeu 0,27%, apesar do avanço dos preços do petróleo no exterior, onde o barril do Brent fechou em alta de 1,5%. Também no radar estão notícias sobre eventuais medidas envolvendo o setor de petróleo a fim de melhorar as receitas do governo.