Após se reaproximar dos R$ 5,60 no início do dia, o dólar retomou a força ante o real e fechou a quarta-feira em leve alta, numa sessão marcada pelas discussões em Brasília sobre o pacote fiscal para substituir o aumento do IOF e por nova pesquisa de popularidade negativa para o governo Lula.

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O avanço do dólar ante o real esteve na contramão do exterior, onde a divisa norte-americana cedia ante a maior parte das demais moedas.

O dólar à vista fechou em alta de 0,14%, aos R$ 5,6450. No ano, a divisa dos EUA acumula perdas de 8,64%.

Já o Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira, pressionado principalmente pela queda da Petrobras, em meio ao declínio dos preços do petróleo no exterior e receios com eventuais medidas do governo visando arrecadação de receitas extras junto ao setor de petróleo.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,40%, a 137.001,58 pontos, após marcar 138.796,91 pontos na máxima e 136.695,49 pontos na mínima do dia. O volume financeiro somava R$ 21,97 bilhões antes dos ajustes finais.

O dólar no dia

Na véspera, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as medidas fiscais estruturais em discussão pelo governo não serão anunciadas antes de uma reunião com lideranças partidárias do Congresso Nacional. Ao mesmo tempo, Haddad afirmou que o governo precisa de avanços em pelo menos parte das medidas fiscais a serem propostas para que o decreto que elevou o IOF possa ser revisto.

Apesar da indefinição sobre o pacote fiscal, o fato de Haddad e os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), transmitirem a ideia de que buscam uma solução conjunta foi bem recebida pelo mercado, afirmou João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos.

“A definição de uma agenda entre governo e Congresso foi positiva, demonstra boa vontade em uma resolução conjunta”, avaliou Duarte. “Então, em um primeiro momento, o efeito foi bom para o câmbio.”

Às 9h22, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de R$ 5,6115 (-0,46%).

Ao longo da manhã, no entanto, a moeda norte-americana foi se recuperando ante o real, com investidores ainda cautelosos em relação ao cenário fiscal brasileiro.

A queda da aprovação do governo Lula, revelada pela pesquisa Genial/Quaest pela manhã, reforçou o temor de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa adotar novas medidas econômicas para recuperar a popularidade, pressionando ainda mais as contas públicas.

Conforme a pesquisa Genial/Quaest, 57% dos entrevistados desaprovavam o governo Lula em maio, o maior índice registrado para esse quesito no atual mandato. Em março, a desaprovação correspondia a 56% — a variação em maio ficou dentro da margem de erro da pesquisa, de 2 pontos-percentuais para mais ou para menos.

A aprovação da gestão também oscilou dentro da margem de erro e passou de 41% na última rodada da pesquisa para 40% agora.

Na prática, os números sugeriram, na visão do mercado, que Lula segue com dificuldades entre os eleitores.

Neste cenário, o dólar à vista escalou até a máxima de R$5,6537 (+0,29%) às 16h19, para depois fechar próximo deste nível.

Pela manhã, o Banco Central vendeu apenas US$400 milhões em um leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) para rolagem de vencimentos de julho, apesar da oferta de US$1 bilhão.

Também pela manhã, o BC vendeu toda a oferta de 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de julho de 2025.

No exterior, no fim da tarde o dólar se mantinha em baixa ante a maior parte das demais divisas, após a divulgação de dados fracos sobre empregos no setor privado e o setor de serviços nos EUA.

Às 17h07, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,32%, a 98,849.

O dia do Ibovespa

Na visão do estrategista Felipe Paletta, da EQI Research, o Ibovespa avançou nos primeiros negócios com pesquisa mostrando que os índices de avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva seguiram trajetória de piora, “naquele trade de uma eventual alternância de poder”.

Mas, acrescentou, esse movimento teve vida curta, com movimentos de realização de lucros pressionando as ações, com destaque para Petrobras, também afetada por notícias recentes sobre medidas governamentais envolvendo o setor de petróleo.

Investidores também continuam acompanhando as discussões sobre um pacote fiscal previsto para a próxima semana, em meio a expectativas de que o mesmo deve oferecer alternativas a aumentos do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) anunciados no mês passado, que repercutiram mal de forma generalizada.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na véspera que há espaço para calibragem do decreto que elevou IOF se medidas fiscais estruturais em discussão pelo governo avançarem, mas que as iniciativas não serão anunciadas antes de reunião com lideranças partidárias do Congresso prevista para o domingo.

Fontes a par das tratativas afirmaram à Reuters que o governo vai negociar com lideranças partidárias uma revisão nos gastos com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e cortes em incentivos tributários.

Em Wall Street, o S&P 500 fechou estável, com agentes financeiros repercutindo dados sobre a economia norte-americana e monitorando negociações comerciais dos Estados Unidos enquanto aguardam números do mercado de trabalho da maior economia do mundo na sexta-feira.

DESTAQUES

– PETROBRAS PN caiu 2,75%, acompanhando o declínio do petróleo no exterior, onde o barril de Brent encerrou em baixa de 1,17%. Agentes também estão atentos a eventuais medidas do governo federal envolvendo o setor de petróleo para melhorar as contas públicas. BRAVA ENERGIA ON subiu 1,19%, após alta na produção de maio.

– ITAÚ UNIBANCO PN caiu 0,24%, completando o sexto pregão seguido de queda desde que renovou máxima histórica intradia, em 27 de maio. No período, acumulou queda de quase 3%. BRADESCO PN cedeu 0,3%, SANTANDER BRASIL UNIT perdeu 2,35% e BANCO DO BRASIL ON encerrou o dia com declínio de 2,74%.

– VALE ON subiu 0,46%, seguindo os futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com alta de 1,37%, a 704,5 iuanes (US$97,98) a tonelada.

– MAGAZINE LUIZA ON recuou 2,05%, refletindo ajustes após três altas seguidas, sendo que apenas na véspera fechou com valorização de mais de 7%. Outros papéis de varejo e consumo também figuraram na ponta negativa, como ASSAÍ ON, que caiu 3,04%, VIVARA ON, que terminou em baixa de 2,49%, e NATURA&CO ON, que cedeu 2,51%.

– MINERVA ON caiu 7,13%, no segundo pregão seguido de baixa. Na segunda-feira, a empresa anunciou a conclusão de oferta primária de ações com captação de R$1,7 bilhão. Analistas da Genial destacaram que a operação representa um avanço claro na frente de desalavancagem, mas também citaram diluição relevante dos acionistas que não participaram.

– MRV&CO ON disparou 6,86%, ampliando o ganho no mês para quase 12%, com desempenho bem acima do índice do setor imobiliário na B3, que encerrou o dia com elevação de 0,16%. A recuperação nesses primeiros pregões de junho vem após o papel acumular uma queda de 10,6% em maio, mês marcado pela divulgação do resultado do primeiro trimestre, que desagradou.

– EMBRAER ON avançou 4,06%, com “upgrade” de analistas do HSBC, que elevaram a recomendação das ações da fabricante de aviões para compra e preço-alvo dos ADRs da companhia de US$45 para US$57. Também no radar está a Paris Air Show, evento da indústria da aviação que começa no próximo dia 16 e pode trazer anúncios sobre pedidos no setor.