05/06/2025 - 17:13
O dólar caiu mais de 1% no Brasil nesta quinta-feira e encerrou a sessão abaixo de R$ 5,60 pela primeira vez em 2025, acompanhando o movimento quase generalizado de recuo da moeda norte-americana no exterior, após o Banco Central Europeu (BCE) indicar uma pausa em seu processo de corte de juros e em meio às negociações comerciais entre EUA e China.
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A moeda norte-americana à vista fechou em baixa de 1,03%, aos R$ 5,5871 — o menor valor de fechamento para o dólar em 2025. Essa é a menor cotação de encerramento desde 14 de outubro do ano passado, quando fechou aos R$ 5,5827.
Em 2025, a divisa dos EUA acumula perdas de 9,58%.
Às 17h45, na B3 o dólar para julho — atualmente o mais líquido no Brasil — cedia 0,82%, aos R$ 5,6165.
E o Ibovespa também fechou em queda nesta quinta-feira, pressionado principalmente por bancos e com Hapvida na ponta negativa em meio a dados mostrando queda no número de beneficiários em abril, enquanto Suzano foi destaque de alta após fechar acordo para formar uma joint-venture global com a Kimberly-Clark.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,56%, a 136.236,37 pontos, após marcar 136.030,75 pontos na mínima e 137.451,31 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somava R$ 19,98 bilhões antes dos ajustes finais.
O dólar no dia
Na ausência de novidades sobre o pacote fiscal em discussão entre governo e Congresso em Brasília, que pode substituir elevações do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) anunciadas pela equipe econômica há duas semanas, os investidores se voltaram nesta quinta-feira para o exterior.
Lá fora, as notícias eram fatores de pressão para o dólar, favorecendo as moedas de países exportadores de commodities e emergentes, como o real.
No início do dia o BCE reduziu suas taxas de juros, conforme esperado, mas passou indicações de que dará uma pausa no atual ciclo de cortes.
“No nível atual, acreditamos que estamos em uma boa posição para navegar pelas circunstâncias incertas que virão”, disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, em uma coletiva de imprensa, ao mesmo tempo em que repetiu que não se “comprometeria previamente” com uma trajetória para os juros.
A expectativa de manutenção dos juros pelo BCE no próximo encontro de política monetária reforçou perspectiva de que o diferencial de juros em relação aos Estados Unidos não vai aumentar. Com isso, a moeda norte-americana cedeu ante o euro, colocando o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — também em baixa.
Outro fator para o recuo do dólar ante boa parte das demais divisas era o avanço das negociações entre EUA e China, envolvidos em uma disputa tarifária. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder da China, Xi Jinping, se falaram por telefone nesta quinta-feira e trataram das tensões comerciais crescentes.
Nas redes sociais, Trump afirmou que a conversa, focada principalmente no comércio, levou a “uma conclusão muito positiva”, anunciando mais discussões entre EUA e China.
O diálogo foi bem recebido pelos investidores, impulsionando moedas de exportadores de commodities como o real.
“O movimento geral do mercado é de tomada de risco em meio ao avanço das negociações entre Trump e Xi Jinping. Moedas de países emergentes e ligados a commodities são especialmente beneficiadas, pela forte exposição à economia chinesa”, escreveu Paula Zogbi, estrategista-Chefe da Nomad.
Neste cenário, após marcar a cotação máxima de R$ 5,6382 (-0,12%) às 9h10, pouco depois da abertura, o dólar à vista despencou para a mínima de R$ 5,5779 (-1,19%) às 14h17.
No fim da tarde, o dólar já demonstrava maior acomodação ante as demais divisas fortes. Às 17h44, o índice do dólar caía 0,04%, a 98,758.
O dia do Ibovespa
Na visão do responsável pela mesa de ações do BTG Pactual, Jerson Zanlorenzi, há um nível maior de incertezas, o que tem afetado o apetite a risco. Um dos componentes que têm pesado, afirmou, é a discussão envolvendo o recente anúncio de aumento do IOF e o quadro fiscal do país.
“Isso mostra ainda uma dificuldade do governo em avançar e discutir essas pautas que geram tanta preocupação no mercado, de desequilíbrio fiscal, eficiência de indústrias”, observou, ponderando que há também questões externas afetando o sentimento dos investidores na bolsa paulista.
Em Wall Street, o S&P 500 recuou 0,53%, com a queda nas ações da Tesla compensando notícias de progresso nas negociações comerciais entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping. O rendimento do título de 10 anos do Tesouro dos Estados Unidos subia a 4,3985% no final da tarde.
DESTAQUES
– BRADESCO PN caiu 2,92%, em mais um pregão de realização de lucros, com o ganho no ano até a véspera alcançando 50%. ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 1,22%, SANTANDER BRASIL UNIT recuou 0,31%, enquanto BANCO DO BRASIL ON fechou com decréscimo de 0,49%.
– SUZANO ON avançou 6,31%, após anunciar acordo para formar uma joint-venture global com a Kimberly-Clark em que vai investir US$1,7 bilhão para ter 51% de participação em uma operação que envolve 22 fábricas de papéis sanitários, conhecidos como “tissue”, no mundo. A companhia brasileira terá opção de comprar futuramente os 49% restantes da joint-venture.
– HAPVIDA ON recuou 5,92%, após dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de abril mostrarem queda no número de clientes dos planos de saúde da companhia, de 28 mil em relação a março, na contramão de outros grupos do setor, como SulAmérica, da Rede D’Or, Amil, Porto Seguro e Bradesco Saúde.
– GERDAU PN valorizou-se 3,47%, endossada por “upgrade” do Bank of America, com os analistas do banco elevando a recomendação das ações para compra” e o preço-alvo de R$R$17,50 para R$22. No setor, CSN ON encerrou com declínio de 0,72% e USIMINAS PNA cedeu 0,96%, tendo ainda no radar dados de produção de veículos no Brasil.
– TOTVS ON fechou em baixa de 2,28%, tendo como pano de fundo relatório do UBS BB com corte na recomendação da ação para neutra, mas alta do preço-alvo de R$43 para R$49. Também no radar está notícia do Valor de que a empresa de tecnologia contratou o Morgan Stanley para vender sua participação na Dimensa.
– B3 ON recuou 2,65%, com analistas do Citi também cortando a recomendação da ação para “neutra”, conforme relatório no final da quarta-feira, citando a forte valorização desde o começo do ano e avaliando que o “dividend yield” agora parece menos atrativo. Em relatório mais cedo na quarta-feira, o Goldman Sachs também cortou a recomendação para neutra.
– MINERVA ON subiu 4,9%, em dia de recuperação após tombo de mais de 7% na véspera. Na contramão, MARFRIG ON caiu 1,86%, enquanto JBS ON ganhou 0,6% e BRF ON fechou estável.
– PETROBRAS PN fechou com variação positiva de 0,03%, mesmo com a alta dos preços do petróleo no exterior, uma vez que persistem receios sobre eventuais medidas do governo envolvendo o setor para melhorar as contas públicas. A presidente da estatal, Magda Chambriard, afirmou em entrevista à Reuters nesta quinta-feira que a Petrobras planeja tornar a África sua principal região exploratória de petróleo e gás fora do Brasil.
– VALE ON subiu 0,27%, mesmo com o declínio dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na bolsa de Dalian encerrou as negociações diurnas em queda de 0,14%.