O dólar à vista fechou perto da estabilidade nesta terça-feira, refletindo uma sessão de baixa volatilidade tanto no mercado nacional quanto no cenário externo, conforme os investidores continuaram monitorando o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos, com a ata do Banco Central também no radar.

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O dólar à vista fechou em baixa de 0,02%, a R$ 5,50565.

Às 17h10, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,23%, a R$ 5,542 na venda.

O pregão desta terça foi novamente marcado pelo foco no comércio, na véspera da entrada em vigor da tarifa de 50% do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre uma série de produtos brasileiros, enquanto o governo do Brasil busca negociar com Washington.

Durante todo o dia, os investidores estiveram receosos de que a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de determinar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro pudesse gerar uma reação de Trump, que vincula sua ameaça tarifária ao julgamento do aliado.

Ainda que esse temor não tenha se concretizado, pelo menos por enquanto, os agentes financeiros permaneceram cautelosos, sem realizar apostas em qualquer direção no mercado de câmbio.

“Como houve (anteriormente) um bombardeio de notícias muito rápido, acho que o mercado não está conseguindo se posicionar. Isso é um problema, tem que ter algo muito grande para o mercado ir para uma direção”, disse Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Segundo Freitas, um ponto de atenção para os investidores nas próximas sessões será a expectativa pelo anúncio de um plano de contingência por parte do governo para enfrentar os potenciais impactos da tarifa dos EUA.

“Caso realmente prevaleçam as tarifas, pode haver subsídios, o que aponta para a questão fiscal. Essas definições com certeza vão impactar no mercado”, disse.

Os investidores domésticos também acompanharam mais cedo a divulgação da ata da mais recente reunião de política monetária do Banco Central, quando as autoridades decidiram manter a taxa de juros em 15%.

A autarquia manteve a visão de que os vetores inflacionários seguem adversos, com pressões no mercado de trabalho, expectativas de mercado para a inflação desancoradas e projeções de preços elevadas, o que enfatiza a necessidade de juros em patamar contracionista por período bastante prolongado.

O dólar atingiu a maior cotação do dia, a R$ 5,5326 (+0,46%), ainda nos primeiros minutos de negociações. A mínima do pregão, a R$ 5,4990 (-0,15%), foi alcançada às 10h39.

No cenário externo, o sentimento também era de cautela, depois da forte volatilidade recente impulsionada por um relatório de emprego fraco nos EUA que fomentou apostas de que o Federal Reserve poderá cortar a taxa de juros já em seu próximo encontro, em setembro.

Os mercados globais esperam que Trump indique um substituto nos próximos dias para a diretora do Fed Adriana Kugler, que renunciou antecipadamente ao cargo na semana passada. A expectativa é de que o indicado seja alinhado à visão de Trump de defender cortes de juros imediatos.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,14%, a 98,764.

Mais cedo, o Banco Central vendeu 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de setembro de 2025.

Ibovespa fecha em alta com aval de Itaú antes de balanço

O Ibovespa fechou em alta nesta terça-feira, com Itaú entre os principais suportes antes da divulgação do balanço do banco após o encerramento do pregão, enquanto Embraer e Klabin figuraram na ponta negativa após os respectivos resultados publicados mais cedo.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,14%, a 133.151,3 pontos, tendo marcado 134.232,83 pontos na máxima e 132.681,92 pontos na mínima do dia. O volume financeiro somou R$ 18,8 bilhões, de uma média diária no ano de cerca de R$ 24 bilhões.

Na visão do sócio e advisor da Blue3 Investimentos Willian Queiroz, a bolsa teve um dia não tão agitado, em parte, por um certo receio de uma resposta do governo norte-americano à prisão domiciliar decretada na véspera para o ex-presidente Jair Bolsonaro, pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

“A priori, não tivemos maiores impactos. No entanto, o principal medo, a principal ameaça que os mercados sentem é uma possível retaliação ou dificuldade com um congelamento na possibilidade de novas negociações (envolvendo as tarifas comerciais dos EUA aos produtos brasileiros)”, afirmou.

Ao anunciar o aumento de tarifas para os produtos brasileiros no mês passado, o presidente dos EUA, Donald Trump, vinculou a decisão ao tratamento recebido pelo ex-presidente, que está sendo julgado sob acusação de planejar um golpe de Estado.

Wall Street tampouco ajudou a melhorar o ímpeto no pregão brasileiro, com o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano fechando com declínio de 0,49%. Investidores continuaram acompanhando o noticiário sobre as tarifas comerciais, além de balanços e alguns dados econômicos.

Destaques do Ibovespa

Itaú (ITUB4) avançou 1,1% antes da divulgação do balanço do segundo trimestre após o fechamento da bolsa. Projeções de analistas compiladas pela LSEG I/B/E/S apontam lucro de R$ 11,3 bilhões. No setor, Bradesco (BBDC4) subiu 0,19% e Santander Brasil (SANB11) caiu 0,99%. Ambos já reportaram seus desempenhos trimestrais.

Banco do Brasil (BBAS3) cedeu 0,53%, tendo ainda como pano de fundo resultado do seu braço de seguros e previdência do banco, com crescimento de quase 20% no lucro do segundo trimestre. A BB Seguridade (BBSE3), porém, revisou para baixo previsões para o ano. BB Seguridade (BBSE3) subiu 1,13%. O Banco do Brasil divulga seu balanço no próximo dia 14.

Hapvida (HAPV3) fechou em alta de 4,65%, com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostrando adição líquida de cerca de 36 mil usuários de planos de saúde da companhia em junho ante maio, com os saldos no acumulado do trimestre e no ano passando para o positivo, com cerca de 25 mil e 3 mil clientes, respectivamente.

Vale (VALE3) cedeu 0,13%, apesar da alta dos futuros do minério de ferro no exterior, com demanda resiliente de curto prazo na China. O contrato mais negociado em Dalian fechou o dia com alta de 1,2%. No setor, CSN (CSNA3) caiu 2,82% e Usiminas (USIM5) cedeu 2,51%, enquanto Gerdau (GGBR4) teve variação negativa de 0,37%.

Petrobras (PETR4) mostrou acréscimo de 0,47%, resistindo ao declínio dos preços do petróleo no mercado internacional, onde o barril do Brent fechou em queda de 1,63%. No setor, 3R Petroleum (RRRP3) valorizou-se 5,74%, Prio (PRIO3), que divulga balanço nesta terça-feira, ganhou 0,35% e PetroReconcavo (RECV3) apurou alta de 0,83%.

Klabin (KLBN11) recuou 2,56%, com agentes também analisando os números do segundo trimestre, com Ebitda ajustado de R$ 2,04 bilhões, praticamente em linha com as previsões. A maior fabricante de papel para embalagens do Brasil e produtora de celulose também aprovou R$ 306 milhões em dividendos, correspondente a R$0,25 por unit.

Embraer (EMBR3) caiu 1,73%, perdendo o fôlego da abertura, quando encostou em R$ 83, em dia marcado pela repercussão do balanço do segundo trimestre, bem como sinalizações positivas de executivos sobre novas encomendas.

BRF (BRFS3) perdeu 1,43% em pregão marcado por assembleia de acionistas na qual foi aprovada combinação dos negócios da empresa com a Marfrig. Marfrig (MRFG3) subiu 3,56% no Ibovespa. A operação, se consumada, formará a MBRF, uma empresa global do setor de carnes e alimentos processados com receita da ordem de R$ 152 bilhões consolidada em 12 meses.