As notícias de um acordo comercial entre Estados Unidos e China e, em especial, a inflação norte-americana abaixo do esperado em maio colocaram o dólar em trajetória de baixa ao redor do mundo, o que fez a divisa fechar nesta quarta-feira, 11, também em queda ante o real, no menor valor do ano.

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O dólar à vista fechou em baixa de 0,53%, aos R$ 5,5392, menor valor de encerramento desde 8 de outubro do ano passado, quando foi cotado a R$ 5,5334. Veja cotações.

Às 17h03 na B3 o dólar para julho — atualmente o mais líquido no Brasil — cedia 0,62%, aos R$ 5,5580.

Já o Ibovespa fechou em alta nesta quarta-feira, tendo Petrobras entre os principais suportes na esteira do avanço do petróleo no exterior, assim como os bancos, em meio a mais sinais de dificuldade para as medidas fiscais do governo que incluíam aumento da tributação do setor.

Dados de inflação mais fracos do que o previsto nos Estados Unidos, que serviram como gatilho para alívio nos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano, e um acordo comercial entre Washington e Pequim também endossaram o fechamento positivo na bolsa paulista pelo segundo pregão consecutivo.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,51%, a 137.128,04 pontos, após marcar 135.627,75 pontos na mínima do dia nos primeiros negócios. No melhor momento da sessão, chegou a 137.530,69 pontos.

O volume financeiro somava R$ 21,56 bilhões antes dos ajustes finais na B3.

O dólar no dia

O noticiário vindo do exterior nesta quarta-feira foi amplamente favorável à queda do dólar. No início do dia os mercados já reagiam à informação de que EUA e China concluíram o acordo comercial negociado nas últimas semanas.

Pelo acordo, conforme o presidente norte-americano, Donald Trump, a China vai remover as restrições às exportações de minerais de terras raras e outros componentes industriais. Além disso, os produtos chineses serão tarifados pelos EUA em 55%, enquanto os itens norte-americanos terão alíquota de 10% cobrada pelos chineses.

O acordo — que ainda precisará ser aprovado de forma definitiva por Trump e pelo presidente da China, Xi Jinping — foi bem recebido pelo mercado.

“Por mais que não saibamos quais serão exatamente os moldes, o acordo entre EUA e China acaba trazendo certo alívio para o mercado, porque é uma conclusão para a guerra comercial”, pontuou João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos.

Mais do que o acordo EUA-China, a divulgação de dados favoráveis da inflação norte-americana pesou sobre as cotações do dólar ante boa parte das demais divisas.

O Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% em maio, depois de alta de 0,2% em abril. Em 12 meses até maio, o índice avançou 2,4%, de 2,3% em abril. Os resultados ficaram abaixo das projeções dos economistas consultados pela Reuters, que previam alta de 0,2% na base mensal e de 2,5% na anual.

O núcleo da inflação, que exclui componentes voláteis como alimentos e energia, subiu 0,1% em maio, abaixo do 0,2% de alta em abril.

Os números do CPI elevaram as apostas de cortes de juros pelo Federal Reserve, o que se refletiu na queda global do dólar. No Brasil, após atingir a cotação máxima de R$5,5793 (+0,19%) às 9h10, antes da divulgação do CPI, o dólar à vista marcou a mínima de R$5,5223 (-0,84%) às 13h06, já após os dados de inflação dos EUA.

As notícias do exterior acabaram deixando em segundo plano o pacote fiscal do governo Lula. Durante audiência pública na Câmara dos Deputados, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que as medidas tributárias propostas pelo governo ao Congresso buscam maior contribuição de pessoas com renda mais alta.

Segundo ele, elas são necessárias para que o “ciclo virtuoso” vivido pelo país, com crescimento econômico e geração de empregos, seja sustentável.

Pela manhã o Banco Central vendeu toda a oferta de 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de julho de 2025. À tarde, BC informou que o Brasil registrou fluxo cambial total positivo de US$437 milhões em junho até o dia 6.

Às 17h25, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,30%, a 98,671.

O dia do Ibovespa

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), alertou mais de uma vez nesta quarta-feira que o pacote do governo para compensar mudanças no decreto que aumentou alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no mês passado enfrentará resistência no Congresso Nacional.

À tarde, partidos de oposição, incluindo PP e Republicanos, que têm ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgaram uma nota manifestando “desacordo com as medidas meramente arrecadatórias anunciadas pelo governo federal” e criticando a política fiscal do Executivo.

No domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou, após reunião com lideranças partidárias, medidas para recalibrar o decreto do IOF, o que gerou insatisfação geral. Entre as iniciativas, estão a taxação de títulos isentos e cobranças maiores sobre bets e instituições financeiras.

Na véspera, Haddad também confirmou a implementação de uma alíquota única de 17,5% de Imposto de Renda para aplicações financeiras e previu aumentar a tributação sobre Juros sobre Capital Próprio (JCP) de 15% para 20%.

Nos EUA, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% no mês passado, depois de alta de 0,2% em abril, informou o Escritório de Estatísticas do Trabalho, do Departamento do Trabalho, nesta quarta-feira. No período de 12 meses até maio, o índice avançou 2,4%, de 2,3% em abril.

Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,2% na base mensal e de 2,5% na anual.

Na visão do economista Brian Rose, do UBS, na margem, os resultados relativamente fracos da inflação nos últimos três meses facilitam o corte das taxas pelo Federal Reserve.

“No entanto, antes da reunião do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto do banco central dos EUA) da próxima semana, nossa visão continua sendo a de que o Fed precisará de dados mais fracos do mercado de trabalho para retomar os cortes de juros”, afirmou em relatório a clientes nesta quarta-feira.

“Nosso cenário base prevê cortes de 100 pontos-base a partir de setembro, mas isso pode ser adiado se o crescimento da folha de pagamento permanecer sólido ao mesmo tempo em que as tarifas pressionam a inflação”, acrescentou.

No campo das tarifas, o presidente Donald Trump afirmou nesta quarta-feira que o acordo dos EUA com a China está concluído, com Pequim fornecendo ímãs e minerais de terras raras enquanto Washington permitirá estudantes chineses em suas faculdades e universidades.

Uma autoridade da Casa Branca disse que o acordo permite que os EUA cobrem uma tarifa de 55% sobre produtos chineses importados. Isso inclui uma tarifa “recíproca” de 10%, uma taxa de 20% pelo tráfico de fentanil e uma tarifa de 25% que reflete taxas pré-existentes.

A China cobrará uma tarifa de 10% sobre as importações dos EUA, disse a autoridade.

Em Nova York, o rendimento do título de 10 anos do Tesouro norte-americano cedia a 4,416% no final da tarde, de 4,474% na véspera, mas o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, abandonou o sinal positivo e fechou com declínio de 0,27%.

A piora em Wall Street ocorreu após notícias de que os EUA estão preparando uma retirada parcial de sua embaixada no Iraque devido ao aumento dos riscos de segurança na região.

DESTAQUES

– PETROBRAS PN fechou em alta de 3,33% e PETROBRAS ON valorizou-se 2,93%, favorecidas pela performance robusta dos preços do petróleo no exterior, onde o barril do Brent fechou com elevação de 4,34%, a US$69,77. No setor, BRAVA ENERGIA avançou 3,03%, PRIO ON encerrou com acréscimo de 1,74% e PETRORECONCAVO ON subiu 2,7%.

– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,92% e BRADESCO PN ganhou 3,1%, com notícias sugerindo dificuldade de aprovação de medidas como aumento da CSLL sobre o setor financeiro. SANTANDER BRASIL UNIT avançou 4,65%, tendo ainda no radar relatório do UBS BB elevando a recomendação dos papéis a compra e o preço-alvo de R$30 para R$38. BANCO DO BRASIL ON foi exceção e encerrou com queda de 0,65%.

– VALE ON cedeu 0,88%, mesmo com a alta dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato de setembro na bolsa de Dalian encerrou as negociações diurnas com alta de 1%, a 707 iuanes (US$98,39) a tonelada.

– GERDAU PN perdeu 3,68%, no segundo dia seguido de ajuste negativo, após forte valorização recente. Do começo do mês até a segunda-feira, os papéis tinham subido 16,5%, com expectativas otimistas sobre os reflexos do aumento das tarifas de importação de aço pelos EUA nos resultados da companhia. A Bloomberg também noticiou que EUA e México estão perto de um acordo para aliviar as tarifas para o aço mexicano.

– TIM ON valorizou-se 3,51%, em sessão positiva no setor, com TELEFÔNICA BRASIL ON avançando 2,41%.

– MRV&CO ON terminou com acréscimo de 2,48%, no quarto pregão consecutivo de valorização e ampliando a recuperação em junho após fechar maio com perda acumulada de 10,6%. O índice do setor imobiliário, que também inclui papéis de empresas de shopping centers, caiu 0,73%.