O dólar à vista fechou em forte baixa ante o real nesta terça-feira, 12, na esteira das perdas da moeda norte-americana no exterior, depois que dados de inflação moderados nos Estados Unidos solidificaram as apostas de que o Federal Reserve (Fed) cortará a taxa de juros a partir de setembro.

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O dólar à vista fechou em baixa de 1,06%, a R$ 5,3864, alcançando a menor cotação desde 14 de junho de 2024, quando havia atingido R$ 5,3812. Veja cotações.

Às 17h03, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,95%, a R$ 5,416 na venda.

Já o Ibovespa fechou em alta nesta terça-feira, com BTG Pactual e Sabesp disparando e renovando máximas históricas após resultados robustos no segundo trimestre, em mais uma sessão com a temporada de balanços sob os holofotes, embora dados de inflação no Brasil e Estados Unidos também tenham repercutido no pregão.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,69%, a 137.913,68 pontos, maior patamar em cerca de um mês. No melhor momento do dia, marcou 138.414,25 pontos. No pior, registrou 135.629,09 pontos.

O volume financeiro somava R$ 24 bilhões antes dos ajustes finais.

O dólar no dia

Os movimentos do real nesta sessão tiveram como pano de fundo as quedas da divisa dos EUA ante a maioria de seus pares no exterior, em particular moedas emergentes, como o rand sul-africano e o peso chileno.

Os mercados globais reagiram com apetite por risco a dados de inflação nos EUA que mostraram que os preços ao consumidor tiveram uma alta de 0,2% em julho, exatamente em linha com a projeção de economistas em pesquisa da Reuters e abaixo do ganho de 0,3% de junho. Em 12 meses, o índice se manteve em 2,7%.

Diante do relatório moderado, que se somaram a dados recentes fracos de emprego para julho, os agentes financeiros concluíram que o banco central dos EUA poderá cortar a taxa de juros já em seu próximo encontro, em setembro, atendendo a um pedido frequente do presidente Donald Trump.

Operadores precificam mais de 90% de chance de um corte de 0,25 ponto percentual nos juros no próximo mês, segundo dados da LSEG, com outra redução da mesma magnitude totalmente precificada até dezembro. O aumento do diferencial de juros entre EUA e Brasil, que tem a Selic em 15%, favorece o real.

“O movimento de hoje ficou bem claro depois dos dados de inflação. A tendência é de que com os EUA fazendo cortes, a disparidade de juros se mantenha, o que acaba atraindo capital para o Brasil, mesmo que seja mais especulativo”, disse Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,44%, a 98,061.

A moeda brasileira também recebeu um impulso doméstico neste pregão com os fortes ganhos da bolsa brasileira, que gerou uma maior entrada de capital estrangeiro, à medida que os investidores analisaram uma série de balanços corporativos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,66%, a 137.878,56 pontos, maior patamar em cerca de um mês, conforme dados preliminares.

Na mínima do dia, o dólar atingiu R$ 5,3857 (-1,07%), perto do fechamento. A máxima foi de R$ 5,4427 (-0,02%), logo após a abertura.

O mercado doméstico praticamente deixou de lado nesta terça o impasse comercial entre Brasil e EUA, conforme o governo brasileiro enfrenta dificuldades para negociar com Washington a tarifa de 50% imposta por Trump na semana passada. Uma ligação entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, antes prevista para quarta-feira, foi desmarcada por Washington.

A expectativa é de que o Executivo anuncie nesta semana um plano de contingência para empresas mais afetadas pela taxação norte-americana.

O dia do Ibovespa

Em paralelo ao aquecido noticiário corporativo doméstico, o IBGE mostrou que o IPCA subiu 0,26% em julho, após alta de 0,24% em junho, abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de aumento de 0,37%. Em 12 meses, avançou 5,23%, ante elevação 5,35% em junho e expectativa de acréscimo de 5,33%.

Dados de inflação nos EUA também ocuparam as atenções, com o índice de preços ao consumidor (CPI) registrando acréscimo de 0,2% no mês passado, após aumento de 0,3% em junho. Em 12 meses, houve avanço de 2,7%. Economistas consultados pela Reuters previam alta mensal de 0,2% e de 2,8% na base anual.

De acordo com advisor e sócio da Blue3 Investimentos Willian Queiroz, o mercado reagiu positivamente aos dados de inflação, tanto no Brasil como nos EUA, enquanto a temporada de balanços de empresas brasileiras tem mostrado resultados fortes, corroborando uma perspectiva positiva para a bolsa paulista.

Em Wall Street, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, fechou em alta de 1,13%, com o CPI apoiando perspectivas de queda na taxa básica de juros da maior economia do mundo.

DESTAQUES

– BTG PACTUAL UNIT saltou 13,12%, registrando uma máxima de fechamento a R$45,27, após reportar lucro líquido ajustado de R$4,18 bilhões no segundo trimestre, um aumento de 42% em relação ao ano anterior, em desempenho acima das previsões do mercado. A rentabilidade medida pelo ROAE do maior banco de investimentos da América Latina alcançou 27,1%, de 23,2% no primeiro trimestre e 22,5% um ano antes. Em teleconferência com analistas sobre os números, o CEO afirmou estar confiante em um ROAE de 24% ou mais em 2025.

– SABESP ON saltou 10,61%, também marcando um topo de fechamento a R$122,74, na esteira do resultado melhor do que as expectativas no segundo trimestre, que mostrou um lucro líquido ajustado de R$1,96 bilhão, impulsionado em parte por melhorias operacionais geradas no contexto da privatização da maior empresa de saneamento da América Latina.

– NATURA ON caiu 7,98%, revertendo a alta da abertura (+2,55% na máxima), um dia após divulgar Ebitda recorrente de R$795,6 milhões no segundo trimestre, alta de 4,5% ano a ano, bem como classificar a Avon Internacional e a Avon América Central e República Dominicana (CARD) como ativos mantidos para venda. Em teleconferência com analistas, o CEO citou alta probabilidade de venda da Avon Internacional em 12 meses, mas sem dar muitos detalhes, enquanto destacou um ambiente menos favorável no segundo semestre.

– VAMOS ON fechou em alta de 4,8%, apesar da queda de 47,9% no lucro líquido do segundo trimestre, para R$92,8 milhões, considerando as operações que continuaram na empresa. O CEO afirmou a analistas que a empresa adotou estratégia para acelerar a redução de estoques e a venda de seminovos, em meio ao ambiente macroeconômico mais difícil. A companhia também revisou algumas projeções para 2025, incluindo Ebitda, lucro líquido e patamar de alavancagem.

– DIRECIONAL ON avançou 4,18%, tendo no radar lucro líquido de R$183,7 milhões no segundo trimestre, crescimento de quase 26% ano a ano, embora ligeiramente abaixo do esperado por analistas. A receita líquida também subiu 26% ano a ano, para R$1,07 bilhão. O CEO da construtora disse que o segundo semestre deve ser mais forte em lançamentos na comparação com a primeira metade do ano.

– VIBRA ON valorizou-se 2,4%, mesmo com o balanço do segundo trimestre mostrando lucro líquido de R$292 milhões no segundo trimestre, recuo de 66,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em teleconferência com analistas, o CEO da companhia afirmou que não vê problemas para abastecimento caso não seja mais possível importar diesel da Rússia, pois faz importações primordialmente do Golfo do México e tem acesso a outras fontes, como no Oriente Médio.

– VALE ON avançou 1,05%, amparada pelo movimento dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian subiu 2,36%, após usinas siderúrgicas do centro de produção chinês de Tangshan receberem ordens de interromper as operações para melhorar a qualidade do ar antes de um grande desfile militar.

– ITAÚ PN subiu 2,07%, em sessão positiva para o setor como um todo, com BRADESCO PN avançando 2,33%, SANTANDER BRASIL UNIT ganhando 1,31% e BANCO DO BRASIL ON valorizando-se 0,73%. Entre os bancos com ações no Ibovespa, apenas BB ainda não divulgou o balanço, que está previsto para a quinta-feira.

– PETROBRAS PN fechou com acréscimo de apenas 0,26%, em dia de queda dos preços do petróleo no mercado internacional. O barril de Brent encerrou com declínio de 0,77%. Investidores também continuam analisando resultado trimestral e anúncio de dividendo, que frustraram agentes financeiros, além dos planos da estatal de voltar ao mercado de distribuição de gás de cozinha.