Após oscilar abaixo dos R$5,50 pela manhã, o dólar fechou nesta terça-feira, 24, em leve alta ante o real, com investidores aproveitando as cotações mais baixas para comprar moeda, em um dia marcado no exterior pela baixa quase generalizada da divisa norte-americana após o cessar-fogo entre Israel e Irã.

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O mercado brasileiro ponderou ainda o fato de o Banco Central ter programado para quarta-feira dois leilões cambiais, um de venda à vista de dólares e outro de swap cambial reverso.

O dólar à vista fechou a terça-feira em leve alta de 0,28%, aos R$ 5,5194. No ano, a divisa acumula baixa de 10,67%.

Às 17h10, na B3, o dólar para julho — atualmente o mais líquido no Brasil — subia 0,40%, aos R$ 5,5228.

O Ibovespa também fechou em alta nesta terça-feira, chegando a superar os 138 mil pontos na máxima da sessão, com bancos entre os principais suportes, notadamente Itaú, enquanto Petrobras evitou um desempenho mais robusto.

O Oriente Médio continuou sob os holofotes, com anúncio na véspera do presidente dos Estados Unidos de cessar-fogo entre Israel e Irã, enquanto, no Brasil, o Banco Central reforçou apostas de que o ciclo de altas da Selic chegou ao fim.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,45%, a 137.164,61 pontos, encerrando uma sequência de quatro quedas, período em que acumulou declínio de 1,94%.

Na mínima do dia, o Ibovespa marcou 136.253,69 pontos. Na máxima, atingiu 138.156,24 pontos. O volume financeiro no pregão somou R$ 21,3 bilhões.

O dólar no dia

Na noite de segunda-feira, com o mercado já fechado, o BC anunciou a realização na quarta-feira de dois leilões simultâneos, das 9h30 às 9h35, no mercado de câmbio. No leilão à vista será ofertado US$1 bilhão e na operação do chamado swap reverso serão oferecidos 20.000 contratos, o que também equivale a US$1 bilhão. O efeito prático da operação com swaps reversos é equivalente a uma compra de dólares no mercado futuro.

Na prática, o BC pretende, na quarta-feira, atuar nas duas pontas: vender US$1 bilhão no mercado à vista e comprar US$1 bilhão no mercado futuro. Em tese, se ambos os leilões movimentarem US$1 bilhão de dólares, eles não terão uma influência de alta ou de baixa sobre as cotações do dólar na quarta-feira.

Como de costume, o BC não esclareceu formalmente sua intenção em promover os dois leilões simultâneos, mas profissionais do mercado avaliavam nesta terça-feira que a instituição mira no cupom cambial — a diferença entre a taxa de juros em reais e a taxa em dólares, muito usada para precificar operações de hedge (proteção) no mercado de câmbio.

O FRA de cupom — derivativo ligado ao cupom cambial negociado na B3 — mais líquido atualmente é o de agosto, cujo vencimento ocorre na próxima quinta-feira, 26 de junho. Nas últimas semanas, chamou atenção a alta da taxa do FRA de cupom para agosto, que superou os 6% mais recentemente.

No mercado, uma das avaliações é de que a operação casada de venda de dólares e swap reverso do BC busca acomodar esta taxa, dando liquidez ao mercado e favorecendo inclusive a rolagem dos contratos de FRA de agosto. A leitura é a de que o BC pode ter identificado uma demanda por dólares à vista para os próximos dias e resolveu atuar para não estressar o mercado ainda mais.

De acordo com André Valério, economista sênior do Inter, a operação casada do BC reduzirá o cupom cambial. “Indiretamente, essa operação tende a dar suporte ao real, já que favorece o carry trade, que é a operação de tomar emprestado em uma moeda com juros menores e aplicar em uma moeda com juros maiores, que é o caso do real”, disse Valério em comentário escrito.

Também na noite de segunda, o BC anunciou que dará início, em 1º de julho, aos leilões para a rolagem dos swaps cambiais tradicionais que expiram em 1º de agosto. Porém, ao contrário do que vinha fazendo nos últimos meses, desta vez o BC não indicou na nota a intenção de fazer a rolagem integral dos vencimentos de agosto, nem informou qual é o estoque total de swaps que estão programados para vencer.

O estoque efetivo a ser rolado ao longo dos dias dependerá justamente da operação de swap cambial reverso da quarta-feira: cada contrato de swap reverso colocado pelo BC representará a eliminação de um contrato de swap cambial tradicional a vencer em agosto.

Na manhã desta terça-feira, em meio às ponderações sobre os leilões e às intenções do BC, o dólar à vista caiu para abaixo dos R$5,50, puxado pelo recuo firme da moeda norte-americana no exterior após o cessar-fogo entre Israel e Irã — ainda que o acordo tenha sido ameaçado em diferentes momentos, com acusações de parte a parte.

Na cotação mínima da sessão, às 11h40, o dólar à vista marcou R$5,4759 (-0,51%).

“Aí o dólar ficou barato e apareceu comprador”, comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “Apareceram importadores, agentes de mercado que estão descobertos, em um movimento normal de recomposição de posições.”

Com isso, a moeda norte-americana migrou para o território positivo e atingiu a cotação máxima de R$5,5246 (+0,37%) às 15h56, para depois fechar pouco abaixo deste nível.

O leve avanço do dólar no Brasil contrastou com o recuo da moeda norte-americana ante divisas pares do real, como o peso chileno, o peso mexicano e o rand sul-africano. Às 17h18, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,28%, a 97,957.

O dia do Ibovespa

O presidente Donald Trump afirmou ainda na véspera que um cessar-fogo entre Israel e Irã estava em vigor, o que, apesar acusações de ambos os lados de violações da trégua nesta terça-feira, trouxe esperanças de um fim para o confronto militar.

Apesar de um quadro ainda instável na região, a ausência de efeitos relevantes no fluxo de petróleo no Oriente Médio e a percepção de menor risco de interrupções na oferta endossavam novo ajuste de baixa nas cotações da commodity no exterior.

Em Nova York, o S&P 500 fechou em alta de 1,11%, com o noticiário ainda trazendo declarações do chair do Federal Reserve de que cortes nos juros podem esperar enquanto o banco central norte-americano estuda o impacto de tarifas comerciais.

No Brasil, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reforçou o cenário de fim do ciclo de altas da Selic, embora com manutenção do nível atual por “período bastante prolongado”.

O BC afirmou no documento que elevou a Selic a 15% na semana passada em razão da resiliência da atividade, mas pontuou que grande parte dos impactos da política monetária contracionista ainda está por vir.

A autarquia também afirmou na ata que, após a interrupção do ciclo de alta, prevista para a próxima reunião, o Copom irá observar se o patamar dos juros é apropriado para levar a inflação à meta de 3%.

“Determinada a taxa apropriada de juros, ela deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado devido às expectativas desancoradas”, afirmou o BC.

Para o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, a janela para cortes na Selic pode se abrir, provisoriamente, no final de 2025.

No entanto, acrescentou, o Copom parece pronto para ser bastante paciente e não mudar a taxa de juros até possivelmente segundo trimestre de 2026, dado o claro foco nas expectativas de inflação desancoradas, ponderou em relatório.

DESTAQUES

– ITAÚ UNIBANCO PN avançou 1,89%, em dia mais positivo para empresas sensíveis à economia doméstica, com BRADESCO PN subindo 0,3%, BANCO DO BRASIL ON valorizando-se 1,66% e SANTANDER BRASIL UNIT registrando acréscimo de 1,82%.

– PETROBRAS PN recuou 1,97%, acompanhando o declínio do petróleo no exterior, onde o barril Brent fechou em queda de 6,07%. No setor, BRAVA ON perdeu 6,9%, PETRORECONCAVO ON cedeu 4,67% e PRIO ON terminou negociada em baixa de 3,91%.

– VAMOS LOCAÇÃO ON subiu 7,23%, endossada pelo alívio nas taxas dos contratos de DI, que amparava também papéis como CVC BRASIL ON, que fechou em alta de 4,8%, e MAGAZINE LUIZA ON, que avançou 2,13%.

– IGUATEMI UNIT valorizou-se 3,65%, após o conselho de administração aprovar a venda de participações em shopping centers e empreendimentos que somam R$500 milhões. No setor, MULTIPLAN ON ganhou 3,83% e ALLOS ON registrou elevação 3,39%.

– VALE ON encerrou com variação negativa de 0,02%, em dia de queda dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na bolsa de Dalian encerrou as negociações diurnas com declínio de 0,42%.

– SÃO MARTINHO ON perdeu 2,47%, após estimar que o processamento de cana-de-açúcar na safra 2025/2026 deve crescer 3,7% sobre a temporada anterior, para 22,6 milhões de toneladas. A companhia também projetou um ATR médio de 139,9 quilos por tonelada, queda de 1,9% na mesma comparação.

– C&A ON, que não está no Ibovespa, avançou 2,64%, após encerrar parceria com o Bradesco e a Bradescard, pagando R$650,6 milhões referentes à recompra dos direitos de ofertar produtos e serviços financeiros. Também vendeu direitos relacionados à carteira do cartão por R$170 milhões.