O dólar fechou nesta quarta-feira, 25, em alta no Brasil, com agentes do mercado aproveitando as cotações ainda baixas para comprar moeda para envio ao exterior na reta final do trimestre, em um dia em que o Banco Central atuou por meio de leilões para melhorar a liquidez.

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Investidores também se mantiveram atentos à possibilidade de derrubada no Congresso, ainda nesta quarta-feira, do decreto do IOF editado pelo governo Lula.

O dólar à vista fechou em alta de 0,69%, aos R$ 5,5575. No mês, porém, a divisa acumula baixa de 2,85% e, no ano, recuo de 10,06%. Veja cotações.

Às 17h04 na B3 o dólar para julho — atualmente o mais líquido no Brasil — subia 0,78%, aos R$ 5,5610.

Já o Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira, abaixo dos 136 mil pontos, ampliando a correção negativa desde que encostou nos 140 mil em meados do mês, com agentes financeiros enxergando um quadro ainda volátil no exterior e preocupados com o cenário fiscal no Brasil.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 1,02%, a 135.768,18 pontos, tendo marcado 135.564,69 pontos na mínima e 137.162,54 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somava R$ 19,1 bilhões.

O dólar no dia

No início do dia o destaque foi a intervenção do Banco Central nos negócios, por meio de dois leilões simultâneos — um de venda à vista de US$1 bilhão e outro de swap cambial reverso, também com negociação de US$ 1 bilhão. A operação de swap reverso tem efeito equivalente à compra de dólares no mercado futuro.

Na prática, o BC atuou nas duas pontas, vendendo dólares no mercado à vista e comprando dólares no segmento futuro.

A autarquia não esclareceu sua intenção em promover as duas operações, mas profissionais do mercado avaliaram nos últimos dias que a instituição mirava no cupom cambial — a diferença entre a taxa de juros em reais e a taxa em dólares, muito usada para precificar operações de hedge (proteção) no mercado de câmbio. A intenção seria reduzir o cupom cambial e diminuir o estresse no mercado de câmbio, perto do fechamento do trimestre.

Embora o efeito líquido dos leilões seja nulo, já que o BC vendeu no mercado spot e comprou no futuro uma mesma quantidade de moeda, a melhora da liquidez atendeu os agentes que buscavam dólares para remeter para outros países nesta reta final de trimestre.

Operador ouvido pela Reuters pontuou que, sem os leilões, as cotações atingiriam patamares mais elevados nesta quarta. Outro profissional confirmou que o dia foi marcado pela retirada de recursos do país por parte de investidores estrangeiros e fundos.

Neste cenário, o dólar à vista variou entre uma mínima de R$5,5115 (-0,14%) às 9h00, na abertura da sessão, e uma máxima de R$ 5,5712 (+0,94%) às 12h27.

Internamente, também pesava sobre os negócios a possibilidade de a Câmara e o Senado votarem, ainda nesta quarta, o projeto de decreto legislativo (PDL) que busca derrubar o decreto do governo que trata do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Como o decreto em vigor atinge grande parte das operações cambiais, a postura dos agentes era de cautela.

No exterior, ao contrário do que se via no Brasil, o dólar cedia ante a maior parte das demais divisas no fim da tarde, com investidores ponderando o cessar-fogo entre Israel e Irã e declarações do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, ao Congresso norte-americano.

Às 17h29 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,22%, a 97,742.

O dia do Ibovespa

De acordo com o sócio e advisor da Blue3 Investimentos Willian Queiroz, o sentimento no mercado está sendo pautado principalmente pelo quadro geopolítico no Oriente Médio, as políticas monetária no Brasil e Estados Unidos e a pauta fiscal doméstica, em particular discussões envolvendo o IOF.

“O mercado, basicamente, está aguardando novas sinalizações para calibrar o apetite de risco e entender quais são os próximos passos nesses quatro grandes temas”, afirmou.

No caso específico do projeto de decreto legislativo (PDL) que busca derrubar decreto do governo que trata do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que pode ser votado ainda nesta quarta-feira na Câmara dos Deputados, Queiroz afirmou que há preocupação com o impasse entre governo e parlamentares.

“Investidores olham com certa apreensão, dado que o governo tem um desafio fiscal grande”, afirmou.

No exterior, Wall Street encerrou sem um viés único e com variações modestas, com agentes financeiros ainda monitorando o recente cessar-fogo entre o Irã e Israel, bem como novo depoimento do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, ao Congresso norte-americano.

“Os planos tarifários do governo Trump podem muito bem provocar apenas um salto pontual nos preços, mas o risco de causar uma inflação mais persistente é grande o suficiente para que o banco central norte-americano seja cuidadoso ao considerar novos cortes nos juros”, afirmou Powell.

DESTAQUES

– HAPVIDA ON caiu 5,52%, retomando o viés negativo, após o avanço na véspera vindo de duas quedas seguidas. Em relatório na terça-feira, analistas do Goldman Sachs destacaram que a desaceleração em maio nos volumes de judicialização relacionada à saúde suplementar não necessariamente se traduzem em alívio imediato de provisões da Hapvida, já que, segundo comentários da administração, a empresa ainda lida com um volume relevante de processos pendentes.

– CSN ON recuou 4,98%, em sessão marcada pela divulgação de dados de maio do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) e expectativa do setor de que os estoques internos elevados, portos lotados e preços internacionais em queda devem continuar compondo um cenário de queda de preços no mercado brasileiro de aço plano nos próximos meses. USIMINAS PNA fechou negociada em baixa de 4,29% e GERDAU PN terminou com declínio de 1,43%.

– ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 1,8%, ajustando-se após desempenho mais forte na véspera, enquanto BRADESCO PN encerrou negociada em queda de 0,85%, tendo ainda de pano de fundo relatório sobre bancos de analistas do Safra, incluindo melhora na recomendação da ação do Bradesco para “outperform”. BANCO DO BRASIL ON cedeu 0,84% e SANTANDER BRASIL UNIT caiu 1,38%.

– VALE ON fechou com variação negativa de apenas 0,12%, após nova queda dos futuros do minério de ferro na bolsa de Dalian, na China. Executivos da Vale afirmaram que a mineradora projeta eliminar até 2027 o uso de água no processamento de minério de ferro das minas de Carajás, enquanto aumenta a produção de alta qualidade no projeto Gelado a partir do reaproveitamento de rejeitos minerários remanescentes do complexo no Pará.

– PETROBRAS PN encerrou com decréscimo de 0,51%, após trocar de sinal algumas vezes no dia, mesmo com a alta dos preços do petróleo no exterior. PETROBRAS ON recuou 0,59%.

– RD SAÚDE ON valorizou-se 3,26%, engatando o terceiro pregão seguido no azul. O preço de R$15,5, contudo, permanece ainda distante da cotação do começo de maio (R$19,45), antes da decepção com o resultado trimestral da varejista do setor farmacêutico, que se somou a preocupações com a competição no setor e outras variáveis. Na semana passada, analistas do Citi afirmaram que caso a melhora nos números do setor vista em maio persista em junho, isso pode trazer uma leitura positiva para as vendas da companhia no segundo trimestre.

– MINERVA ON avançou 1,48%, endossada por upgrades de analistas da XP, que elevaram a recomendação para compra e colocaram a ação como “top pick”, e do Bank of America, que melhoraram a classificação para “neutra”. No setor de proteínas, na contramão, MARFRIG ON caiu 4,25% e BRF ON perdia 3,57%. Em Nova York, JBS fechou em alta de 0,43%, em pregão marcado pela tradicional cerimônia do toque do sino de abertura na Bolsa de Valores de Nova York em razão da recente listagem dos papéis nos Estados Unidos.