26/06/2025 - 17:30
A derrubada no Congresso do decreto do governo Lula de elevação do IOF sobre uma série de operações cambiais abriu espaço para o recuo firme do dólar ante o real nesta quinta-feira, 26, para abaixo dos R$ 5,50, com o movimento sendo favorecido ainda pelo exterior, onde a queda da moeda norte-americana era generalizada.
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O dólar à vista fechou em baixa de 1,06% ante o real, aos R$ 5,4984. No mês, a divisa acumula queda de 3,88% e, no ano, recuo de 11,01%. Veja cotações.
Às 17h07, na B3, o dólar para julho — atualmente o mais líquido no Brasil — cedia 1,08%, aos R$ 5,5025.
O Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira, puxada pelo forte avanço das ações da Vale e referendada pelo viés positivo nos mercados no exterior, com agentes financeiros também repercutindo o IPCA-15 abaixo das expectativas e a derrubada de decreto sobre o IOF.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa avançou 0,99%, a 137.113,89 pontos, tendo marcado 135.755,55 pontos na mínima e 137.352,98 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somou R$ 21,9 bilhões.
O dólar no dia
A quinta-feira foi de agenda cheia de notícias e indicadores tanto no Brasil quanto no exterior, que no geral favoreceram os ativos locais.
No mercado de câmbio, investidores reagiam desde cedo à derrubada no Congresso, na noite de quarta-feira, do decreto do governo de elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre várias operações cambiais. Ainda que isso signifique mais dificuldades para o governo equilibrar as contas públicas, a derrubada do IOF fez o dólar emplacar baixas firmes ante o real já durante a manhã.
Apesar das notícias de que o governo considera a possibilidade de ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a derrubada do decreto do IOF, os investidores se apegaram à decisão do Congresso.
“Além disso, o DXY (índice do dólar) está em queda hoje, em função da incerteza em relação ao Federal Reserve”, comentou durante a tarde Nicolas Gomes, especialista de câmbio da Manchester Investimentos, em referência ao futuro da política de juros nos EUA.
No exterior, o dólar cedia ante quase todas as demais divisas após a divulgação de uma série de dados sobre a economia norte-americana. Entre eles, chamou a atenção a retração de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no primeiro trimestre, conforme a terceira estimativa divulgada pelo Departamento de Comércio. A queda foi maior que a anunciada na segunda estimativa, de 0,2%.
Alguns números demonstrando que os norte-americanos ficam atualmente mais tempo sem trabalho, além de uma notícia de que o presidente dos EUA, Donald Trump, considera anunciar antecipadamente o substituto de Jerome Powell no comando do Federal Reserve, também pesavam sobre os rendimentos dos Treasuries no exterior e sobre as cotações do dólar ante as demais divisas.
Neste cenário, após registrar a máxima de R$5,5638 (+0,11%) às 9h07, o dólar à vista despencou até a mínima de R$5,4915 (-1,19%) às 14h48, para depois encerrar próximo deste patamar.
Esta quinta-feira também foi o último dia de negociação do FRA de cupom — derivativo ligado ao cupom cambial negociado na B3 — de agosto.
Na véspera, o Banco Central havia realizado dois leilões simultâneos justamente para aliviar as taxas do FRA de cupom perto do vencimento, conforme profissionais ouvidos pela Reuters. O cupom cambial, que representa a diferença entre a taxa de juros em reais e a taxa em dólares, é muito usado para precificar operações de hedge (proteção) no mercado de câmbio.
Nas operações de quarta-feira foram vendidos US$ 1 bilhão à vista e 20.000 contratos de swap cambial reverso (equivalente à venda de US$ 1 bilhão no mercado futuro).
Nesta quinta, durante coletiva de imprensa, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que a realização dos dois leilões simultâneos foi uma “questão pontual” e que não há nada de novo na política cambial da autoridade monetária. Ele confirmou que o BC olhava para o cupom cambial ao realizar as operações.
No exterior, às 17h32 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,17%, a 97,337.
O dia do Ibovespa
Em Nova York, os índices acionários S&P 500 e Nasdaq fecharam perto de máximas históricas, com a crescente frustração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a postura do Federal Reserve em relação à taxa de juros fomentando apostas de maior afrouxamento da política monetária no futuro.
No Brasil, parlamentares aprovaram na quarta-feira um projeto que susta os efeitos de decretos do Executivo alterando a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de uma série de operações de câmbio, crédito e previdência privada, que tinham como objetivo ajudar a equilibrar as contas públicas.
“A derrubada…impõe um desafio adicional à execução orçamentária de 2025 e 2026”, avaliou o economista Tiago Sbardelotto, em relatório a clientes.
“O governo ainda possui alguma margem para evitar novos cortes de despesas no próximo relatório bimestral e deve contar com receitas extraordinárias para alcançar o limite inferior da meta fiscal. Atribuímos baixa probabilidade de alteração da meta neste ano, mas os desafios para 2026 estão aumentando”, afirmou.
De acordo com a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, o movimento do Congresso reduzirá a receita de 2025 em R$ 10 bilhões, colocando em risco o cumprimento da meta de resultado primário em 2025. Para 2026, citou, pode dificultar a meta de resultado primário em R$ 30 bilhões.
Em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que juristas do governo consideram “flagrantemente inconstitucional” o projeto aprovado pelo Congresso, apontando que o Executivo pode levar a questão ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A agenda brasileira também mostrou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial, subiu 0,26% em junho, após alta de 0,36% no mês anterior, de acordo com o IBGE. Pesquisa da Reuters com economistas estimava alta de 0,30%.
De acordo com economistas do Bradesco, o dado é mais uma leitura que surpreende para baixo, como o IPCA de abril e maio.
“A desaceleração gradual da inflação está ocorrendo, que pode ser observada com a diminuição da pressão dos núcleos. Em nosso cenário, ficará mais clara a desaceleração da atividade econômica no segundo semestre, em resposta aos juros restritivos”, afirmaram em relatório a clientes.
“Aliada à valorização cambial deste ano, essa moderação da atividade deve reforçar uma desaceleração da inflação ao longo de 2025 e 2026.”
DESTAQUES
– VALE ON fechou em alta de 3,01%, endossada pelos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na bolsa de Dalian encerrou as negociações diurnas com alta de 0,64%.
– PETROBRAS PN subiu 0,8%, em pregão marcado pelo leilão de petróleo da União, no qual a estatal disputou todos os lotes e levou o maior volume do certame — 31,5 milhões de barris do campo de Mero e outros 5 milhões de barris do campo de Sépia. A petroleira é operadora de ambos os campos. No exterior, o barril do petróleo Brent subiu 0,07%.
– ITAÚ UNIBANCO PN recuou 0,74%, na contramão de seus pares no Ibovespa, com BRADESCO PN terminando com acréscimo de 0,91%, SANTANDER BRASIL UNIT subindo 0,21% e BANCO DO BRASIL ON encerrando com elevação de 1,6%.
– AZZAS 2154 ON avançou 5,97% e VIVARA ON valorizou-se 4,26%, em meio ao alívio nas taxas dos contratos de DI com influência do IPCA-15 e do exterior.
– LOCALIZA ON caiu 7,28%, em sessão bastante negativa para o setor, com MOVIDA ON, que não faz parte do Ibovespa, desabando 13,89%, em meio a preocupações sobre eventual novo programa do governo federal para carros mais baratos, o que poderia afetar o valor da frota das companhias e os resultados das divisões de seminovos.