O dólar fechou nesta terça-feira, 27, em baixa ante o real, na contramão do avanço da moeda norte-americana no exterior, em uma sessão em geral positiva para os ativos brasileiros após dados sugerirem desaceleração da inflação no Brasil.

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A moeda norte-americana à vista fechou em baixa de 0,52%, aos R$ 5,6464. No mês, a divisa acumula queda de 0,53%. Veja cotações.

Às 17h05 na B3 o dólar para junho — atualmente o mais líquido — cedia 0,30%, aos R$ 5,6520.

Já o Ibovespa fechou em alta nesta terça-feira, renovando máxima intradia no melhor momento, embalado pelo IPCA-15 abaixo do esperado em maio, que endossou apostas de eventual pausa no ciclo de alta da Selic, bem como pelo viés positivo nos pregões em Wall Street.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,02%, a 139.541,23 pontos, marcando 140.381,93 pontos na máxima, novo topo histórico intradia, e 138.136,49 pontos na mínima da sessão.

O volume financeiro somou R$ 22,98 bilhões.

O dólar no dia

O principal condutor para os negócios no Brasil nesta terça-feira foi o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), divulgado no início do dia pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Considerado uma prévia para a inflação oficial, o IPCA-15 teve alta de 0,36% em maio e 5,40% nos 12 meses até maio — abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters com economistas, de altas de 0,44% para o mês e de 5,49% em 12 meses.

Mais do que o resultado cheio em si, a abertura do IPCA-15 mostrou um cenário mais benigno para a inflação, com desaceleração dos núcleos.

Em reação, os ativos brasileiros ganharam força: o Ibovespa subiu mais de 1%, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) cederam e o dólar recuou durante toda a sessão — ainda que, no exterior, o viés para a moeda norte-americana fosse de alta.

“O IPCA trouxe otimismo, e ainda temos uma bolsa descontada, uma taxa de juros alta. Tudo isso atrai o capital estrangeiro”, comentou durante a tarde Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, ao justificar o recuo do dólar ante o real.

Pela manhã, o dólar chegou a marcar uma máxima de R$5,6731 (-0,05%) às 10h49 — pouco depois de o Banco Central vender apenas metade da oferta de dólares em leilão de linha (venda de moeda com compromisso de recompra) realizado às 10h30. Na operação, o BC vendeu US$500 milhões do total de US$1 bilhão oferecido para rolagem do vencimento de 2 de julho.

Depois disso, porém, o dólar aprofundou a queda até atingir a mínima de R$5,6408 (-0,61%) às 15h54.

“Saíram dados bons do IPCA-15, que acabaram fortalecendo a bolsa e o real. Eles de certo modo chancelaram o movimento de correção no câmbio à história do IOF”, pontuou Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Segundo ele, parte do recuo do dólar nesta terça-feira ainda estava ligado a ajustes após o governo Lula voltar atrás na cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em algumas operações cambiais.

“Mas no cenário atual, o dólar fica andando de lado, entre R$5,60 e R$5,70 há algum tempo, até que tenhamos novidades firmes”, acrescentou Avallone, lembrando que a política tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, e a questão fiscal brasileira seguem como fatores de atenção.

No exterior, o dia foi de elevação do dólar ante a maior parte das demais divisas. Às 17h24 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,65%, a 99,602.

O dia do Ibovespa

De acordo com dados divulgados pelo IBGE, a inflação medida pelo IPCA-15 ficou em 0,36% em maio, após 0,43% no mês anterior, enquanto a taxa em 12 meses alcançou 5,40%, de 5,49% em abril. Expectativas de economistas em pesquisa da Reuters apontavam altas de 0,44% e 5,49%, respectivamente.

“Esse número coloca mais ‘um prego’ no caixão de uma nova alta de juros na reunião de junho”, afirmou o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, referindo-se ao encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que terá sua decisão conhecida no dia 18 do próximo mês.

“O investidor vê esse fim de alta de juro e já está começando a precificar isso dentro da bolsa”, acrescentou Willian Queiroz, sócio e advisor da Blue3 Investimentos.

Em Nova York, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, subiu cerca de 2% na volta do fim de semana prolongado por feriado na segunda-feira, com agentes repercutindo desdobramentos mais positivos envolvendo as discussões comerciais entre Estados Unidos e União Europeia.

No domingo, o presidente norte-americano, Donald Trump, recuou de sua ameaça de impor tarifas de 50% sobre as importações da UE em junho, restabelecendo o prazo de 9 de julho, enquanto autoridades do bloco europeu solicitaram a empresas e CEOs da UE planos para se prepararem para as negociações com Washington.

DESTAQUES

– VAMOS ON avançou 9,69%, apoiada pelo alívio nas taxas dos contratos de DI, que favoreceu também papéis como CVC BRASIL ON, que encerrou com alta de 6,67%; ASSAÍ ON, que terminou com elevação de 7,61%; e LOCALIZA ON, que fechou com acréscimo de 4,41%.

– AZZAS 2154 ON valorizou-se 6,11%, tendo ainda no radar relatório do Citi, que aumentou o preço-alvo das ações para R$52 e reiterou recomendação de compra/alto risco, citando que a relação risco versus retorno dos papéis permanece enviesada para cima.

– BTG PACTUAL UNIT subiu 2,75%, melhor desempenho entre os bancos do Ibovespa, com BRADESCO PN avançando 2,04%, ITAÚ UNIBANCO PN fechando com acréscimo de 0,79% e SANTANDER BRASIL UNIT em alta de 0,13%. BANCO DO BRASIL ON cedeu 0,41%.

– PETROBRAS PN subiu 0,73%, mesmo com o declínio dos preços do petróleo no exterior, onde o barril do Brent terminou negociado em baixa de 1%. A estatal informou na véspera que está considerando uma “potencial emissão de debêntures incentivadas” de até R$3 bilhões.

– PETZ ON recuou 4,15%, em meio a preocupações com maior escrutínio do Cade sobre a operação de fusão da companhia com a Cobasi. Nota técnica produzida pelo Departamento de Estudos Econômicos (DEE) do órgão antitruste citou riscos à concorrência, especialmente no segmento de varejo físico.

– VALE ON cedeu 0,31%, conforme os contratos futuros do minério de ferro caíram pela terceira sessão consecutiva com novos rumores sobre cortes na produção de aço bruto na China. CSN MINERAÇÃO ON caiu 5,8%, tendo ainda no radar “downgrade” de analistas do Morgan Stanley.