O dólar fechou nesta quinta-feira, 29, em baixa ante o real, acompanhando o recuo quase generalizado da moeda norte-americana no exterior após um tribunal dos Estados Unidos bloquear a maioria das tarifas impostas pelo governo Trump a produtos de outros países.

+ BRAZIL JOURNAL: ‘É assustador o que o PT pensa da gente,’ diz Stuhlberger sobre o IOF

Embora as questões relacionadas ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no Brasil não tenham definido o rumo do câmbio na sessão, os agentes seguiram atentos às discussões em Brasília.

O dólar à vista fechou em baixa de 0,51%, aos R$ 5,6663. No mês, a divisa acumula baixa de 0,18%. Veja cotações.

Às 17h03 na B3 o dólar para junho — atualmente o mais líquido — cedia 0,39%, aos R$ 5,6700.

O Ibovespa fechou com um declínio discreto nesta quinta-feira, quando o noticiário envolvendo medidas fiscais continuou ocupando as atenções e adicionando incertezas, enquanto, nos Estados Unidos, o governo norte-americano apelou da decisão de um tribunal de comércio do país de suspender tarifas comerciais.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa cedeu 0,25%, a 138.533,70 pontos, após marcar 137.993,33 pontos na mínima e 139.108,26 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somava R$ 17,9  bilhões.

O dólar no dia

A moeda norte-americana oscilou em baixa ante o real durante praticamente toda a sessão, acompanhando o viés negativo que vinha do exterior.

Por trás do movimento estava a decisão de um tribunal de comércio dos EUA, que bloqueou na quarta-feira a maior parte das tarifas de importação do presidente Donald Trump, alegando que ele excedeu sua autoridade ao impor a cobrança.

De acordo com o Tribunal de Comércio Internacional dos EUA, a Constituição do país dá ao Congresso autoridade exclusiva para regular o comércio com outros países.

Perto do fechamento do mercado brasileiro, um tribunal federal de apelação dos EUA restabeleceu as tarifas mais abrangentes de Trump. A ordem não forneceu nenhuma opinião ou justificativa, mas instruiu os autores do caso a responderem até 5 de junho e o governo até 9 de junho.

Mais cedo, membros do governo Trump haviam minimizado o bloqueio, defendendo que ele não afetaria as negociações comerciais com outros países.

Neste cenário nebuloso, o dólar se firmou em queda ante divisas fortes como o iene, o euro e a libra, além de moedas de países emergentes como o real, o rand sul-africano, o peso chileno e o peso mexicano.

Assim, após marcar a cotação máxima de R$ 5,7037 (+0,14%) às 9h03, pouco depois da abertura, o dólar à vista atingiu a mínima de R$ 5,6424 (-0,93%) às 12h15.

Operador ouvido pela Reuters ponderou que, apesar de a questão do IOF não ter influenciado diretamente os negócios nesta quinta-feira, ela não ficou para trás. Investidores seguiram atentos às movimentações em Brasília sobre o imposto.

Durante o dia, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), alertou que o Congresso pode derrubar o decreto do governo que aumentou o IOF incidente sobre várias operações, acrescentando que os parlamentares estão dispostos a construir uma solução conjunta para a questão com o governo e defendendo medidas fiscais “mais estruturantes”.

Em coletiva de imprensa após reunião de líderes da Câmara, Motta disse que a vontade majoritária dos deputados, no momento, é derrubar o decreto do IOF, acrescentando que o “mais prudente” é fornecer ao governo tempo para apresentar alternativas.

Mais tarde, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o governo ainda não encontrou uma solução para os aumentos do IOF, que vêm sofrendo forte resistência no Congresso, mas que haverá construção ao redor do tema.

Na semana passada o governo anunciou uma série de elevações nas alíquotas do IOF — inclusive em operações cambiais — para aumentar a arrecadação e, desta forma, cumprir a meta fiscal para o ano. Parte das medidas, no entanto, foi revogada logo depois, após repercussão negativa no mercado financeiro e entre economistas de fora do governo.

Às 17h20 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 1,03%, a 99,355.

O dia do Ibovespa

De acordo com o especialista em investimentos Josias Bento, sócio da GT Capital, no Brasil, o mercado está desconfiado quanto à capacidade de o governo cumprir as metas fiscais.

“Ninguém mais confia no compromisso fiscal do Brasil. A retórica política até tenta maquiar a realidade, mas o investidor não se ilude com promessas. Ele lê os sinais: aumento de gastos, dificuldade de arrecadação, resistências internas ao ajuste e um arcabouço fiscal cada vez mais desidratado.”

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou nesta quinta-feira que o governo apresentará em até dez dias iniciativas fiscais estruturais como possíveis alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) após ser “provocado” pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Ele ponderou, contudo, que não há solução definida neste momento.

Mais cedo na quinta, Motta disse no X que o ambiente no Congresso é pela derrubada do decreto que aumentou alíquotas do IOF, estabelecendo prazo de 10 dias para o Executivo apresentar alternativa que evite “gambiarras tributárias” e seja de caráter “duradouro e consistente”.

No cenário externo, o penúltimo pregão da semana abriu com a notícia de que o Tribunal de Comércio Internacional dos EUA decidiu na véspera que o presidente norte-americano, Donald Trump, extrapolou sua autoridade ao impor tarifas de importação punitivas a praticamente todos os países do mundo e bloqueou as medidas.

O governo Trump, porém, solicitou imediatamente a um tribunal de apelações que suspendesse a decisão e permitisse a manutenção do regime tarifário. O assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, expressou em entrevista à Fox Business confiança de que a decisão será revertida.

Em Nova York, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário dos EUA, subiu 0,40%, com o receio sobre o desfecho envolvendo a questão tarifária encontrando um contrapeso expressivo no resultado trimestral da Nvidia, que mostrou crescimento de vendas acima do esperado.

“Os EUA estão entrando em uma zona de turbulência institucional”, acrescentou Bento, da GT Capital.

DESTAQUES

– AZUL PN caiu 6,8% ainda sob efeito do anúncio da véspera de que pediu recuperação judicial nos Estados Unidos. Analistas do JPMorgan cortaram a recomendação das ações da companhia aérea para “underweight”, enquanto as agências de classificação de risco S&P e Fitch reduziram a nota de crédito da companhia aérea para D. A partir de sexta-feira, as ações da Azul não farão mais parte do Ibovespa e de outros índices da B3.

– BANCO DO BRASIL ON caiu 1,58%, tendo no radar dados de crédito divulgados pelo Banco Central, mostrando uma aceleração marginal nas concessões, mas também alta na inadimplência e nos spreads. ITAÚ UNIBANCO PN fechou com decréscimo de 0,79%, BRADESCO PN recuou 0,43% e SANTANDER BRASIL UNIT cedeu 0,3%.

– PETROBRAS PN recuou 0,6%, enfraquecida pela queda dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent fechou transacionado com baixa de 1,16%. A diretoria executiva da estatal aprovou a emissão de R$3 bilhões em debêntures simples em até três séries. Os recursos vão custear gastos, despesas ou dívidas relacionadas a investimentos em projetos prioritários da companhia.

– VALE ON fechou com variação positiva de apenas 0,07%, mesmo com o avanço dos futuros do minério de ferro na China após quatro dias de perdas. O contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange encerrou as negociações diurnas com alta de 1,29%, a 707 iuanes (US$ 98,31) a tonelada.

– B3 ON recuou 1,4%, também entre os maiores pesos negativos do Ibovespa. Analistas do UBS BB cortaram a recomendação das ações para neutra, citando “upside” potencial limitado à frente, dada a valorização acumulada pelas ações de cerca de 40% neste ano. Eles, contudo, elevaram o preço-alvo dos papéis de R$13,50 para R$16, na esteira da revisão para cima da estimativa do lucro para o período de 2025 a 2029.

– COSAN ON subiu 2,07%, com analistas do Bank of America reiterando compra. “Apesar dos desafios, acreditamos que seja uma sólida posição de longo prazo com ativos únicos no Brasil.” O BofA também manteve compra para Raízen, mas cortou o preço-alvo de R$3 para R$2,7. RAÍZEN PN ganhou 1,02%. Ainda, a Unica disse que a produção de açúcar do centro-sul caiu menos que o previsto na primeira quinzena de maio.

– SABESP ON valorizou-se 1,48%, após acertar a aquisição das participações restantes nas sociedades Andradina e Castilho detidas pela Iguá Saneamento, exercendo seu direito de preferência na compra das concessionárias.

– COPEL PNB valorizou-se 1,51%, renovando máximas históricas, endossada por relatórios positivos de analistas do Itaú BBA e do UBS BB, que também elevaram o preço-alvo do papel. “Apesar do recente desempenho mais forte da ação, ainda vemos um perfil de risco/retorno atrativo para a Copel”, afirmaram Filipe Andrade e time do Itaú em relatório.

– JBS ON avançou 0,69%, endossada por notícia de o Brasil foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como livre de febre aftosa sem vacinação pela primeira vez, o que pode abrir novos mercados internacionais para a carne brasileira. MARFRIG ON subiu 2,13%, mas MINERVA ON caiu 3,83%. Na véspera, as ações tinham fechado em altas de 2,62%, 2,51% e 3,37%, respectivamente.

– AMBIPAR ON, que não faz parte do Ibovespa, disparou 18,5% após divulgar que seu conselho de administração aprovou uma proposta de reorganização societária envolvendo a Ambipar Participações, a ESG, a Ambipar Response e outras sociedades integrantes do Grupo Ambipar.