12/09/2025 - 17:21
O dólar completou a terceira sessão consecutiva de queda no Brasil e encerrou a sexta-feira no menor valor em 15 meses, a despeito de a moeda norte-americana sustentar ganhos ante as demais divisas no exterior. O Ibovespa também fechou em queda, devido a movimentos de realização de lucros após renovar máximas históricas na véspera.
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O dólar à vista encerrou a sexta-feira em baixa de 0,69%, aos R$ 5,3537 — menor valor desde 7 de junho do ano passado, quando fechou em R$ 5,3247. Na semana, a divisa acumulou queda de 1,11%. Já em 2025, o recuo é de 13,36%.
Já o Ibovespa recuou 0,53%, a 142.397,01 pontos, de acordo com dados preliminares, após marcar 142.240,7 pontos na mínima e 143.202,09 pontos na máxima do dia. Na semana, acumulou declínio de 0,17%, enquanto, no mês, ainda sobe 0,69%.
Dólar pode cair mais
A moeda norte-americana chegou a oscilar em alta ante o real no início da sessão, acompanhando o sinal positivo visto também no exterior, mas rapidamente migrou para o território negativo.
A perspectiva de cortes de juros pelo Federal Reserve nos próximos meses, somada à manutenção da taxa básica Selic em 15% no Brasil, reforçava a avaliação entre os agentes de que a tendência de curto prazo para a moeda dos EUA é de queda em direção aos R$ 5,30.
Em comentário enviado a clientes pela manhã, o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, pontuou que “a região de R$ 5,40 tem se mostrado resistente, embora o modelo aponte chance de queda em direção a R$ 5,30”.
Para os exportadores — interessados na venda da moeda norte-americana pelos maiores preços –, Faria Júnior destacou um “claro aumento do risco de o dólar continuar caindo”.
O recuo firme do dólar no Brasil contrastava com o avanço visto no exterior, em um dia de ajustes técnicos. Às 17h13, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,09%, a 97,642.
Pela manhã o Banco Central vendeu US$1 bilhão em leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra), para rolagem do vencimento de outubro. Além disso, vendeu 40 mil contratos de swap cambial, também para rolagem de outubro.
Trump vai retaliar julgamento de Bolsonaro?
Após o desfecho do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), com sua condenação a 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe de Estado e outros crimes, os agentes se mantinham atentos a possíveis novas medidas de retaliação dos EUA ao Brasil.
Em julho, ao definir tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, o presidente dos EUA, Donald Trump, citou como um dos motivos o julgamento de Bolsonaro, seu aliado. Na noite de quinta-feira, após a condenação, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que o país “responderá adequadamente a essa caça às bruxas”.
“A tendência natural (para o dólar) é de queda ainda. Em algum momento ele vai buscar os R$5,30, mas tudo depende de Trump, que pode ou não retaliar o Brasil. É o receio em relação a Trump que ainda segura o dólar numa faixa mais próxima de R$ 5,40″, avaliou no início da tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.
Mas como nenhuma medida foi anunciada ainda nesta sexta-feira, o dólar teve caminho livre para seguir renovando mínimas ante o real.
Cautela na bolsa de valores
As ameaças de Marco Rubio no entanto serviram como argumento para alguma cautela na bolsa paulista nesta sexta.
Estrategistas da XP Investimentos chamaram a atenção para a resiliência do Ibovespa após a correção de julho (-4,17%), quando sofreu com a escalada de tensões entre Brasil e EUA e com a saída de capital estrangeiro, citando a valorização de quase 7% desde agosto, com novas máximas registradas.
Eles avaliam que a recuperação do mercado foi sustentada, principalmente, por um quadro micro sólido, com a temporada de resultados do segundo trimestre sendo a melhor dos últimos três anos, níveis de valuation ainda atrativos, expectativas de juros mais baixos à frente e início antecipado do “trade eleitoral”.
Em Nova York, o S&P 500 fechou com decréscimo de 0,05%, em ritmo de espera para a decisão do Federal Reserve no próximo dia 17, com projeções no mercado apontando um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros da maior economia do mundo, que está atualmente na faixa de 4,25% a 4,50%.
Economistas do Deutsche Bank afirmaram esperar, além do corte de 0,25 pontos, que o Fed sinalize que mais reduções são prováveis nas reuniões restantes deste ano. Também avaliam que a decisão que será conhecida na quarta-feira provavelmente não será unânime, conforme relatório enviado a clientes.
No Brasil, o Banco Central também divulga decisão de política monetária na próxima quarta-feira, mas a expectativa é de manutenção da taxa Selic em 15% ao ano.