27/08/2025 - 13:02
Na avaliação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, ainda há ‘mais espaço para o dólar cair’ até o fim de 2025. A projeção do banco é de um câmbio na faixa dos R$ 5,50 ao fim deste e do próximo ano, com tendência de depreciação nos próximos meses dado o déficit em conta corrente acima de 4% do PIB.
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A visão da casa é de uma perpetuação do cenário que tem se estabelecido desde o fim do ano de 2024, com o fortalecimento do real ante o dólar – em linha com o panorama de outras moedas.
Assim, a queda do dólar ante outras divisas deve ser mantida, e por ventura trazer o real junto. Mesquita, todavia, alerta que o cenário de piora das contas externas pode funcionar como um catalisador negativo para esse cenário, freando o câmbio.
O economista e especialista em contas públicas do banco, Pedro Schneider, frisa que o momento cenário do câmbio tem mais a ver com o cenário internacional do que com fatores domésticos.
“Vai depender muito de como os cortes do Federal Reserve (Fed) serão, de quantos serão e de como isso ajudará outras moedas”, disse, em entrevista coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 27.
O especialista frisa que Jerome Powell, o chefe do banco central dos EUA, ‘deixou setembro na mesa’ em um contexto de núcleo de inflação subindo, e que o cenário de um corte de juros já no próximo mês ganhou força.
“Projetamos três cortes, em um ciclo de flexibilização monetária bem curto”, aponta.
Mesquita aponta que o cenário visto por conta dessa conjuntura tem sido relativamente inusual.
“O que você vê é moeda cedendo e juros subindo, um comportamento mais típico de mercados emergentes do que o de uma economia desenvolvida. É um sinal de fragilidade da moeda.”
O economista-chefe ainda frisa que no simpósio de Jackson Hole, no discurso de Powell, ficou clara a ‘iminência’ do início do ciclo, mas o mercado ainda debate o quão longe ele irá.
“Temos uma visão de que não conseguirão cortar tanto quanto o mercado espera porque economia segue forte, desemprego está baixo e há um choque de oferta.”
Atualmente a cotação do dólar está no patamar de R$ 5,45, representando uma queda de 13,4% desde o início do ano de 2025.
O relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC), mostra que o consenso do mercado financeiro espera um dólar a R$ 5,59 ao fim deste ano, de R$ 5,64 no fim de 2026 e de R$ 5,63 em 2027.
Risco de uma eventual recessão no Brasil é mitigado por consumo aquecido
Acerca da atividade econômica, o time de pesquisa macroeconômica do Itaú segue vendo um mercado de trabalho bastante aquecido nos próximos meses, o que sustenta o consumo e mitiga o risco de recessão mais profunda, uma ‘parada brusca’ na atividade econômica.
“Desaceleração, sim. A gente deve ter um segundo semestre com uma economia bem mais fraca do que no início do ano, mas a resiliência do consumo mitiga o risco de um cenário mais agudo de desaceleração”, explica Mesquita.
O economista observa que o ‘Consignado INSS’, que teve problemas operacionais, apresentou impacto na atividade, tal como o pagamento de precatórios, é um fator positivo, na contramão – com a população que tem recebido dinheiro tendo predileção por gastar as cifras em detrimento de poupá-las.
A projeção da casa é de um PIB de 2,2% neste ano e uma desaceleração para 1,5% de crescimento econômico no ano de 2026 – com viés de alta, dado que se trata de um ano eleitoral, com prováveis estímulos tanto do Governo Federal quanto de governos estaduais.
Itaú vê Selic a 15% ao menos até o fim do primeiro trimestre
Sobre a trajetória da Taxa Selic, o Itaú enxerga os juros mantidos no patamar atual, de 15%, pelo menos até o primeiro trimestre de 2026, dadas as sinalizações recentes do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter uma postura austera por ‘um período bastante prolongado’.
“Quando o BC usou somente ‘prolongado’ no passado, isso significou uma pausa entre sete a nove reuniões. Então esse ‘bastante’ pode significar mais do que isso. É claro que cada ciclo é um ciclo, a conjuntura muda, mas a intenção do BC hoje, comunicada de várias maneiras, é de ficar parado por realmente bastante tempo”, afirma Mesquita.
Isso, mesmo em um contexto em que os especialistas da casa enxergam ‘boas notícias’ vindas do Boletim Focus, com inflação implícita cedendo e recuo em projeções de indicadores relevantes para o radar do BC.
A projeção da casa é de 15% de Selic para este ano e de 12,75% ao fim de 2026.