06/02/2025 - 12:17
O dólar recuou ante o real nesta quinta-feira, 6, devolvendo os ganhos obtidos na véspera, uma vez que os investidores retomaram o processo de correção de preço da moeda no Brasil diante da percepção de exagero nas cotações do ano passado e de um novo governo dos Estados Unidos mais moderado do que o esperado.
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O dólar à vista fechou em baixa de 0,49%, a R$ 5,7649 reais, a menor cotação desde 18 de novembro do ano passado, quando encerrou em R$ 5,7484. Veja cotações.
Às 17h13, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,53%, a 5,790 reais na venda.
Já o Ibovespa fechou no positivo nesta quinta-feira, com Vale entre os principais suportes acompanhando o avanço dos futuros do minério de ferro na China, enquanto Itaú Unibanco também ocupou as atenções, com o CEO afirmando que o banco está se preparando para qualquer cenário após resultado sólido em 2024.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,55%, a 126.224,74 pontos, tendo marcado 126.398,77 pontos na máxima e 125.249,04 pontos na mínima do dia. O volume financeiro somou 19,1 bilhões de reais.
O dólar no dia
Em uma sessão esvaziada de notícias e dados econômicos, os investidores se posicionaram com base em fatores externos e domésticos observados em sessões recentes, o que, como na maior parte deste ano, significou perdas para a moeda norte-americana.
Na cena doméstica, o mercado retomou o movimento recente de reprecificação dos ativos brasileiros, avaliando novamente que os preços registrados no fim do ano passado, em meio às preocupações com o cenário fiscal brasileiro, estavam muito exagerados, o que fornece espaço para correção.
Antes do leve ganho de quarta-feira, o dólar recuou ante a moeda brasileira por doze sessões consecutivas e agora acumula uma perda de 6,7% no ano.
Em dezembro, por outro lado, o dólar esteve acima de R$6,00 na maioria das sessões, impulsionado, em particular, por preocupações com as contas públicas após o anúncio de um pacote de medidas fiscais pelo governo que desagradou o mercado.
“O dia tem poucos direcionadores claros… O movimento parece ser mais de correção e realização de lucros, sem um fator específico”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Já no cenário externo, os mercados continuam ajustando sua percepção sobre o novo governo do presidente dos EUA, Donald Trump, avaliando que suas contínuas ameaças tarifárias podem ser mais uma tática de negociação política do que uma estratégia econômica efetiva.
Após impor tarifas de 25% sobre os produtos de México e Canadá no fim de semana, Trump chegou a um acordo com os líderes dos dois países na segunda-feira para suspender as taxas por 30 dias em troca de um controle mais rígido da fronteira por parte dos vizinhos.
Em relação à China, por outro lado, ainda não houve acordo sobre a tarifa de 10% imposta por Trump, que gerou retaliação por parte de Pequim. O impasse comercial entre as duas maiores economias do mundo gera cautela nos mercados globais.
“Existe uma certa apreensão ainda, mas já foi maior. Trump tem se posicionado nessa postura pró-tarifas, mas para negociar. A tendência para os próximos anos, apesar da volatilidade, é de uma política protecionista, o que afeta o comércio mundial”, disse Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos.
Na esteira do reajuste de expectativas, o dólar também perdia sobre moedas emergentes, como peso mexicano, rand sul-africano e peso chileno.
No início da sessão, o dólar chegou a subir contra o real, em linha com ganhos sobre moedas emergentes e após comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que preocuparam alguns agentes financeiros.
Lula disse, durante entrevista às rádios Metrópole e Sociedade, ambas da Bahia, pela manhã que a inflação está “totalmente controlada” e que o governo apresentará novas medidas de crédito nos “próximos dias”.
As declarações geraram a percepção de que o governo estaria mais preocupado em estimular a economia do que resolver os problemas da trajetória da dívida pública e da inflação acima da meta.
O dólar atingiu a máxima do dia, a R$5,8239 (+0,52%), às 9h14, na esteira dos comentários de Lula e dos ganhos da divisa sobre moedas emergentes, antes de devolver os ganhos e passar a subir.
A mínima da sessão, a R$5,749 (-0,77%) foi registrada às 15h37, com o dólar recuperando algumas perdas antes do fim do pregão.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — tinha variação positiva de 0,01%, a 107,660.
Mais cedo, o Banco Central vendeu, em sua operação diária, 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 5 de março de 2025.
O dia do Ibovespa
Na visão do gestor de renda variável Tiago Cunha, da Ace Capital, a bolsa teve um dia positivo na esteira dos primeiros balanços corporativos do final de 2024. Ele citou como exemplo o resultado do Itaú, que, acrescentou, apesar de em linha com as expectativas, trouxe uma perspectiva mais positiva para o ano.
Em Nova York, o S&P 500 termincou com acréscimo de 0,36%, corroborando o sinal positivo na bolsa paulista, antes de dados bastante monitorados sobre o mercado de trabalho norte-americano, previstos para sexta-feira.
DESTAQUES
– VALE ON avançou 1,51%, endossada pela alta dos futuros de minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) encerrou as negociações do dia com acréscimo de 1,43%, a 817,5 iuanes (US$ 112,22) a tonelada. No setor, CSN MINERAÇÃO ON subiu 4%.
– ITAÚ UNIBANCO PN fechou em alta de 0,18%, após reportar na véspera resultado trimestral considerado sólido por analistas e anunciar R$ 18 bilhões em remuneração adicional a acionistas. Analistas, porém, consideraram as previsões do banco para o ano conservadoras. O presidente do Itaú, contudo, afirmou que o banco está bastante confortável com as projeções e, se o cenário mudar para melhor, tem uma capacidade muito grande de acelerar e reagir. O Itaú “está muito preparado para enfrentar qualquer tipo de cenário”, enfatizou
– BRADESCO PN valorizou-se 1,38%, tendo no radar o balanço na sexta-feira, antes da abertura da bolsa. Projeções compiladas pela LSEG aponta lucro líquido de R$ 5,33 bilhões no quarto trimestre. Ainda no setor, SANTANDER BRASIL UNIT terminou com variação negativa de 0,3%, após desempenho robusto na véspera com a repercussão positiva ao lucro acima do esperado no quarto trimestre. BANCO DO BRASIL ON, que reporta resultado no dia 19, subiu 1,15%.
– EMBRAER ON <EMBR3.SA> caiu 2,82%, em sessão de realização de lucros, mesmo com a avaliação positiva de analistas sobre a carteira de pedidos da fabricante de aviões no quarto trimestre, que somou recorde histórico com US$26,3 bilhões. Os papéis haviam disparado 15,5% na véspera, marcando uma máxima histórica de fechamento em R$ 66,37, embalados pela notícia de que a Embraer recebeu a maior encomenda de jatos executivos da sua história, avaliado em até US$ 7 bilhões.
– BRASKEM PNA recuou 1,04% após a petroquímica divulgar prévia operacional na véspera, com analistas do Safra avaliando que a companhia apresentou resultados mais fracos no quarto trimestre em todos os setores devido a uma combinação de spreads e embarques menores. As vendas de resinas no Brasil somaram 810 mil toneladas no quarto trimestre, alta de 3% ano a ano, mas queda de 7% na comparação trimestal.
– PETROBRAS PN cedeu 0,19%, em meio ao enfraquecimento dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent fechou em baixa de 0,43%.
– RAÍZEN PN disparou 8,28%, reagindo após renovar mínima histórica mais cedo, a R$ 1,62. Até a mínima desta sessão, os papéis da companhia, uma joint venture da Cosan com a Shell, acumulavam em 2025 um declínio de 25%. Uma reportagem do Valor publicada no começo da tarde, citando fontes, afirmou que a Raízen busca aumento de capita para reduzir pressão de dívida do grupo Cosan.
– MAGAZINE LUIZA ON subiu 7,41%, em dia de ajustes após recuar cerca de 5% na véspera, em sessão mais positiva para ações de empresas sensíveis à economia doméstica. O índice do setor de consumo terminou o dia em alta de 1,17%.
– AZUL PN valorizou-se 3,42%, experimentando uma recuperação após despencar quase 9% na véspera, quando reagiu à aprovação pelo conselho de administração da companhia de aumento de capital de entre R$ 1,5 bilhão e R$ 6,1 bilhões mediante emissão de novas ações para entrega a credores da empresa, o que deve provocar a diluição de acionistas. GOL PN, que não faz parte do Ibovespa, saltou 9,29%.