18/03/2015 - 16:21
O novo mecanismo cambial venezuelano, que prometia a livre negociação de divisas, foi incapaz de satisfazer a demanda após um mês de operação, fazendo disparar o valor do dólar no mercado paralelo, que o governo de Nicolás Maduro esperava conter.
O Sistema Marginal de Divisas (Simadi) foi anunciado com entusiasmo por Maduro e seus ministros da área econômica como um sistema “livre” e que funcionaria “através das bolsas (de valores) públicas, das bolsas privadas, onde participam o setor privado e o setor público”.
Com a cotação do mercado paralelo (onde um dólar custa 40 vezes mais do que o subsidiado para importações prioritárias, de alimentos básicos e medicamentos), o Simadi não cumpriu com as expectativas de divisas nos setores que o governo considera “não prioritários” (insumos industriais), enquanto a entrega de divisas para os setores prioritários caiu de forma expressiva.
Nesta semana, o dólar para importar alimentos e medicamentos continua em 6,30 bolívares – como acontece há dois anos apesar de uma inflação de 70% ao ano -, enquanto o Sicad (para importações não prioritárias) é cotado a 12 bolívares e o Simadi, a 190. Já a cotação do dólar paralelo chega a 270 bolívares o dólar.
A Venezuela, que vive sob estrito controle cambial desde 2003, obtém das exportações petroleiras (monopólio estatal) 96% de suas divisas. A queda do preço do barril para menos da metade em seis meses precipitou uma crise no país que importa mais da metade da comida e dos medicamentos que consome, além da maioria dos insumos e dos bens industriais.
“A modificação do sistema de cambial não funcionou como se esperava. Não houve alocações de dólares no Sicad (a 12 bolívares o dólar), alocação de divisas no Cencoex a 6,30 bolívares o dólar foi muito escassa; e o Simadi não funcionou, com uma demanda substancialmente maior do que a oferta”, resumiu à AFP o economista e diretor da consultora Ecoanalítica, Pedro Palma.
Com o Simadi, a promessa do Executivo venezuelano era de que “os ofertantes e demandantes se cruzariam entre si com um preço para as divisas que de acordo com as necessidades da economia subiria ou cairia”, em um esquema que cobre menos de 5% do mercado de divisas.
Consequentemente, o resto do mercado cambial seria atendido pelo Cencoex (alimentos e medicamentos) e pelo Sicad (outros itens básicos), que acabou não retomando os leilões.
Somado a isso a oferta do Simadi foi bem pequena e essencialmente de alguns entes privados. O setor público, principalmente o BCV e a estatal Petróleos de Venezuela, não ofertaram divisas.
Mesmo nesse contexto de austeridade, a Venezuela teve especial cuidado em continuar pagando sua dívida externa. O último pagamento foi realizada nesta semana, quando quitou 1,070 bilhão de euros de um bônus. Entre abril e maio estão programados pagamentos de 1,8 bilhão de dólares.
O mercado do dólar paralelo, que se fortaleceu diante da escassez de divisas gerada pelo controle cambial, entrou em fase ascendente desde que Maduro assumiu o poder em 2013.
Desde outubro de 2014, em meio à queda dos preços do cru e dos temores de uma possível suspensão de pagamentos da dívida da Venezuela, a divisa no mercado paralelo subiu de 100 bolívares para 270 bolívares o dólar, uma alta de 170% em seis meses.
Este comportamento sugere que o Simadi não foi eficiente.
“O Banco Central (BCV) deu sinais de que aspira que esse mercado seja alimentado por particulares. Mas não está claro qual é a cotação normal” indica Palma.
Após um mês de operação, a cotação do Simadi subiu 11,5% passando de 170 bolívares para 190.
Para García, “no atual sistema cambial, a taxa a 6,3 bolívares o dólar é o que realmente traz danos, fazendo que todo o regime cambial seja ineficaz e inviável”, pois é considerado como um forte incentivo para a corrupção, enquanto impede reduzir o déficit fiscal, já que o setor público recebe menos moeda local por cada dólar.
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