Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar fechou em alta frente ao real nesta segunda-feira, embora distante das máximas da sessão, interrompendo uma longa sequência de baixas com amparo da força da moeda norte-americana no exterior, em dia marcado por receios sobre os próximos passos de política monetária do Federal Reserve, a guerra na Ucrânia e a disseminação da Covid-19 na China.

A moeda norte-americana à vista subiu 0,52% no dia, a 4,7714 reais na venda, recuperando-se após registrar a oitava sessão seguida de desvalorização na sexta-feira. Na máxima da sessão desta segunda, chegou a tocar 4,8202 reais, alta de 1,54%.

Na B3, às 17:12 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,47%, a 4,7735 reais.

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O dólar negociado no mercado doméstico encontrou suporte na força da moeda no exterior nesta segunda-feira, com o índice da divisa norte-americana frente a uma cesta de rivais fortes subindo 0,3% após o rendimento do título soberano de dez anos dos Estados Unidos chegar a superar 2,5%, indo a picos em três anos.

Depois de o banco central norte-americano ter elevado os juros em 0,25 ponto percentual neste mês, na primeira alta desde 2018, os mercados monetários passaram a precificar ajuste mais agressivo, de 0,5 ponto, no próximo encontro do Federal Reserve, o que é visto como fator de impulso global para os rendimentos dos Treasuries e para o dólar.

Além disso, a alta da moeda norte-americana nesta sessão refletiu cautela de investidores com as negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, que ainda não tiveram progresso concreto, e temores sobre o salto nos casos de Covid-19 na China, que levou a um lockdown no centro financeiro de Xangai, comentou Guilherme Esquelbek, da Correparti Corretora.

Ele também chamou a atenção para a valorização internacional do dólar frente a divisas de países exportadores de commodities diante da forte queda do petróleo, com o barril do tipo Brent fechando esta segunda-feira em baixa de quase 7%, a 112,48 dólares. Rand sul-africano, dólar australiano, peso mexicano e peso chileno, pares importantes do real, tiveram perdas ao longo da sessão.

Por aqui, participantes do mercado já vinham alertando desde a semana passada que havia possibilidade de eventual alta do dólar frente ao real, uma vez que é normal ver movimentos de correção após oscilações expressivas. A sequência de oito perdas consolidada na sexta-feira passada, período em que o dólar recuou quase 8% frente ao real, foi a maior desde uma série de mesma duração finda em 5 de março de 2010, e foi alimentada por fluxos constantes de recursos para o Brasil.

“Com mais força cambial ficando para trás, poucos argumentos convincentes para redução considerável do prêmio de risco e o real sensível a possível piora no sentimento global de risco, a recompensa pelo risco de posições compradas em real parece menos atraente agora do que há muitas semanas atrás”, disse o Goldman Sachs em relatório, embora enxergue possibilidade de a moeda brasileira atingir níveis em torno de 4,50 por dólar no curto prazo, apoiada, entre outros fatores, pela disparada recente nos preços das commodities.

O banco também citou preocupações com as perspectivas de crescimento do Brasil –cuja economia deve ser afetada pela crise na Ucrânia– e desafios fiscais domésticos como possíveis empecilhos para valorização adicional do real no médio prazo.

A possibilidade de o Banco Central encerrar seu ciclo de aperto monetário em maio, com o presidente Roberto Campos Neto sinalizando alta da Selic a 12,75% ao ano, também foi destacada pelo Goldman Sachs, que, assim como várias outras instituições financeiras, esperava elevação adicional dos juros em junho.

Custos de empréstimos mais altos têm sido apontados como importante fator de impulso para o real, já que tornam a moeda mais atraente para investidores que buscam lucrar com a tomada de empréstimos em países de juro baixo e aplicação desses recursos num mercado que oferece maiores rendimentos. Atualmente, a Selic está em 11,75%.

Apesar da recuperação desta manhã, o dólar ainda cai 14,40% no acumulado do ano frente ao real, cujos ganhos em 2022 são os mais acentuados do mundo.

(Edição de Isabel Versiani)

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