27/11/2024 - 17:21
O dólar fechou em queda de 1,8%, a R$ 5,9141, na sessão desta quarta-feira, 27, na maior cotação de fechamento da história, pressionado por preocupações com o cenário fiscal no país, com um pacote de cortes de gastos prometido pelo governo federal há semanas prestes a ser divulgado pela equipe econômica.
Antes do fechamento o dólar atingiu o pico de R$ 5,9310 (alta de 2,09%) às 15h54, em um momento em que as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) também disparavam. Já o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, caiu 1,73%, a 127.668,61 pontos, na mínima do pregão, com os negócios também refletindo alguma cautela em razão do feriado nos Estados Unidos na quinta-feira.
+ Entenda a reação negativa do mercado antes de anúncio do pacote do governo
+Haddad fará ‘pronunciamento à nação’ nesta noite na TV
A cotação do dólar superou o recorde anterior, que era do dia 13 de maio de 2020. À época, em meio à pandemia, a moeda americana chegou aos R$ 5,9012.
A alta do dólar de hoje está atrelada à notícia de que o governo deve anunciar ainda hoje uma isenção de Imposto de Renda para quem tem renda mensal de até R$ 5 mil. Em novembro, a divisa acumula elevação de 2,29%.
A proposta, que é uma promessa de campanha do presidente da República, representaria uma renúncia fiscal relevante e, com isso, frustraria os anseios do mercado, que esperava um pacote de gastos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará um pronunciamento de pouco mais de sete minutos ainda nesta quarta, 27, no qual deve falar sobre o pacote fiscal. O pronunciamento de Haddad será transmitido em Rede Nacional de Rádio e Televisão às 20h30.
Representantes do Governo, todavia, já confirmaram que a isenção de IR deve estar no pacote.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que o pacote fiscal que ainda será anunciado incluirá a taxação de super-ricos e a isenção de imposto de renda. Em entrevista coletiva em Brasília, Marinho também disse que o conteúdo do pacote que será anunciado por Haddad será ‘completamente diferente do que vinha sendo ventilado’.
“(Estará) tudo. Supersalários, imposto para os super-ricos, vem tudo aí. Pacote completo”, disse.
Além do efeito negativo no câmbio, a bolsa de valores também respondeu às novidades, caindo 1,45% aos 128.035 pontos.
“O dia que deveria ser marcado pelo esperado pacote de contenção de despesas, poderá contar também com um aumento considerável nos gastos do governo. Na dúvida sobre se o anúncio será conjunto ou não, e sobre se o financiamento da isenção do IR será outro além do pacote de gastos, o mercado, claro, se posicionou de forma bastante defensiva. Afinal, se o financiamento desta isenção de IR vier do pacote de gastos, o valor de R$ 70 bilhões passa a ser irrisório”, explica Helena Veronese, Economista-Chefe B.Side Investimentos.
Renúncia fiscal será bilionária
Lula já isentou quem ganha até R$ 2.640 mensais, o que representou uma renúncia fiscal de R$ 3 bilhões mensais – ou R$ 36 bilhões anuais.
Atualmente mais de 30 milhões de brasileiros declaram Imposto de Renda, e a grande maioria entra na faixa de até R$ 5 mil mensais – ou seja, a renúncia fiscal seria ainda maior.
No ano passado, o ministério da Fazenda estimou o impacto da medida entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões ao ano, mas a projeção considera um desenho mais restrito da medida, com foco em rendimentos de até R$ 5 mil e possivelmente incluindo “rampas” para contribuintes ligeiramente acima dessa faixa.
Dólar no ano
O dólar fechou o ano de 2023 em R$ 4,85. Desta forma, a moeda americana acumula uma valorização de 22% desde então.
A valorização vem na esteira de incertezas sobre a política fiscal brasileira, já que o mercado tem intensificado a pressão por medidas mais robustas de contenção de gastos, ao passo que o Governo Federal ainda não apresentou soluções claras.
Nesse contexto, persiste o ceticismo quanto à capacidade do governo de assegurar a sustentabilidade fiscal e cumprir as metas previstas no novo arcabouço fiscal – especialmente de 2025 em dianete.
Além disso, também afetam o dólar fatores externos como a condução da política monetária nos Estados Unidos e a migração de investimentos de mercados emergentes, como o Brasil, para mercados considerados mais seguros.