Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar abandonou as mínimas do dia e chegou a superar os 5,46 reais nesta quarta-feira, embora já tenha perdido fôlego desde então, de olho no movimento internacional da divisa norte-americana após dados mostrarem alta mais intensa que o esperado nos preços ao consumidor dos Estados Unidos.

A inflação na maior economia do mundo acelerou em junho, uma vez que os preços da gasolina e dos alimentos permaneceram elevados, resultando na maior taxa anual em 40 anos e meio e consolidando expectativas de que o Federal Reserve, banco central do país, aumentará os juros em 0,75 ponto percentual no final deste mês.

Alguns participantes do mercado estão até considerando a possibilidade de ajuste ainda mais intenso nas taxas de empréstimo, de 1 ponto percentual, no próximo encontro do Fed, enquanto as projeções para o patamar dos juros básicos ao final deste ano e do ciclo de aperto monetário –provavelmente no ano que vem– foram elevados na esteira dos dados de inflação.

“Não há dúvida que o Fed tem muito trabalho pela frente. Além de 75 pontos-base na próxima (reunião), vamos voltar a falar de taxa final acima de 4% e durando mais tempo, com o risco maior de inércia”, disse em postagem no Twitter Rafaela Vitoria, economista-chefe do banco Inter.

Já a CM Capital comentou que “o indicador mostra cada vez mais uma inflação semelhante entre os seus grupos e disseminada na economia, o que não é, de forma alguma, uma boa notícia”, embora tenha notado que “o núcleo do indicador apresentou inflação muito mais modesta”.

Juros mais altos nos Estados Unidos são vistos como benéficos para a moeda norte-americana, já que elevam a atratividade da renda fixa local, aumentando a demanda por dólares.

Ao mesmo tempo, a perspectiva de custos de empréstimo mais altos por lá tem afetado o apetite por risco de investidores globais, que temem que um aperto monetário agressivo sufoque demais o crescimento econômico e leve a economia a uma recessão. Esse medo vem prejudicando ações, commodities e moedas de países emergentes nas últimas semanas.

Às 10:17 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,25%, a 5,4258 reais na venda, devolvendo boa parte das perdas registradas nos primeiros negócios, quando chegou a cair 0,60%, a 5,4065.

Na máxima do dia, o dólar saltou 0,51%, a 5,4673 reais na venda, depois de na véspera já ter avançado 1,27%, a 5,4394 reais na venda, máxima desde 24 de janeiro (5,507 reais).

Na B3, às 10:17 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,28%, a 5,4515 reais.

O fortalecimento pontual do dólar não foi visto apenas no Brasil. Várias moedas emergentes ou sensíveis às commodities, como pesos mexicano e chileno, rand sul-africano e dólar australiano moderavam as perdas nesta manhã após breve disparada na esteira dos dados de inflação.

O índice da divisa norte-americana contra uma cesta de rivais fortes reverteu perdas iniciais e saltou a um novo pico em 20 anos após o relatório de preços ao consumidor, mas depois também perdeu fôlego, e rondava a estabilidade por volta de 10h15 (de Brasília).

Já o fragilizado euro, depois de muita expectativa por parte de investidores de todo o mundo, finalmente foi abaixo da paridade em relação ao dólar, pela primeira vez desde dezembro de 2002.

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