Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou em queda frente ao real nesta segunda-feira, acompanhando recuperação internacional do apetite de investidores por risco na esteira da reversão de um plano de corte de impostos no Reino Unido, embora temores sobre o aperto monetário do banco central norte-americano continuassem no radar.

A moeda norte-americana à vista caiu 0,41%, a 5,3014 reais na venda, depois de recuar até 1,31% no menor patamar do dia, a 5,2537 reais. O dólar marcou sua primeira queda diária em uma semana.

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Na B3, às 17:08 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,53%, a 5,3125 reais.

Guilherme Esquelbek, analista da Correparti Corretora, disse que a depreciação do dólar tanto no mercado local quanto no exterior foi reflexo de procura global por risco na esteira da notícia de que o governo britânico reverterá boa parte de um plano fiscal anunciado no final de setembro.

O novo ministro das Finanças do Reino Unido, Jeremy Hunt, descartou nesta segunda-feira a maior parte dos 45 bilhões de libras em cortes de impostos não compensados pelo governo proposta por Kwasi Kwarteng, seu antecessor. Kwarteng foi demitido na semana passada depois que seu polêmico plano fiscal lançou ondas de estresse pelo mercado de títulos britânico, contaminando o sentimento global.

O índice que compara a divisa norte-americana a uma cesta de seis rivais fortes caía 0,85% nesta tarde, abrindo espaço para a valorização de várias moedas emergentes ou sensíveis às commodities. Rand sul-africano e dólar australiano, importantes pares do real, avançavam mais de 1% no dia, enquanto peso mexicano e sol peruano tinham alta mais tímida, de 0,2 a 0,4%.

As ações listadas nas principais bolsas também registraram fortes ganhos nesta segunda-feira, enquanto os rendimentos dos títulos soberanos de grandes economias caíram. [.NPT] [.EUPT]

Além de refletir o noticiário britânico, o movimento de depreciação do dólar e avanço das ações nesta segunda-feira foi atribuído por parte dos mercados a uma correção, depois de forte aversão a risco global na sexta passada, em meio a temores sobre a persistência da inflação nos Estados Unidos e seu impacto sobre a já agressiva trajetória de aperto monetário do Federal Reserve, o banco central do país.

O Fed já subiu os juros em 3 pontos percentuais desde março deste ano.

O Goldman Sachs disse em relatório recente que “o dólar tem muita coisa jogando a favor dele no momento”, já que dados econômicos norte-americanos têm se mostrado relativamente resilientes e há um forte apelo global por segurança em um ambiente de risco instável, ao mesmo tempo que “é difícil encontrar um candidato para ser substituto” da divisa norte-americana.

De fato, o índice do dólar contra pares fortes dispara mais de 17% no acumulado de 2022, e o fortalecimento externo da moeda tem sido um dos principais responsáveis pelos momentos de depreciação do real no mercado brasileiro.

No entanto, a moeda norte-americana ainda recua 4,9% frente à brasileira até agora no ano, com o patamar elevado da taxa Selic, atualmente em 13,75%, servindo como colchão para o real ao impulsionar o redirecionamento de recursos para o mercado de renda fixa doméstico, de acordo com especialistas.

Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais, também destacou em publicação no Twitter o bom desempenho da economia local na comparação com pares globais. Enquanto temores de recessão assombram boa parte dos países desenvolvidos, várias instituições financeiras têm melhorado seus prognósticos para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2022.

“O câmbio é relativo e as forças relativas favorecem o Brasil. Nosso valor justo permanece em 4,50 reais por dólar”, disse Brooks, referindo-se à taxa de câmbio que acredita ser condizente com os fundamentos macroeconômicos do país.

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