Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar saltou frente ao real nesta segunda-feira, em meio a temores de investidores de que o montante de gastos extrateto embutidos na PEC da Transição siga próximo dos 200 bilhões de reais, enquanto sinais de resiliência da economia dos Estados Unidos respaldaram a força da divisa norte-americana.

A moeda norte-americana à vista avançou 1,35%, a 5,2844 reais na venda. Essa foi a maior valorização percentual diária desde 25 de novembro (+1,84%) e o patamar de encerramento mais alto desde terça-feira passada (5,2883).

Lideranças do Senado e da Câmara acertaram na manhã desta segunda que o texto da PEC da Transição terá vigência por dois anos e que a proposta manterá o valor original proposto, que poderá abrir uma exceção no teto de gastos de até 198 bilhões de reais para custear o Bolsa Família, entre outros pontos, e investimentos no próximo ano, disse o relator-geral do Orçamento de 2023, Marcelo Castro (MDB-PI).

“Toda essa articulação e a possibilidade de que seja uma PEC beirando os 200 bilhões de reais ou colocando muita coisa fora do teto além do Auxílio Brasil (futuro Bolsa Família) gera essa valorização do dólar”, disse à Reuters Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.

As preocupações de investidores sobre os gastos buscados pelo governo eleito têm sido exacerbadas pela falta de definição de quem será o ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva, figura que poderia ajudar na negociação da PEC da Transição, dizem especialistas.

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Lula já disse que só deve anunciar os nomes de seus ministros após a diplomação presidencial, no dia 12 de dezembro. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad é atualmente visto como o favorito a assumir o Ministério da Fazenda.

“Justamente por ser um nome muito mais político do que técnico, (Haddad) demonstraria uma incerteza fiscal maior”, disse Izac.

Já no exterior, dados do setor de serviços dos Estados Unidos mais fortes do que o esperado desencadearam piora generalizada no humor dos mercados globais, alimentando a disparada do dólar frente ao real.

O Instituto de Gestão do Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) informou nesta segunda-feira que o PMI do setor de serviços norte-americano subiu bem mais do que o esperado em novembro, o que pode reforçar temores de que o Federal Reserve seguirá agressivo no aperto da política monetária de forma a esfriar a economia e conter a inflação.

Na esteira dos dados, o índice que compara o dólar a seis moedas fortes disparava 0,85% nesta tarde.

De volta ao Brasil, investidores aguardavam a reunião do Comitê de Política Monetária do BC, que começará na terça-feira e se encerrará na quarta. Embora haja consenso no mercado de que a taxa Selic será mantida nos atuais 13,75%, investidores ficarão atentos a qualquer indicação do Copom sobre como as atuais incertezas fiscais podem afetar decisões de alta de juros.

“O Copom deve reforçar sua postura cautelosa com o processo desinflacionário em curso, talvez aumentando o tom sobre a possibilidade de alta da taxa de juros”, disse o Citi em relatório, embora tenha como cenário base a manutenção da Selic nesta semana.

Diante da perspectiva de fortes gastos extrateto pelo governo eleito, a curva de juros brasileira chegou a precificar novos aumentos da Selic em 2023, enquanto a mais recente pesquisa semanal Focus do Banco Central sugere um afrouxamento monetário menos intenso ao longo do ano que vem.

Apesar das incertezas de curto prazo, “o cenário básico para o real é bom”, disse Izac, da Nexgen. “Estamos vivendo uma onda de valorizaçao de commodities e temos uma taxa de juros real que está entre as melhores do mundo, então o cenário básico é de um real mais forte, cada vez mais perto dos 5 (por dólar)”, avaliou o especialista.

“O que o mercado não gosta é do clima de indefinição. A partir do momento que tiver uma melhor definição fiscal, seja boa ou ruim, o mercado começa a se adaptar e pode recuperar fôlego”, completou Izac.

(Edição de Flávia Marreiro)