O dólar à vista disparou quase 2% nesta quinta-feira, 22, e se reaproximou dos R$ 5,60, puxado pelo avanço firme da moeda norte-americana também no exterior e por novo discurso duro contra a inflação do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.

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O dólar à vista fechou em alta de 1,96%, cotado a R$ 5,5899. Em agosto, no entanto, a divisa ainda acumula baixa de 1,17%. Veja cotações.

Às 17h08, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 2,01%, a R$ 5,5945 na venda.

Já o Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, em dia de realização de lucros, após renovar máximas históricas, chegando a superar os 137 mil pontos na véspera.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,95%, a 135.173,39 pontos, tendo marcado 134.835,74 pontos na mínima e 136.462,18 pontos na máxima da sessão. O volume financeiro somava R$ 22,2 bilhões.

O dólar no dia

A moeda norte-americana engatou ganhos firmes ante o real já no início do dia, na esteira do avanço firme dos yields dos títulos norte-americanos e do dólar ante outras divisas no exterior, após novos dados econômicos dos EUA.

O Departamento de Trabalho informou que o número de pedidos iniciais de auxílio desemprego subiu para 232.000 na semana encerrada em 17 de agosto, ante 228.000 pedidos revisados para cima na semana anterior.

O resultado reforçou o argumento de que há um esfriamento do mercado de trabalho norte-americano, com operadores elevando as apostas de um corte de 25 pontos-base dos juros na reunião de setembro do Federal Reserve — e não de 50 pontos-base, como chegou a ser precificado.

No Brasil, o dólar ganhou ainda mais fôlego à tarde, durante discurso de Galípolo em evento em São Paulo. Nele, o diretor afirmou que suas falas recentes não colocaram o BC em um “corner” em relação ao que será feito com a Selic em setembro, mas repetiu que a autarquia subirá a taxa básica se necessário.

Nos últimos dias têm ganhado força entre instituições financeiras a avaliação de que, em função de falas recentes de Galípolo, consideradas hawkish (duras com a inflação), o BC terá que subir a Selic em pelo menos 25 pontos-base em setembro mesmo em meio à relativa melhora do cenário externo, já que as taxas futuras precificam isso.

No evento em São Paulo, Galípolo disse discordar “respeitosamente” das interpretações do mercado sobre o BC ter ficado em um “corner”, em referência a uma situação difícil.

Ao mesmo tempo, ele manteve o discurso duro das últimas semanas: “Inflação fora da meta é situação desconfortável, e ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC”.

Os comentários de Galípolo, cotado para substituir Roberto Campos Neto no comando do BC, impulsionaram as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) — inclusive as de curtíssimo prazo, que passaram a precificar 100% de probabilidade de o BC subir a Selic em 25 pontos-base em setembro.

No mercado de câmbio, os comentários de Galípolo trouxeram apreensão, ainda que em tese uma Selic mais alta possa atrair mais dólares para o Brasil no futuro.

Termômetro do estresse do mercado, o dólar à vista atingiu a cotação máxima de 5,5971 reais (+2,09%) às 15h38, na esteira dos comentários de Galípolo.

Sintoma do estresse no mercado, Galípolo voltou a falar no fim da tarde, desta vez em evento da FGV em São Paulo, e procurou corrigir supostas interpretações equivocadas da fala de mais cedo.

O diretor afirmou que não está sancionando nem as expectativas para a Selic presentes na Focus nem as precificadas na curva de juros. Ao mesmo tempo, repetiu que o BC não hesitará em subir a Selic se necessário.

Em meio aos novos comentários de Galípolo, o dólar para setembro negociado na B3 — o mais líquido do mercado brasileiro — seguia em forte alta neste fim de tarde. Às 17h40, ele subia 1,92%, a 5,5895 reais na venda.

No exterior, no mesmo horário o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas fortes — subia 0,39%, a 101,510.

O dia do Ibovespa

“É uma realização de lucros… após vários dias de alta e renovação de marcas históricas”, avaliou a estrategista Jennie Li, da XP.

Até a véspera, quando renovou seu topo histórico intradia em 137.039,54 pontos, o Ibovespa chegou a acumular uma alta de mais de 7% em agosto considerando a máxima do pregão. Com a correção negativa nesta sessão, soma agora um ganho de quase 6%

De acordo com Li, essa performance positiva reflete em grande parte a volta dos investidores estrangeiros para a bolsa paulista, que está relacionada principalmente à perspectiva de queda de juros nos Estados Unidos.

“A maior probabilidade é que o Federal Reserve começará a cortar os juros em setembro”, observou a estrategista, que vê espaço para as ações no Brasil continuarem subindo no atual cenário. A XP prevê o Ibovespa em 147 mil pontos no fim do ano.

Nesse contexto, as atenções se voltam para a fala de Jerome Powell, na sexta-feira, em evento com representantes de bancos centrais em Jackson Hole, Wyoming, em busca de sinais sobre os próximos passos da autoridade monetária norte-americana.

A correção de baixa no pregão brasileiro ainda teve como componente a alta das taxas dos contratos futuros de juros, na esteira de novo discurso duro contra a inflação do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, e do aumento dos rendimentos dos Treasuries no exterior.

DESTAQUES

– VIBRA ON caiu 3,45%, após firmar acordo para antecipar o direito de compra da fatia remanescente de 50% da Comerc, em conjunto com a Perfin Infra e outros acionistas da Comerc, no valor de 3,52 bilhões de reais. A Vibra adquiriu cerca de 50% da empresa em 2022 e tinha o direito de comprar a fatia restante até 2026.

– ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 0,92%, tendo como pano de fundo relatório de analistas do UBS BB cortando a recomendação dos papéis para “neutra”, enquanto manteve o preço-alvo em 42 reais. No setor, BANCO DO BRASIL ON perdeu 2,42%, SANTANDER BRASIL UNIT cedeu 0,32% e BRADESCO PN fechou negociada em baixa de 0,7%.

– PETROBRAS PN subiu 0,14%, endossada pelo sinal positivo dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent encerrou em alta de 1,54%.

– VALE ON ganhou 0,14%, após desempenho robusto na véspera, em meio ao avanço dos futuros do minério de ferro na Ásia. O contrato mais negociado em Dalian, na China, fechou as negociações diurnas com elevação de 0,41%, enquanto o vencimento de referência em Cingapura mostrou acréscimo de 0,09%.

– CVC BRASIL ON perdeu 6,52%, corrigindo parte do salto da véspera, quando fechou com valorização de 12,75%. No mesmo contexto, MRV&CO recuou 5,28%, devolvendo parte de ganhos recentes, em movimento avalizado pela alta nas taxas futuras de juros após declarações de diretor do BC.

– WEG ON valorizou-se 1,44%,renovando topo histórico de fechamento, a 53,43 reais. Na máxima do dia, bateu 54,78 reais.

– EMBRAER ON avançou 2,15%, para o preço recorde de fechamento de 46 reais, tendo no radar relatório de analistas do Bank of America elevando o preço-alvo dos ADRs (recibos de ações negociados nos EUA) da fabricante de aviões brasileira de 28 para 40 dólares.