O dólar à vista emendou o segundo pregão consecutivo de alta na sessão desta quinta-feira, 8, e fechou próximo da linha de R$ 5,00, nos maiores níveis desde fins de outubro. Embora a busca de posições defensivas às vésperas do Carnaval e uma provável saída de recursos da bolsa local – que recuou mais de 1% em meio ao desconforto com o IPCA de janeiro – possam ter contribuído para o avanço do dólar, operadores afirmam que o escorregão do real hoje está, sobretudo, ligado ao fortalecimento global da moeda americana.

As divisas emergentes, em especial às latino-americanas, sofrem nos últimos dias em razão das mudanças das expectativas em relação ao começo e à magnitude do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, com as apostas majoritárias para uma redução inicial se deslocando de março para maio. Número semanais de pedidos de auxílio-desemprego divulgados pela manhã, que reforçam o quadro de mercado de trabalho apertado, e declarações de dirigentes do Fed endossam a perspectiva de postura mais conservadora do BC americano.

Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar à vista ganhou ainda mais força no início da tarde e renovou sucessivas máximas, até superar o nível de R$ 5,00. No fim da sessão, a moeda avançava 0,53%, cotada a R$ 4,9948 – maior valor de fechamento desde 31 de outubro (R$ 5,0414). Como na sessão de ontem, as oscilações foram contidas – de cerca de três centavos entre mínima (R$ 4,9726) e máxima (R$ 5,0016) – e a liquidez, moderada.

“Estamos vendo um movimento global de dólar mais forte com a reprecificação de início de ciclo de corte de juros nos EUA. Isso faz o real até se descolar dos fundamentos positivos, como o saldo robusto da balança comercial em janeiro”, afirma o gestor de renda fixa Gustavo Okuyama, de Porto Asset, ressaltando que hoje os ativos locais ficaram mais fragilizados em razão do IPCA acima do esperado. “Depois de vermos forte entrada para a Bolsa em novembro e dezembro, o que ajudou o real a ter bom desempenho, agora vemos um fluxo de saída que prejudica a moeda”.

Pela manhã, o IBGE informou que o IPCA desacelerou de 0,56% em dezembro para 0,42% em janeiro, superando, porém, a mediana das estimativas de Projeções Broadcast, de 0,35%. Analistas mostraram preocupação a piora dos serviços subjacentes e a manutenção do índice de difusão em 65%, mesmo nível de dezembro. Além de descartarem a possibilidade de aceleração do ritmo de cortes da Selic nas próximas reuniões do Copom, economistas afirmam que a taxa no fim do ciclo de redução pode ficar acima do nível esperado, de 9% no fim do ano, segundo a mediana do Boletim Focus.

Presidente do Federal Reserve de Richmond, Tom Barkin reiterou hoje à tarde que a força do mercado de trabalho dos EUA dá suporte à decisão do BC americano de esperar por mais dados que confirmem a continuidade do processo de desinflação antes de começar a reduzir os juros. Na terça-feira, 13, será divulgado do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que pode mexer com as expectativas em torno dos próximos passos do Fed.

“Os players já estão começando a diminuir as posições de risco antes do Carnaval, porque a inflação americana sai na terça, quando o mercado aqui estará fechado. E já vemos também uma liquidez mais baixa no mercado desde ontem”, afirma Okuyama, de Porto Asset.

À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial total foi negativo em US$ 1,472 bilhão na semana passada (de 29 de janeiro a 2 de fevereiro), em razão de saídas líquidas de US$ 4,585 bilhões pelo canal financeiro, uma vez que houve entrada líquida de US$ 3,113 bilhões no comércio exterior. Em janeiro, o fluxo total foi positivo em 5,198 bilhões (R$ 510 milhões pelo canal financeiro e US$ 4,688 bilhões via comércio exterior).