Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar subiu pelo terceiro pregão consecutivo nesta quinta-feira, o que não acontecia há três semanas, e a moeda chegou a superar 4,77 reais na cotação máxima do pregão, à medida que operadores repercutiram novo dia de fortalecimento global da divisa norte-americana por expectativas de aperto mais intenso dos juros nos EUA.

O dólar à vista avançou 0,55%, a 4,7407 reais na venda. Assim, renovou a máxima de fechamento desde 31 de março (4,7628 reais). A divisa oscilou durante a jornada de 4,6904 reais (-0,52%) a 4,774 reais (+1,26%).

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No rali de três dias, a cotação acumulou ganho de 2,89%. É a maior alta considerando uma série de três sessões desde 19 de julho de 2021 (+3,22%).

O real amargou o terceiro pior desempenho entre as principais moedas nesta quinta. Desde segunda-feira –quando o dólar caiu ao menor valor em dois anos no Brasil–, a divisa está entre os destaques negativos no mundo emergente, junto com peso chileno. O rublo russo lidera a outra ponta, com ganho em torno de 5%. Veja gráfico abaixo:

A demanda mais forte por dólares nesta semana está relacionada sobretudo à reprecificação para os rumos da política monetária nos EUA. Após falas de algumas autoridades do Fed e de o banco central norte-americano divulgar a ata de sua última reunião de política monetária, operadores passaram a ver chances maiores de aumentos mais agressivos nos juros por lá.

Com juros mais altos e ostentando o título de mercado mais seguro do mundo, os EUA, assim, atraem mais recursos, o que valoriza o dólar.

Os fatores que asseguraram a queda de 17% do dólar no acumulado do ano até a última segunda-feira –quando a moeda fechou em 4,6075 reais– prosseguem, sobretudo expectativa de fluxos e elevado diferencial de juros a favor da moeda brasileira, mas o caminho à frente parece mais instável.

Em evento nesta quinta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o recente movimento de valorização cambial foi influenciado por uma reação rápida da política monetária à elevação de preços, uma surpresa fiscal positiva no curto prazo, ganhos com o comércio de commodities e investimentos em empresas.

Bruno Capusso, diretor de tesouraria do Banco Fator, acredita que uma nova rodada de fluxo estrangeiro possa se direcionar desta vez à renda fixa local, principalmente se o Banco Central de fato parar de subir a Selic. Porém, ele não espera para os títulos a enxurrada de dinheiro vista no começo do ano para a bolsa, o que reduziria chances de o dólar testar patamares abaixo de 4,60 reais.

“Temos o diferencial de juros e o fluxo para commodities, mas a gente também tem eleição, tem o fiscal. Há forças ali dos dois lados, e pelo nosso horizonte relevante de informação essas duas forças equilibram ali no 4,60 reais, 4,50 reais”, disse.

“Mas, do mesmo jeito, não vejo tampouco muito espaço para o dólar ir muito acima de 5 reais, não, mesmo com o ano de eleição.”

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