16/12/2024 - 17:19
O dólar à vista fechou em alta nesta segunda-feira, 16, renovando a cotação máxima histórica, conforme receios do mercado com o cenário fiscal e os elevados prêmios de risco do país superaram o impulso positivo da venda de mais de 4,6 bilhões de dólares pelo Banco Central em dois leilões realizados durante a manhã.
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O dólar à vista encerrou o dia em alta de 1,04%, cotado a 6,092 reais — o maior valor nominal de fechamento da história. Veja cotações.
Na B3, às 17h03, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,86%, a 6,100 reais na venda.
Já o Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira, sem trégua na alta das taxas dos contratos de DI em meio a preocupações com o cenário fiscal e a política monetária no país, enquanto GPA disparou com crescentes especulações envolvendo o empresário Nelson Tanure.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa cedeu 0,84%, a 123.560,06 pontos, de acordo com dados preliminares, tendo marcado 123.495,17 pontos na mínima e 124.955,95 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somou 22,78 bilhões de reais.
O dólar no dia
Investidores tomaram posições compradas na moeda norte-americana desde o início da sessão, com o dólar ultrapassando o patamar dos 6,09 reais e marcando alta de 1% já na primeira hora de negociações.
Por trás do movimento, estava a preocupação de que o governo possa não conseguir a aprovação de suas medidas de contenção de gastos no Congresso tal como foram propostas até o fim deste ano, conforme os parlamentares entram na última semana de trabalho antes do recesso de fim de ano.
A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva das negociações corpo a corpo com as lideranças políticas pelo avanço do pacote fiscal, uma vez que ele se encontra em São Paulo se recuperando de uma cirurgia para drenar um hematoma no crânio, parecia ofuscar ainda mais as perspectiva de aprovação das medidas.
“Há um grande apreensão em relação ao pacote e sobre a votação do Orçamento… além de sobre o que foi proposto e o que pode cair”, disse Flávio Serrano, economista-chefe do banco Bmg.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reuniu-se com Lula nesta segunda na capital paulista para discutir as medidas fiscais. Ele disse que o presidente fez um apelo para que as propostas do governo não sejam desidratadas.
Ainda durante a manhã, houve um período de alívio para o real, com o dólar devolvendo praticamente todos os ganhos após a realização de um leilão à vista pelo BC, em que foram vendidos mais de 1,6 bilhão de dólares. Este foi o maior valor de um único leilão à vista desde 10 de março de 2020.
Mais tarde, a autarquia ainda vendeu 3 bilhões de dólares em um leilão de linha (dólares com compromisso de recompra), com o valor total das vendas no dia superando os 4,6 bilhões de dólares, no que foi a terceira sessão consecutiva com intervenção no mercado de câmbio.
Na quinta-feira, o BC já havia vendido 4 bilhões de dólares em dois leilões de linha e no dia seguinte vendeu 845 milhões de dólares em um leilão à vista.
Em reação às operações desta segunda-feira, o dólar alcançou a mínima do dia, a 6,0258 (-0,07%), às 10h13. Mas a reação da moeda brasileira durou pouco e o dólar voltou a subir de forma sólida, atingindo novamente alta de 1% no dia por volta das 15h48.
“O cenário está difícil e volátil, então o leilão tem efeito pontual, mas não muda a trajetória de alta”, afirmou Serrano.
As taxas de juros futuras elevadas, que dispararam novamente com os receios pelo cenário fiscal, serviam como outra fator negativo para o real, afastando investidores estrangeiros do mercado nacional.
Segundo Marcio Riauba, head da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio, o mercado também reagiu a críticas feitas pelo presidente Lula à condução da política monetária, sua primeira declaração sobre o tema depois que o Copom elevou a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, na semana passada.
Lula afirmou em entrevista ao “Fantástico”, da Rede Globo, divulgada no domingo, que “a única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%. Essa é a coisa errada. Não há nenhuma explicação”.
Investidores aguardam pela ata do último encontro do Copom, que será divulgada na terça-feira detalhando a decisão do colegiado de elevar a Selic em 1 ponto percentual, para 12,25%, e sinalizar outros dois aumentos de 1 ponto para o início do próximo ano.
No cenário externo, os mercados aguardam a decisão do Federal Reserve na quarta-feira, em que se espera uma redução de 0,25 ponto nos juros. As atenções devem se concentrar nas projeções das autoridades do banco central dos EUA para os movimentos dos próximos meses, presente no “gráfico de pontos”.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,02%, a 106,850.
O dia do Ibovespa
Na visão de analistas do BB Investimentos, embora o Ibovespa tenha condições técnicas de apresentar recuperação no curto prazo, “o contexto macroeconômico e as baixas expectativas para catalisadores locais devem impedir uma alta consistente”, conforme email enviado a clientes nesta segunda-feira.
“O sentimento de que qualquer movimento de recuperação (do Ibovespa) é uma oportunidade de venda foi evidenciado na última semana”, reforçaram analistas do Itaú BBA no relatório Diário do Grafista enviado a clientes mais cedo. “O momento é continuar com cautela até sinais mais claros de uma recuperação.”
No noticiário fiscal, o Tesouro Nacional divulgou na parte da tarde previsão de que a dívida bruta do governo geral atingirá 77,7% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, acima dos 77,3% estimados em março, e ainda seguirá em alta, com pico de 81,8% do PIB em 2027.
Investidores também continuam atentos à tramitação das medidas do pacote de gastos no Congresso, dado que o recesso parlamentar de fim de ano começa oficialmente na próxima semana. Na última quinta-feira, o presidente do Senado afirmou ser possível aprovar as medidas fiscais antes do recesso.
Quanto à política monetária, a ata da última decisão do Banco Central, na semana passada, quando elevou a Selic de 11,25% para 12,25% e sinalizou mais duas altas na mesma magnitude, deve ocupar os holofotes na terça-feira, enquanto economistas seguem ajustando previsões sobre o ciclo de alta.
Agentes financeiros veem os ativos sendo afetados pela dúvida se a nova diretoria do BC irá perseguir a meta para a inflação, mas também pela percepção no mercado de que, sem a ajuda da política fiscal, a política monetária não será capaz de levar a economia brasileira de volta ao equilíbrio.
DESTAQUES
– GPA ON disparou 15,61%, em meio a crescentes especulações sobre o interesse do empresário Nelson Tanure no dono da bandeira Pão de Açúcar. ASSAÍ ON caiu 6,09% e CARREFOUR BRASIL ON recuou 1,37%.
– VAMOS ON cedeu 8,45%, pressionada pelo movimento de alta nas taxas dos contratos de DI, que afetou outros papéis também, como LOCALIZA ON, que caiu 4,72%, e MAGAZINA LUIZA ON, que perdeu 5,37%.
– ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 1,09%, enquanto BANCO DO BRASIL ON recuou 1,43%, BRADESCO PN perdeu 1,65% e SANTANDER BRASIL UNIT declinou 1,24%. BTG PACTUAL UNIT caiu 4,31%.
– B3 ON sucumbiu à piora e caiu 0,98%, mesmo após anunciar recompra de até 380 milhões de ações, bem como estimar para 2025 desembolsos de 2,84 bilhões a 3,22 bilhões de reais e alavancagem financeira em até 2,1 vezes o Ebitda.
– REDE D’OR ON avançou 0,37% tendo no radar anúncio de programa de recompra de até 30 milhões de ações com prazo de 12 meses e distribuição de 450 milhões de reais em juros sobre capital próprio (JCP).
– MINERVA ON subiu 5,58%, com o setor de proteínas endossado pela resiliência do dólar ante o real. JBS ON avançou 2,73%, BRF ON valorizou-se 2,02% e MARFRIG ON ganhou 4,93%.
– VALE ON terminou com decréscimo de 0,05%, na quinta queda seguida, mesmo em dia de alta dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado em Dalian subiu 0,5%.
– PETROBRAS PN fechou com decréscimo de 0,42% sucumbindo à fraqueza dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent encerrou em baixa de 0,78%.
– AUTOMOB ON saltou 180,09% em sua estreia na bolsa paulista. A companhia resulta da reorganização corporativa que fundiu o negócio de concessionárias da Vamos na Automob, ambas controladas pela holding Simpar.