08/01/2021 - 18:43
O real, assim como terminou 2020, começou 2021 como uma das moedas com pior desempenho ante o dólar, considerando as 34 divisas mais líquidas. A moeda americana acumulou alta de 4,4% na primeira semana do ano, a quarta consecutiva de valorização. O risco fiscal em alta no Brasil voltou a incomodar os investidores e, nos últimos dias, a divisa dos Estados Unidos passou também a ganhar força internacionalmente, em um movimento de correção estimulado pelas altas dos juros dos Treasuries americanos, com a visão de que a economia norte-americana pode crescer mais no governo de Joe Biden, gerando mais inflação e fim das compras de ativos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
Nesse ambiente, o dólar encerra a semana no Brasil no maior nível desde novembro. No fechamento desta sexta subiu 0,32%, aos R$ 5,4165. No mercado futuro, o dólar para fevereiro subiu 0,18%, a R$ 5,4245.
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“Vimos nos últimos meses uma sequência de procrastinação, com o Executivo e o Legislativo empurrando com a barriga decisões fiscais importantes”, avalia o gestor da Kairós Capital, Fabiano Godoi, citando a dificuldade de avançar com vários temas da agenda, incluindo o Orçamento de 2021. Com a eleição para os comandos da Câmara e do Senado, Godoi acredita que o governo terá o Orçamento aprovado só em março.
“O reflexo nos mercados é a piora da percepção fiscal do País”, destaca o gestor da Kairós, em live da Ohmresearch, citando que o efeito maior tem sido no câmbio e nos juros futuros. “O real está extremamente desvalorizado em relação a outros emergentes, tem uma grande distorção em relação aos pares.”
“É crescente a percepção que o teto de gastos pode não ser cumprido”, disse o colaborador da Ohmresearch e ex-chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto do Banco Central, Sergio Goldenstein, na mesma live. “O risco de populismo fiscal subiu”, disse ele, citando que persiste a possibilidade de extensão do auxílio emergencial. “O panorama fiscal de curto prazo é bastante grave.”
O reflexo é a piora do câmbio e a maior inclinação da curva de juros. Há ainda, ressalta Goldenstein, a questão da vacinação, que está mais lenta no Brasil que outros mercados, outro ponto a incomodar os investidores.
No mercado internacional, o DXY, que mede o comportamento do dólar ante divisas fortes, voltou a operar nesta sexta acima dos 90 pontos, no maior nível desde 29 de dezembro. Os estrategistas do JPMorgan avaliam que o Congresso nas mãos dos democratas dá algum respiro para o dólar, após a divisa testar os menores valores no final de 2020 desde 2018. Ainda é cedo para falar se será o fim da tendência de enfraquecimento da moeda americana, destacam nesta sexta-feira, mas a perspectiva de maior crescimento econômico e inflação mais alta nos EUA pode levar a novo fortalecimento da moeda americana.