O dólar fechou nesta sexta-feira, 18, em alta e acima dos R$ 5,70, com os receios em torno da política fiscal do governo Lula se sobrepondo ao exterior, onde a moeda norte-americana cedia ante a maior parte das demais divisas na esteira de algumas notícias positivas da China.

O dólar à vista fechou o dia em alta de 0,71%, cotado a R$ 5,7004. Com isso, a divisa completou a terceira semana consecutiva de ganhos ante o real, com elevação acumulada de 1,51% nos últimos cinco dias. Veja cotações

Somente em outubro o dólar já subiu 25 centavos de real, acumulando alta de 4,61%.

Às 17h08, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,82%, a 5,7065 reais na venda.

O Ibovespa fechou com uma queda discreta nesta sexta-feira, com Petrobras entre as maiores pressões de baixa, acompanhando o declínio dos preços do petróleo no exterior, assim como Vale, que caiu na esteira do recuo do minério de ferro.

A alta nas taxas dos contratos de DI, conforme persistem receios com a cena fiscal no país, também minou o desempenho de ações na bolsa paulista, principalmente aquelas atreladas a consumo ou com níveis de endividamento elevados.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,22%, a 130.499,26 pontos, após marcar 131.724,66 pontos na máxima e 130.121,08 pontos na mínima da sessão. Na semana, porém, ainda assegurou um ganho de 0,39%.

O volume financeiro somou 22,1 bilhões de reais no pregão desta sexta-feira, marcado também pelo vencimento de opções sobre ações na bolsa paulista.

O dólar no dia

A moeda norte-americana oscilou no território positivo no Brasil durante praticamente todo o dia, a despeito do ambiente global mais favorável ao risco após alguns anúncios da China.

O país asiático informou que seu Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre subiu 0,9% ante os três meses anteriores e teve alta de 4,6% em relação ao terceiro trimestre de 2023. Economistas ouvidos pela Reuters projetavam elevações de 1,0% e 4,5%, respectivamente.

Já a produção industrial chinesa subiu 5,4% em setembro na comparação anual, ante 4,5% projetados, enquanto as vendas no varejo avançaram 3,2% no mês passado, ante 2,5% das projeções.

Para além dos números, o Banco do Povo da China solicitou às instituições financeiras que aumentem o apoio ao crédito para a economia real e deu início a duas iniciativas para injetar 112,38 bilhões de dólares em seu mercado de ações.

O noticiário da China, apesar de misto, fez o dólar ceder em relação às demais moedas fortes e ante a maior parte das divisas de emergentes, em um ambiente de busca por ativos de maior risco.

O Brasil era uma exceção. Por um lado, o real era penalizado por mais um dia de queda do minério de ferro e do petróleo — produtos importantes na pauta exportadora brasileira.

Por outro, a divisa brasileira foi novamente penalizada pelas preocupações quanto ao equilíbrio fiscal do governo Lula.

“O mercado está desacreditando das promessas do governo, que fala e não mostra nada de concreto na área fiscal. Assim, quando o dólar cai sempre aparecem compradores refazendo posições na moeda”, comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.

Essa desconfiança com a área fiscal fez o real ser uma das moedas mais enfraquecidas no mercado global nesta sexta-feira.

“O cenário local aqui (está) pesando desde cedo. Tanto que, ao menos durante boa parte da manhã, estávamos com o pior desempenho entre todas as moedas emergentes e ligadas a commodities”, comentou o diretor da assessoria de câmbio FB Capital, Fernando Bergallo.

“O mercado (está) ampliando seu ceticismo, de forma agora consistente, em relação à capacidade do governo em cortar gastos”, acrescentou.

Neste cenário, após registrar a cotação mínima de 5,6297 reais (-0,54%) às 9h01, logo após a abertura, o dólar à vista escalou até uma máxima de 5,7035 reais (+0,76%) às 16h39, pouco antes do fechamento.

O pessimismo com as contas públicas sustentou as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) e o dólar ante o real ainda que não tenham surgido nesta sexta-feira, na avaliação de profissionais ouvidos pela Reuters, notícias novas — nem positivas, nem negativas — no front fiscal.

Durante evento em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a dizer que o Brasil precisa crescer de forma sustentável. No mesmo evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou a abertura de crédito especial para pessoas prejudicadas pelo apagão em São Paulo.

No exterior, no fim da tarde o dólar seguia em queda ante as divisas fortes e ante a maioria das moedas de emergentes. Às 17h21, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,30%, a 103,470.

No fim da manhã o Banco Central vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.

O dia do Ibovespa

Na visão de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, parte da queda do Ibovespa refletiu preocupações com o crescimento da economia chinesa.

“Apesar de alguns indicadores da China terem vindo acima das expectativas… o mercado ainda está cético quanto ao potencial de recuperação sustentável do país, o que afeta diretamente setores como mineração e petróleo”, destacou.

Na China, o crescimento do PIB no terceiro trimestre desacelerou em relação ao segundo trimestre, para 4,6%, mas ficou um pouco acima da previsão de economistas 4,5%.

Dados sobre as vendas no varejo e a produção industrial na segunda maior economia do mundo em setembro também ficaram acima do esperado, enquanto o banco central deu início a esquemas para injetar 112 bilhões de dólares naquele mercado de ações.

Iarussi ainda citou a falta de clareza sobre a disposição do governo brasileiro em cortar despesas para conter o aumento do déficit público como outro componente negativo para a bolsa.

“Investidores estão à espera de ações efetivas do governo em relação ao controle dos gastos públicos antes de baixar a guarda”, pontuou.

DESTAQUES

– WEG ON recuou 1,78%, na segunda queda seguida em meio a movimentos de realização de lucros após renovar máxima histórica na quarta-feira, a 57,19 reais. No ano, os papéis ainda acumulam uma valorização de quase 55%.

– VALE ON cedeu 0,35%, após avançar mais de 1% na máxima nos primeiros negócios, sucumbindo à queda dos futuros do minério de ferro na Ásia.

– PETROBRAS PN fechou em queda de 0,27%, em meio ao declínio dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent caiu 1,87%. PETROBRAS ON perdeu 0,54%.

– CARREFOUR BRASIL ON caiu 4,25% e GPA ON perdeu 3,06%, afetados pelo movimento na curva de juros. ASSAÍ ON, por sua vez, subiu 0,42%, após reduzir pela metade sua projeção de abertura de lojas em 2025.

– MARFRIG ON avançou 5,97%, com analistas do Goldman Sachs recomendando a compra dos papéis. No setor MINERVA ON subiu 3,12%, BRF ON fechou em alta de 1,93% e JBS ON valorizou-se 0,29%.

– BRADESCO PN subiu 0,79%, em dia de desempenho misto entre os bancos do Ibovespa. ITAÚ UNIBANCO PN avançou 0,48% e SANTANDER BRASIL UNIT ganhou 0,35%, mas BANCO DO BRASIL ON fechou com decréscimo de 0,11% e BTG PACTUAL UNIT perdeu 0,18%.