O dólar opera em alta nesta segunda-feira (15), e chegou a bater a casa dos R$ 5,20. O foco dos investidores segue sobre o cenário externo, com os juros nos Estados Unidos e os conflitos no Oriente Médio no radar, mas a apresentação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025 mais tarde pode elevar a pressão sobre o câmbio.  

Na máxima do dia até agora, a cotação passou dos R$ 5,205, nível mais alto em seis meses. Às 14h53, o dólar subia 1,57%, a R$ 5,20. Veja a cotação do dólar hoje.

A moeda já vinha em alta pela manhã, mas ampliou a alta após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que que o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, que será encaminhado ao Congresso Nacional nesta tarde, preverá meta de déficit fiscal zero para o ano que vem – ou seja, os gastos do governo devem empatar com as receitas.

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Isso representa um afrouxamento na comparação com a previsão feita em 2024, de que o governo buscaria um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) – ou seja, as receitas deveriam superar os ganhos em 0,5% da soma do que é produzido pela economia do país.

Uma leitura de menos rigidez nos esforços para reequilibrar as contas públicas pode mexer com o mercado financeiro, com a curva de juros subindo, por exemplo – o que impacta também o câmbio. “Os investidores podem exigir um prêmio maior nos ativos domésticos devido à piora na trajetória fiscal doméstica, principalmente nas metas de superávit primário de 2025 e de 2026”, explica Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. 

Já o cenário inverso (ou seja, um anúncio sem surpresas) poderia ajudar a frear o avanço do dólar. “As expectativas sobre as diretrizes fiscais estão mais consolidadas. Apenas uma escolha por parte do poder executivo que destoe do comportamento adotado pelo Ministério da Fazenda até aqui teria condições de provocar a depreciação adicional do real”, comenta Argenta, da CM.

Olho também lá fora

No cenário externo, o primeiro ponto de atenção do mercado sobre o câmbio é o ataque do Irã a Israel, que envolveu mais de 300 mísseis e drones e foi a primeira investida contra Israel por outro país em mais de três décadas.

Márcio Riauba, analista de inteligência de mercado da Stonex, acredita que “seja possível sim atingir ou até mesmo romper o nível de taxa de R$ 5,20, em especial se houver o agravamento das tensões geopolíticas”.

O economista André Perfeito também acredita que é possível que a moeda bata R$ 5,20, mas acrescenta que, “apesar do stress de curto prazo, caso de fato não vire uma guerra generalizada, podemos ver o real voltar a se apreciar”. 

“Em relação às tensões geopolíticas, a ausência de notícias, que parece ter sido controlada por ora via diplomacia internacional, provocou uma descompressão sobre o câmbio”, comenta Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital. “Mas a qualquer atualização que aumente essa animosidade, mesmo que momentaneamente, tem potencial elevado de impacto sobre o dólar e pode levar a moeda norte-americana para patamares bem mais críticos”.

Pressão que já vinha de antes

O dólar já vinha subindo dias antes diante da quebra das expectativas por um corte de juros nos Estados Unidos já nas próximas reuniões do Federal Reserve (Fed), banco central do país. 

“O dólar está se fortalecendo contra diversas moedas emergentes, após os dados de inflação divulgados na semana passada (acima do esperado pelo mercado) gerarem pressão nos juros de mercado por lá”, lembra Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed. 

“Os dados econômicos de Payroll e CPI vieram acima do esperado nos EUA, e trouxeram uma expectativa tardia de redução de taxas de juros americana. A previsão seria de redução em Junho ou Julho que já se estende para Setembro ou Novembro de 2024”, complementa Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Invest.

Nesta segunda, o dólar ganhou mais força depois que dados mostraram alta bem mais intensa do que o esperado nas vendas no varejo dos Estados Unidos em março. O avanço foi de 0,7%. Economistas consultados pela Reuters previam avanço de 0,3%.

Os números puxaram uma nova onda de valorização dos juros dos títulos norte-americanos de longo prazo, os chamados Treasuries, referência global para investimentos. Eles saltaram nesta manhã para picos desde novembro do ano passado, segundo a agência Reuters.